Chega herdeiro da propaganda do Estado Novo?

por Simon Ben-David

Sinopse:

No seguinte texto analisa-se e compara-se a propaganda política do Chega com a do regime de Salazar durante o Estado Novo, destacando semelhanças e diferenças. No Estado Novo, a propaganda foi uma ferramenta crucial de controlo social, promovendo Salazar e valores conservadores através de meios como a imprensa, rádio e cinema, acompanhada de forte censura para eliminar opiniões contrárias. Em contraste, o Chega opera num contexto democrático, utilizando redes sociais e marketing digital para disseminar mensagens polarizadoras e emocionais, focando-se em André Ventura como o novo “Salvador da Pátria”. Embora existam diferenças nos contextos e métodos de propaganda, a análise revela pontos de contacto entre as narrativas de Salazar e Ventura.

Desenvolvimento:

O que queremos dizer com o título deste artigo? Simples, a ditadura de Salazar teve uma habilidade indiscutível para conduzir a sua propaganda. O Chega foi o partido que melhor se adaptou, à conjuntura atual no que diz respeito à propaganda política. Será que herdou a habilidade do Estado Novo? Para analisar a razão deste facto temos que entender o que foi a propaganda política durante o período da ditadura de Salazar e Caetano, bem como aquela que o Chega apresenta numa conjuntura tão distinta, para verificar se existem ou não pontos de contato.

Durante o Estado Novo, a propaganda foi um dos pilares fundamentais do regime de Salazar, servindo como um instrumento de controlo social e de manipulação das massas. Através de uma máquina propagandística bem oleada, o governo ditatorial conseguiu criar e perpetuar uma imagem idealizada de si próprio, ocultando as suas falhas e promovendo uma visão do país alinhada com os seus valores conservadores, autoritários e nacionalistas.

Propaganda no Estado Novo: A Máquina ao Serviço da Ditadura

A propaganda do Estado Novo era omnipresente e servia vários propósitos: enaltecer Salazar como o salvador da pátria, promover o espírito de sacrifício e obediência, e reforçar os valores tradicionais como a família, a religião e a pátria. Esta máquina propagandística utilizava múltiplos meios, desde a imprensa, a rádio e o cinema, até aos cartazes e aos livros escolares. A censura desempenhava um papel essencial, controlando rigorosamente o que podia ser dito ou publicado, de forma a eliminar qualquer crítica ao regime e a criar uma realidade paralela, onde a ditadura aparecia como a guardiã do bem-estar nacional.

Um dos aspetos mais notórios da propaganda salazarista foi a criação de uma imagem de Portugal como uma nação humilde, mas moralmente superior, em oposição ao caos e à corrupção do resto do mundo. A ideologia do “orgulhosamente sós” sustentava-se na ideia de que Portugal estava acima das influências externas negativas, promovendo a autossuficiência e o tradicionalismo.

O Chega: Adaptação e Mestria na Propaganda Política

Embora o Chega não tenha o poder absoluto nem os instrumentos repressivos de Salazar, como a censura ou a PIDE, tornou-se o partido mais eficaz na utilização das ferramentas de propaganda na era digital. O partido tem dominado o uso das redes sociais, produz discursos inflamados e táticas de marketing político que maximizam o seu alcance e impacto junto de um eleitorado desiludido e frustrado com o sistema político tradicional.

Uma das estratégias mais evidentes é a personalização do discurso em torno do líder, André Ventura, que, tal como Salazar, se apresenta como um salvador da pátria, disposto a romper com o status quo para salvar o país da corrupção e do “sistema”. As mensagens são simples, polarizadoras e carregadas de emoção, projetadas para gerar reações rápidas e fortes, frequentemente acompanhadas de ataques diretos aos adversários políticos e às instituições democráticas.

O Chega explora ainda o sentimento de crise e insegurança, prometendo soluções fáceis para problemas complexos, como a criminalidade, a imigração e a corrupção, e usando estas narrativas para criar uma sensação de urgência e necessidade de mudança radical.

Pontos de Contacto e Diferenças

Há, sem dúvida, semelhanças na forma como ambos os regimes, separados por décadas, utilizam a propaganda para capturar e manter o apoio popular. Tal como o Estado Novo, o Chega constrói a sua narrativa em torno de um inimigo comum, (na época, eram os comunistas, os liberais e os estrangeiros), hoje são os “políticos corruptos”, as “elites” e os “imigrantes”. Ambos apostam numa retórica de crise e salvação, onde o líder aparece como o único capaz de resgatar a nação.

