"China: O Dragão Autoritário”

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por Simon Ben-David

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Texto #1

A Dificuldade em Criticar a China

Introdução à série "China: O Dragão Autoritário"

Para defender a democracia com convicção e compromisso, é fundamental conhecermos bem as ditaduras. Esta é a principal razão da existência do separador "Ditaduras" no nosso site. Nele, abordamos os grandes regimes autoritários contemporâneos, como a Rússia, a Coreia do Norte e o Irão. No entanto, até agora, faltava-nos uma análise sobre a China. Qual a razão para esta omissão? A resposta é simples: a extensão e a complexidade do tema.

Criticar a China como uma ditadura, é de facto, uma tarefa complexa, devido a uma série de fatores geoestratégicos, económicos, políticos e sociais e que estão profundamente interligados. Não basta limitarmo-nos a dizer que a China é uma ditadura "porque é comunista" ou recorrer a clichés simplistas que em nada contribuem para a compreensão da realidade do país. É o que ouvimos lamentavelmente a vários políticos e comentadores em Portugal. O leitor informado, tem as suas próprias ideias e exige uma análise cuidadosa, profunda e baseada em factos.

A China, por ser uma das maiores potências mundiais, tanto em termos populacionais como económicos, exerce uma enorme influência global. O seu modelo autoritário de governação é frequentemente disfarçado de estabilidade política e crescimento económico. No entanto, por trás desta fachada, encontram-se sistemas de repressão política, censura, controlo sobre a sociedade civil e graves violações dos direitos humanos, que merecem ser expostas e discutidas.

Além disso, a capacidade da China em projetar o seu poder económico pelo mundo torna ainda mais difícil que muitos governos e organizações internacionais façam críticas abertas ao regime, temendo repercussões económicas ou diplomáticas. Por isso, compreender a China como uma ditadura requer não apenas o reconhecimento da repressão interna, mas também uma análise sobre como o país maneja habilmente a sua influência para evitar críticas internacionais, e como silencia vozes dissidentes, tanto dentro como fora das suas fronteiras.

Esta série de artigos que agora começamos, pretende fazer precisamente ir além das narrativas superficiais e explorar os mecanismos que sustentam o regime chinês, as suas estratégias de controlo, repressão das minorias, como os Uigures e os Tibetanos, e o impacto global das suas políticas autoritárias. Criticar a China de forma justa e fundamentada é uma tarefa necessária, tanto para a defesa dos direitos humanos como para a promoção de um debate informado sobre o que significa viver sob um regime autoritário na era moderna.

Iniciamos com o este artigo, uma série longa, (nem sabemos na presente data, quantos artigos vai conter), onde desenvolveremos o Tema China: O Dragão Autoritário. Para não tornarmos os artigos demasiado pesados e extensos, chamaremos frequentemente o leitor a visitar outros artigos desta série. Assim, se tiver curiosidade em conhecer a China do ponto de vista da sua diversidade territorial, racial, linguística e cultural vá a
"China: O Dragão Autoritário" - A Caracterização do País Texto #2 Clique aqui →
ou continue.

O Regime Invisível: Como a Ditadura Chinesa se esconde e se mantém Intocável

Temos que reconhecer uma enorme habilidade da diplomacia chinesa e do governo chinês em escapar às críticas no Ocidente e no mundo, manejando todos as alavancas que possui no contexto global. Seguidamente estão alguns dos principais motivos que tornam a China “quase intocável”:

1. Poder Económico e Influência Global

  • A China é uma das maiores potências económicas do mundo, sendo o principal parceiro comercial de muitos países. Esta dependência económica faz com que governos e empresas evitem críticas diretas para não comprometer relações comerciais, acordos bilaterais ou investimentos.

  • A sua influência é especialmente forte em regiões como África, América Latina e até em partes da Europa, onde a China tem investido pesadamente em infraestruturas e projetos de desenvolvimento. Lembramos o que aconteceu no governo de Passos Coelho, que sob o pretexto da crise da troika vendeu à China importantes ativos portugueses.

