Propaganda no regime Nazi
por Simon Ben-David
Correlação com a extrema direita contemporânea
A história não se repete, mas traz-nos ensinamentos muito valiosos. Por isso vamos relembrar o que se passou na Alemanha Nazi. Um segundo artigo tratará da propaganda no Portugal contemporâneo.
O regime Nazi serve ainda hoje de modelo e inspiração à extrema direita global, apesar dos meios de divulgação que estão disponíveis nas sociedades contemporâneas, serem muito diferentes, mais evoluídos e poderosos dos existentes à disposição de Hitler e Goebbels.
O modo simplista de abordar a propaganda nazi, seria falar de Joseph Goebbels principal figura do Ministério da Propaganda que rapidamente conseguiu o controle absoluto da imprensa, da arte e da informação na Alemanha de Hitler.
Goebbels é lembrado como uma das figuras mais sombrias e sinistras do regime nazi, personificando o uso cínico e implacável da propaganda para manipular e controlar uma nação inteira. O seu trabalho é estudado em detalhes por historiadores, e cientistas políticos como um exemplo extremo de propaganda totalitária.
A sua capacidade de distorcer a realidade e incitar ódio através de meios de comunicação, demonstra o poder e o perigo da propaganda quando usada para fins autoritários e genocidas. Goebbels e a sua mulher suicidaram-se no bunker de Hitler, depois de terem assassinado os seus seis filhos com cianeto, o que mostra o seu fanatismo e loucura. Disse que sem Hitler e o nazismo a vida não merecia ser vivida.
Menos simples é falar de Leni Riefenstahl que é vista como uma das cineastas mais talentosas e inovadoras da sua época. Porém o documentário que realizou Triumph des Willens (O Triunfo da Vontade, 1934), sobre os comícios nazis em Nuremberga, é considerado como um meio de propaganda oficial do regime nazi, e uma peça central da história da propaganda de Hitler. Riefenstahl foi detida e investigada após a guerra devido à sua associação próxima do regime nazi e ao seu papel na produção de filmes que glorificavam Adolf Hitler e o Partido Nazi. Passou algum tempo sob custódia aliada e enfrentou vários processos de desnazificação na Alemanha, mas nunca foi formalmente condenada por qualquer crime. Após a guerra, Riefenstahl alegou repetidamente que não tinha conhecimento das atrocidades cometidas pelos nazis e distanciou-se do rótulo de "propagandista", afirmando que seu trabalho era puramente artístico. No entanto, as suas alegações foram e ainda são objeto de grande controvérsia e debate.
Foi acusada de usar prisioneiros nas suas filmagens, mas tais acusações nunca foram provadas em tribunal. No final do julgamento, sem se conseguir encontrar nenhuma imputabilidade no apoio de Leni aos nazis, o tribunal considerou-a apenas "simpatizante". Em entrevistas posteriores, Leni Riefenstahl insistiu que tinha sido fascinada pelos nazis, que era politicamente ingênua e ignorava os crimes cometidos na guerra, uma posição que vários críticos seus consideram ridícula.
Leni Riefenstahl: a importância da arte na propaganda
A obra de Riefenstahl exemplifica como a arte pode ser manipulada para servir objetivos políticos. A sua habilidade em criar imagens e narrativas visualmente impressionantes foi instrumental em reforçar a ideologia nazi. Através das suas técnicas cinematográficas, ela não apenas documentou eventos, mas transformou-os em espetáculos destinados a inspirar e persuadir as massas. O legado de Riefenstahl levanta questões importantes sobre a ética da arte e o papel do artista na sociedade, especialmente em contextos políticos complexos.
"Triunfo da Vontade": Este documentário retrata o Congresso do Partido Nazi de 1934 em Nuremberga e é considerado um dos filmes de propaganda mais eficazes de todos os tempos. Riefenstahl utilizou técnicas inovadoras de filmagem, como ângulos de câmara dinâmicos, planos de sequência longos e a sincronização da música com as imagens para criar uma narrativa visual poderosa que glorificava Hitler e o Partido Nazi. A estética do filme criou uma imagem de poder, unidade e invencibilidade do nazismo, impactando profundamente o público da época.
Correlação entre a propaganda nazi com a extrema direita contemporânea
A propaganda é uma ferramenta poderosa para moldar opiniões e comportamentos. A propaganda Nazi durante o regime de Adolf Hitler, têm semelhanças em termos de métodos, objetivos e temáticas, com a propaganda contemporânea da extrema-direita, embora o contexto histórico e social seja muito diferente.