No entanto, há também diferenças significativas. O Chega opera numa democracia onde existem, pelo menos formalmente, liberdade de imprensa e pluralismo político. A sua propaganda, portanto, não é sustentada pela censura oficial, mas sim por uma estratégia habilidosa de manipulação das emoções, da desinformação e do marketing político digital.

A propaganda no Estado Novo

  1. Origem e Características da Propaganda do Estado Novo:


  1. António de Oliveira Salazar:

Salazar foi a figura central na criação e controle do aparato propagandístico do Estado Novo. Ele entendia a propaganda não apenas como um meio de divulgar a ideologia do regime, mas também como um método de construir uma imagem pessoal de liderança paternalista, austera e incorruptível. Salazar controlava rigidamente a comunicação e utilizava a propaganda para perpetuar a ideia de um Portugal tradicional, religioso e hierarquicamente ordenado.

  1. Mecanismos e Estruturas de Propaganda

3.1. O Secretariado de Propaganda Nacional (SPN)

Fundado em 1933 e posteriormente renomeado como Secretariado Nacional de Informação (SNI), o SPN era o principal órgão responsável pela propaganda do regime. Sob a liderança de António Ferro, o SPN controlava a imprensa, cinema, rádio e, mais tarde, a televisão, promovendo uma imagem positiva do regime e censurando conteúdos contrários aos interesses do Estado. A instituição especializou-se em criar eventos, publicações e campanhas que glorificavam a figura de Salazar e os valores do regime.
António Ferro, foi a figura central da propaganda do regime do Estado Novo, no seu papel como diretor do SPN/SNI, apoiou diversas obras e artistas que contribuíram para a promoção dos valores do Estado Novo. Fomentou a criação de uma identidade cultural nacionalista que, embora permitisse alguma inovação estética. Conseguiu atrair figuras importantes, como escritores, pintores, e cineastas, que se tornaram, em alguns casos, defensores indiretos da ideologia salazarista. Ferro utilizava um discurso que exaltava a tradição, o nacionalismo e a "ordem", ao mesmo tempo que oferecia espaço e apoio para a expressão artística dentro dos limites aceitáveis pelo regime.
António Ferro, através do SPN/SNI, conseguiu criar uma rede de apoio que oferecia oportunidades aos artistas, desde que estes contribuíssem para a construção de uma narrativa que exaltasse os valores do Estado Novo. Assim, a sua ação moldou significativamente o panorama cultural de Portugal durante a ditadura.
No entanto, é importante notar que nem todos os artistas e intelectuais se deixaram seduzir por essa oferta; e muitos resistiram, foram censurados ou optaram pelo exílio. O impacto de António Ferro no panorama cultural português é, portanto, ambíguo, pois ele também contribuiu para o controle e a censura que marcaram o período do Estado Novo.

3.2. A Educação ao Serviço da Propaganda
A educação foi instrumentalizada como um meio de inculcar os valores do Estado Novo nas gerações mais jovens. O currículo escolar era rigidamente controlado para reforçar os princípios nacionalistas e religiosos do regime, com um foco especial na obediência à autoridade, na exaltação do passado glorioso de Portugal e na condenação do comunismo e do liberalismo.
3.3. A Divulgação do Regime no Estrangeiro
Para além da propaganda interna, o Estado Novo também desenvolveu estratégias de divulgação externa, visando melhorar a imagem de Portugal no estrangeiro. Eventos internacionais, exposições e a participação de Portugal em feiras e competições desportivas eram usados para projetar uma imagem de modernidade e estabilidade, em contraste com as críticas sobre a repressão interna.
3.4. A Imprensa
A imprensa escrita foi uma das primeiras áreas a serem controladas pelo regime. A censura era aplicada rigorosamente para impedir a circulação de ideias contrárias ao governo e para garantir que as notícias reforçassem a narrativa oficial. Jornais e revistas eram utilizados como veículos para promover a ideologia do Estado Novo e para atacar os inimigos do regime.
3.5. A Rádio
A rádio era um dos meios mais eficazes de propaganda devido ao seu amplo alcance. Programas de rádio eram cuidadosamente controlados para divulgar os discursos de Salazar, promover a ideologia do regime e censurar qualquer conteúdo que pudesse incitar oposição. A rádio ajudava a construir um senso de unidade nacional e de conformidade com os valores do Estado Novo. Com o lema “Uma Voz ao Serviço da Nação”, a Emissora Nacional foi fundada em 1935, e criada com o objetivo de ser o principal meio de comunicação do regime, que utilizava a rádio como uma ferramenta eficaz para chegar à população, que à data possuía uma taxa de alfabetização muito baixa.
3.6. O Cinema
O cinema foi utilizado como um meio de entretenimento e propaganda. Filmes e documentários encomendados pelo regime retratavam Portugal como um país unido e próspero sob a liderança de Salazar. A indústria cinematográfica era fortemente supervisionada para garantir que o conteúdo estivesse alinhado com a ideologia do Estado Novo.
3.7. A Televisão
Com a chegada da televisão, o regime encontrou um novo e poderoso meio de propaganda. A televisão era utilizada para transmitir conteúdos que reforçavam a narrativa do regime, com ênfase em eventos oficiais, celebrações patrióticas e programas que glorificavam a história e a cultura portuguesa segundo a visão do Estado Novo.