2. Controle de Informação e Propaganda

  • O governo chinês exerce um controlo rígido sobre a informação que circula tanto dentro como fora do país. A censura dos meios de comunicação é severa e as plataformas digitais chinesas são fortemente monitorizadas, o que limita as críticas internas e a disseminação de informações críticas sobre o regime.

  • Além disso, a China investe em campanhas de propaganda a nível internacional, promovendo uma imagem de sucesso económico, estabilidade política e progresso social.

3. Repercussões Diplomáticas

  • Países ou líderes que criticam abertamente a China enfrentam frequentemente retaliação diplomática ou económica. Um exemplo disto é a tensão entre a China e a Austrália, que sofreu sanções económicas após criticar a gestão chinesa da pandemia de COVID-19 e exigir uma investigação internacional.

  • A China utiliza o seu peso diplomático em organismos internacionais para influenciar decisões e silenciar críticas em fóruns globais, como nas Nações Unidas.

4. "Soft Power" e Política Externa

  • A China tem desenvolvido uma estratégia de "soft power", promovendo intercâmbios culturais, investimentos em universidades, e oferecendo ajudas a países em desenvolvimento. Este tipo de diplomacia ajuda a suavizar a sua imagem e torna mais difícil para outros países fazerem críticas frontais.

  • Instituições como o Instituto Confúcio são exemplos de como o governo chinês usa a cultura para melhorar a sua imagem a nível global.

5. Medo de Repressão e Punição

  • Internamente, qualquer crítica ao governo pode levar a graves consequências, como prisão, censura, e até a morte ou outras formas de repressão, como se viu com ativistas, advogados de direitos humanos e jornalistas.

  • Mesmo no exterior, dissidentes e críticos chineses podem ser alvo de perseguição. Em muitos países, a diáspora chinesa é monitorizada, o que inibe críticas públicas contra o regime.

6. Relativismo Cultural

  • Muitos defensores da China argumentam que a sua abordagem política é diferente devido às suas especificidades culturais e históricas, e que conceitos como democracia e direitos humanos não se aplicam de forma universal. Este relativismo cultural é usado para justificar a falta de liberdades políticas e civis.

  • Existe também uma tendência, em algumas esferas intelectuais ou políticas, de valorizar o "modelo de sucesso" chinês como uma alternativa ao modelo ocidental, o que torna a crítica mais complexa.

7. Posição Geopolítica e Competição com o Ocidente

  • A China é vista como um contrapeso ao poder dos Estados Unidos e do Ocidente, o que leva alguns analistas e países a evitarem críticas duras, por receio de serem vistos como aliados incondicionais do ocidente ou de polarizarem ainda mais o sistema internacional.

  • A ascensão da China é frequentemente enquadrada como uma mudança natural na ordem mundial, com a crítica ao seu regime a ser vista, em alguns círculos, como uma resistência desnecessária a essa nova realidade.

Criticar a China como uma ditadura é difícil devido ao seu poder económico, à influência global, ao controle de informação e às repercussões diplomáticas. Adicionalmente, o medo de represálias internas e externas, combinado com uma estratégia de " soft power" e uma visão relativista dos seus valores políticos, torna a crítica ao regime chinês um tema sensível e complexo.

Como Causa Democrática não depende da China em nenhum aspeto., estamos livres para criticar este regime. Ainda assim somos apologistas de que só a crítica verdadeira e baseada em factos é que interessa aos nossos leitores. Para nós uma ditadura é sempre uma ditadura, quer tenha uma raiz ideológica, seja dita de esquerda ou direita, seja uma teocracia ou se apoie em militares.

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"China: O Dragão Autoritário" - Da Revolução Cultural ao Totalitarismo Moderno Texto #3 Clique aqui →