Propaganda Nazi
Durante o regime Nazi na Alemanha (1933-1945), a propaganda foi usada de forma estratégica para consolidar o poder de Hitler e disseminar a ideologia do partido. Joseph Goebbels, ministro da propaganda, foi um dos principais arquitetos desta máquina de propagandística. As características principais incluíam:
1. Desumanização do inimigo: A propaganda Nazi desumanizou grupos específicos, como judeus, ciganos, comunistas e homossexuais, retratando-os como uma ameaça à sociedade. Isto facilitou a aceitação de políticas de perseguição e genocídio.
2. Culto da personalidade: Hitler foi glorificado como um líder infalível, um salvador da nação alemã. A sua imagem era omnipresente, desde filmes a cartazes e discursos.
3. Nacionalismo extremo: A propaganda exaltava a superioridade da "raça ariana" e promovia um nacionalismo agressivo que justificava a expansão territorial e a guerra.
4. Uso de meios de comunicação de massa: Filmes, rádio, imprensa e eventos públicos eram usados para alcançar a população em massa e controlar a narrativa política.
5. Mentiras repetidas: A ideia de que uma mentira repetida várias vezes acaba por ser aceite como verdade (atributo conhecido como a "grande mentira") era uma tática comum.
Propaganda da Extrema-Direita Contemporânea
A propaganda da extrema-direita atual, foi adaptada aos tempos modernos, mas partilha contudo algumas características da propaganda Nazi:
1. Desumanização e criação de inimigos: Imigrantes, minorias étnicas e religiosas, LGBTI+ e outros grupos são frequentemente apresentados como ameaças à cultura, segurança e economia dos países. Isto gera um clima de medo e divisão social.
2. Nacionalismo e identidade: Há um apelo forte ao nacionalismo, com ênfase na proteção da "identidade nacional" contra influências externas. Isto pode incluir desde a oposição à imigração até ao ressurgimento de narrativas históricas que exaltam a "grandeza" do passado.
3. Culto à personalidade de líderes carismáticos: Líderes da extrema-direita são muitas vezes apresentados como salvadores que vão "restaurar a ordem" ou "limpar o sistema da corrupção", sendo glorificados pelos seus seguidores.
4. Uso estratégico das redes sociais e internet: Ao contrário da propaganda Nazi, que dependia de meios de comunicação de massa tradicionais, a extrema-direita moderna utiliza amplamente as redes sociais, e plataformas online para disseminar a sua mensagem de forma rápida e viral, muitas vezes fora do controle da comunicação social convencional.
5. Desinformação e teorias da conspiração: A propagação de desinformação e teorias da conspiração é comum, com a repetição de ideias falsas para semear dúvidas e desconfiança nas instituições e nos processos democráticos.
6. Mentiras repetidas e Fake-News: Tal como passado ou até mais, a mentira repetida várias vezes acaba por ser aceite como verdade. Trump parece sofrer de mitomania, que é um comportamento em que a pessoa mente compulsivamente e começa a acreditar nas suas próprias mentiras, perdendo a capacidade de distinguir entre verdade e mentira. De uma forma geral, toda a extrema direita, não tem qualquer problema em utilizar a mentira como arma de propaganda. Tornou-se vulgar a disseminação das chamadas Fake News. A construção de vídeos falsos chegou a um ponto onde personagens verdadeiros, inseridos num ambiente real, parecem difundir mensagens que são totalmente falsas. ou pior ainda, onde apenas um pormenor de grande significado foi alterado. A dificuldade do eleitor comum em detetar a mentira pode ser extrema.
Diferenças de Contextos
A propaganda Nazi estava ancorada num regime totalitário que controlava todos os aspetos da vida pública e privada, como acontece presentemente na Coreia do Norte. A propaganda da extrema-direita moderna no chamado Ocidente Alargado, opera num contexto de democracia, onde as mensagens são disseminadas num ambiente de liberdade de expressão, havendo por agora contraditório. A propaganda é explorada para radicalizar e polarizar.
A propaganda moderna da extrema-direita muitas vezes finge respeitar a legalidade e o sistema democrático, ao mesmo tempo que mina esses mesmos valores por dentro.
Conclusão: A correlação entre a propaganda nazi e atual da extrema direita, reside nas estratégias de manipulação da opinião pública, na criação de inimigos comuns, na exaltação de líderes populistas e na divulgação de ideologias que prometem soluções simplistas para problemas complexos.
ECANDALOSO: Elon Musk publicou na rede X, de que é proprietário, um vídeo manipulado da campanha de Harris, no qual uma narração imitando-a a sua voz, chama "senil" ao presidente Joe Biden . Nunca aconteceu. Atingiu milhões com esta mentira.
O documentário O Triunfo da Vontade, projeta o antagonismo entre o horror de uma doutrina e a essência da arte cinematográfica. Como é que se conjugam a propaganda e a arte, a ideologia e a câmara, o horror e a beleza?
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