  1. O Revés do Aparelho Propagandístico do Estado:

O aparelho propagandístico, começou a encarar dificuldades, especialmente durante o período pós-Segunda Guerra Mundial, quando as ideias democráticas e os movimentos de libertação começaram a ganhar força. A propaganda do Estado Novo teve que se adaptar a um contexto internacional cada vez mais hostil ao autoritarismo, mas mesmo assim continuou a operar com eficácia, até o fim do regime.

  1. Marcelo Caetano

Com a sucessão de Salazar por Marcelo Caetano, houve algumas mudanças no estilo da propaganda, mas os mecanismos de controle da informação e de manipulação ideológica continuaram a desempenhar um papel crucial na tentativa de manter o regime. Caetano procurou modernizar a imagem do Estado Novo, mas sem abandonar os princípios fundamentais da propaganda salazarista

Propaganda contemporânea da Extrema Direita em Portugal

Nos últimos anos, tem-se observado um aumento na presença de partidos de extrema direita em Portugal, com o Chega, que surgiu em 2019 a rapidamente ganhar destaque. A propaganda da extrema direita em Portugal segue muitas das táticas utilizadas por movimentos semelhantes noutras partes da Europa e do mundo.

  1. Narrativas Nacionalistas e Anti-Imigração: A extrema direita em Portugal frequentemente utiliza mensagens nacionalistas e de proteção da "identidade nacional". Este tipo de propaganda tende a enfatizar a soberania nacional, opor-se à imigração, e promover uma visão mais conservadora da cultura e dos valores portugueses.

  2. Críticas ao Sistema e aos Políticos Tradicionais: A propaganda da extrema direita tende a apresentar-se como uma alternativa ao "sistema corrupto", criticando os partidos políticos tradicionais e promovendo uma visão de que são os verdadeiros defensores dos interesses do povo.

  3. Utilização das Redes Sociais: As redes sociais têm sido uma plataforma fundamental para a propaganda da extrema direita. Estes grupos usam estratégias agressivas de marketing digital, incluindo memes, vídeos virais, e mensagens polarizadoras, que se espalham rapidamente e capturam a atenção, especialmente dos mais jovens.

  4. Enquadramento de Medos e Inseguranças: A propaganda da extrema direita muitas vezes explora medos relacionados com a segurança, criminalidade, e mudanças sociais, usando uma retórica alarmista para mobilizar apoio e atrair eleitores descontentes com a situação atual.

  5. Desinformação e Fake News: A disseminação de informações falsas ou manipuladas também é uma tática comum. Estas narrativas são frequentemente utilizadas para desacreditar opositores políticos, espalhar teorias da conspiração, ou alimentar divisões sociais.

Apesar da sua crescente visibilidade, a extrema direita em Portugal ainda enfrenta uma forte resistência da maioria do espectro político e da sociedade civil, que se mantém firme na defesa dos valores democráticos e dos direitos humanos. No entanto, o seu crescimento sublinha uma mudança no panorama político português e o desafio contínuo de combater a desinformação e o extremismo através de uma educação política e cívica robusta.


A Propaganda do Chega

Em Portugal, o Chega e André Ventura, que se confundem intencionalmente, praticam uma estratégia de comunicação e propaganda, que inclui várias táticas específicas, que destacamos a seguir:

1. Utilização das Redes Sociais

  • Presença Forte nas Redes Sociais: O Chega utiliza plataformas como Facebook, Twitter, Instagram, TikTok e YouTube para divulgar as suas mensagens, com conteúdos que apelam à emoção e que frequentemente geram polémica.

  • Mensagens Diretas e Simplificadas: As publicações são geralmente diretas e simplificadas, focando-se em temas de fácil apreensão pelo eleitorado, como a segurança, a imigração, e críticas à classe política.

2. Temas Recorrentes

  • Segurança e Criminalidade: Uma parte significativa da propaganda está focada em aumentar a perceção de insegurança e criminalidade, propondo soluções rígidas como penas mais severas e um sistema judicial mais punitivo. O Chega apoia as corporações de polícia em todo e qualquer tema, desde as reivindicações salariais e das condições laborais, à melhoria das esquadras e instalações dos polícias, e em qualquer caso em que haja suspeitas de mau comportamento ou atitude errada dos polícias perante os cidadãos. "Polícias primeiro", seria o modo de descrever a atitude do Chega em duas palavras.

  • Crítica à Corrupção e à Classe Política: O Chega posiciona-se como um partido anti-establishment, criticando frequentemente os partidos tradicionais e acusando-os de corrupção e incompetência.

  • Imigração e Identidade Nacional: O partido usa uma retórica nacionalista, muitas vezes com críticas à imigração, defendendo políticas de restrição e controlo mais apertados. Pior: acusa os ciganos portugueses, que estão presentes em Portugal desde sempre, como sendo perigosos malfeitores e responsáveis por desmandos e variados crimes. A ideia que tente passar e:

  • Os Ciganos Não são imigrantes, mas são ainda piores, esta é a ideia de Ventura, que acusa os elementos da comunidade cigana de vivem à margem da sociedade, não cumprem as leis, e beneficiam de subsídios sociais sem contribuir de forma justa. promovendo um discursos de ódio e discriminação, que não podem deixar de ser considerados xenófobos.

3. Retórica Provocadora e Populista

  • Linguagem Provocadora: André Ventura, o líder do partido, é conhecido por usar uma linguagem direta e, por vezes, provocadora, ou mesmo ordinária, o que infelizmente atrai atenção mediática, sedenta de alcançar audiências mesmo que seja à custa destas atitudes baixas e negativas. Isso é utilizado como uma forma de manter o partido na agenda pública.

  • Aposta na Polarização: O Chega aposta na divisão da sociedade entre “o povo” e “a elite”, pintando-se como o único partido que defende os interesses dos cidadãos comuns contra a elite política.

4. Eventos Públicos e Comícios

  • Comícios e Eventos de Grande Visibilidade: O Chega tenta organizar comícios e eventos que são fortemente divulgados nas redes sociais. Estes eventos servem não só para mobilizar os seus apoiantes, mas também para criar conteúdo que é depois amplamente disseminado online. Não hesita em utilizar diversas classes profissionais, (por exemplo os polícias), para dar corpo às suas manifestações. Frequentemente utiliza os seus "proxies", para fazer parecer que não se trata de miniestações de "marca Chega", mas sim de diversas classes laborais. Julga o Chega que este processo trás credibilidade às manifestações.

5. Uso de Imprensa e Polémicas

  • Aproveitamento de Polémicas: Ventura e outros membros do partido frequentemente envolvem-se em polémicas, o que é usado estrategicamente para manter o partido nas manchetes e reforçar a imagem de “desafiante do sistema”.

  • Atitude de Confronto com a Imprensa: A relação do Chega com a imprensa é tensa e muitas vezes polémica, utilizando acusações de parcialidade dos meios de comunicação como uma ferramenta para reforçar a narrativa de perseguição.

6. Campanhas Eleitorais

  • Marketing Digital Intenso: Durante campanhas eleitorais, o Chega investe significativamente em publicidade paga, direta ou indiretamente, nas redes sociais, com mensagens direcionadas a públicos específicos baseados em dados demográficos e de interesses.

  • Uso de Slogans Simples e Memorizáveis: O partido utiliza slogans que são fáceis de memorizar e que capturam a essência da sua mensagem populista, como “Pagamos tantos impostos para sustentar a corrupção!”.

André Ventura e Chega: Estratégias de Comunicação nas Redes Sociais
A
s redes sociais foram feitas para pessoas, não para organizações. Isto significa que comunicar diretamente como indivíduo é muito mais eficaz e impactante do que tentar transmitir mensagens em nome de uma organização partidária. A comunicação institucional de um partido tende a ser mais formal e impessoal, enquanto a comunicação feita na primeira pessoa, diretamente por um líder ou candidato, pode ser ajustada para criar uma imagem mais próxima, autêntica e envolvente, captando melhor a atenção do público-alvo. André Ventura sabe disto e destaca-se nas redes sociais por entender a linguagem das plataformas e capitalizar a sua imagem de forma estratégica. Está particularmente ativo no TikTok, onde publica vídeos encenados e teatrais, como um em que se amarrou com cordas para representar as “amarras do socialismo,” antes de as quebrar e convidar os espectadores a juntarem-se ao Chega. Esta abordagem teatral resulta bem para o seu público e faz parte de uma narrativa populista e simples que o partido utiliza para mobilizar apoios.
Nas redes sociais, Ventura é o líder político com mais interações, especialmente no TikTok. Também lidera no X (antigo Twitter). No Instagram, Ventura tem um número que supera em muito os outros líderes partidários, refletindo a sua capacidade de atrair a atenção nas plataformas.
Ventura usa uma comunicação que se diferencia dos partidos tradicionais. A sua abordagem direta e emocional faz com que os seus apoiantes, que podemos classificar como “militantes digitais”, partilhem os seus conteúdos facilmente, pois identificam-se fortemente com a causa e com a liderança. Esta narrativa é sustentada pela simplicidade e pelo protesto, o que facilita a mobilização de seguidores, já que há sempre alguma razão de queixa para explorar.

Desinformação e Controvérsias
Ventura e o Chega também têm sido associados a controvérsias de desinformação. Um exemplo disso foi o caso de alegados tiros à comitiva do Chega durante a companha das eleições legislativas, em Famalicão, rapidamente desmentido pela PSP, que revelou tratar-se de “som de escape” de uma mota da comitiva. Apesar da correção, o post original de Ventura já tinha atingido mais de um milhão de visualizações, mostrando como a viralidade pode superar a veracidade.
Além disso, Ventura protagonizou situações contraditórias, como a publicação de um vídeo no TikTok criticando a caça à multa pelas polícias, que obteve milhares de visualizações e interações, contrariando o seu discurso habitual de defesa das forças de segurança. Vale tudo mesmo fazer uma afirmação e o seu contrário.

A Persona de Ventura e a Identidade do Chega
O Chega é um “caso de estudo” na comunicação política digital, onde o partido e Ventura se fundem-se numa única identidade. Ventura domina as redes sociais com uma narrativa que vai ao encontro do descontentamento dos seus seguidores. Contudo, esta abordagem comporta também riscos tremendos, pois a dependência da imagem do líder faz com que o partido seja altamente vulnerável a mudanças na sua liderança, ou na imagem de Ventura, que em caso de se tornar-se negativa, arrastará o Chega para esta posição.

Conclusão:

Ao comparar o Chega com a propaganda do Estado Novo, concluímos que, apesar das diferenças contextuais, dos meios utilizados e da distância temporal há uma linha de continuidade na forma como ambos exploram as fragilidades da sociedade para conquistar apoios. O Chega não é, nem poderia ser, uma réplica da União Nacional. Porém a sua habilidade em capturar o espírito dos tempos e em moldar a narrativa política, é um reflexo moderno de uma tradição propagandística de extrema direita, que nunca desapareceu totalmente do panorama político português, e que atualmente foi fortemente reavivada.

A Exposição do Mundo Português foi o expoente máximo da propaganda Salazarista inaugurada em 1940

Para avançarmos na análise comparativa proposta, é essencial entender como Salazar concebeu a propaganda do Estado Novo, que foi meticulosamente planeada para sustentar o regime. Salazar e os seus sucessores usaram diversos meios de comunicação para moldar a opinião pública, promover a ideologia do regime e suprimir a oposição. A propaganda não só garantiu o controlo, mas também construiu uma narrativa de legitimidade e estabilidade que manteve o regime por mais de quatro décadas.

Começoua ser estruturado nos anos 30, logo após a ascensão de Salazar ao poder. O regime usou a propaganda para promover valores nacionalistas, católicos e integralistas, misturando ideologias conservadoras com elementos de regimes totalitários da Europa, como o fascismo italiano e o nacional-socialismo alemão. A propaganda era vista como uma ferramenta fundamental para garantir a estabilidade política e ideológica do Estado Novo.

Propaganda Salazarista - não oficial
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