"China: O Dragão Autoritário”

blue and white striped round textile
blue and white striped round textile

por Simon Ben-David

★★★★★

Texto #6

A Nova Rota da Seda (BRI)

Cinturão Económico da Rota da Seda (Rota Terrestre):

  • Ásia Central e Europa: Esta rota terrestre estende-se do oeste da China, através da Ásia Central, chegando à Europa. O percurso inclui países como Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão, Rússia e Polónia, conectando-se depois à Europa Ocidental.

  • Infraestrutura ferroviária e rodoviária: Através do desenvolvimento de vias férreas, estradas, oleodutos e gasodutos, o objetivo é facilitar o transporte de mercadorias e recursos energéticos, ao mesmo tempo que amplia as ligações comerciais com a Europa.

  • Nodos principais: A cidade de Duisburgo, na Alemanha, tornou-se um importante destino ferroviário, funcionando como um centro de redistribuição para a Europa ocidental.

Rota Marítima do Século XXI (Rota Marítima da Seda):

  • Conexão da Ásia com o Oceano Índico e Mediterrâneo: Esta rota marítima parte da costa leste da China, atravessa o Mar do Sul da China e passa pelo Oceano Índico, através do estreito de Malaca, chegando a África Oriental e ao Mar Mediterrâneo.

  • Portos estratégicos: Inclui investimentos significativos em portos como Colombo (Sri Lanka), Gwadar (Paquistão), Chittagong (Bangladesh), Mombaça (Quénia), Pireu (Grécia) e Hambantota (Sri Lanka). Estes portos funcionam como pontos de transbordo para a distribuição de mercadorias, ligando o leste e o oeste.

  • Expansão na África e Europa: Em África, a China utiliza portos e infraestruturas para consolidar a sua influência comercial e financeira, com destaque para Djibouti e Quénia. Na Europa, o porto de Pireu é um exemplo de um ponto de entrada estratégico para o mercado europeu.

Ramificações Secundárias:

  • Corredor China-Paquistão (CPEC): Este corredor conecta a cidade chinesa de Kashgar ao porto paquistanês de Gwadar, no Mar da Arábia, visando facilitar o acesso chinês ao Oceano Índico e reduzir a dependência do Estreito de Malaca.

  • Corredor Bangladesh-China-Índia-Myanmar (BCIM): Uma rota terrestre para o sul da Ásia que atravessa Bangladesh, Mianmar e a Índia, promovendo a integração económica regional.

  • Expansão em África e América Latina: Além das rotas principais, a China tem investido em ligações de transporte e energia na África e América Latina, reforçando a presença chinesa em mercados emergentes e em locais estratégicos para recursos naturais. europeu.

Mostramos a abrir artigo as rotas para que fique desde já com a ideia da extensão e ambição do projeto

É uma ambiciosa iniciativa de integração económica e geopolítica que enfrenta a oposição dos Estados Unidos, receosos de perder a sua hegemonia. O projeto visa reforçar o papel central da China nos fluxos regionais, criando uma rede de infraestruturas e acordos comerciais que ligam a Ásia, a Europa e a África. A China busca não só expandir a sua influência económica, mas também garantir segurança energética, alimentar e militar, além de internacionalizar as suas empresas. No entanto, o projeto enfrenta desafios significativos, incluindo tensões com os EUA, desestabilização política em regiões-chave, movimentos separatistas e a concorrência da Índia. A iniciativa também expande a presença chinesa em África, consolidando a sua posição como parceiro estratégico. Em última análise, a Nova Rota da Seda é um reflexo das mudanças geopolíticas e económicas globais, com a China a emergir como um novo epicentro de poder, apesar das incertezas e conflitos que esta transição traz.

A Nova  Rota da Seda  (ou Belt and Road Initiative – BRI) foi lançada em 2013 pelo presidente chinês Xi Jinping.

Ligação da BRI com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU

A Iniciativa Belt and Road (BRI) tem-se afirmado como um dos projetos mais ambiciosos de cooperação internacional, envolvendo atualmente mais de 140 países. Com um foco em infraestruturas e conectividade, a BRI surge não apenas como uma ferramenta de desenvolvimento económico, mas também como um veículo que potencialmente apoia a Agenda 2030 das Nações Unidas e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Mas como é que a BRI, com os seus objetivos globais, se alinha com os princípios da sustentabilidade e com as metas da ONU para um desenvolvimento inclusivo e ambientalmente consciente? 

1. A Estrutura e os Objetivos da Iniciativa Belt and Road

A BRI é composta por cinco pilares fundamentais que orientam as suas ações:

  • conectividade de infraestruturas,

  • coordenação de políticas,

  • comércio desimpedido,

  • cooperação financeira e

  • laços entre povos.


Estes cinco elementos formam a espinha dorsal da iniciativa, criando redes de infraestruturas, incentivando o comércio internacional, fomentando o investimento e facilitando os intercâmbios culturais e sociais. A premissa subjacente é que uma maior interligação entre países fortalece as bases de um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável.

2. Sinergias com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

O relatório sobre a BRI e a Agenda 2030 sublinha que os cinco pilares da BRI estão alinhados com vários dos ODS, oferecendo sinergias práticas. Por exemplo:

  • Erradicação da Pobreza (ODS 1) e Fome Zero (ODS 2): Ao criar empregos locais e fomentar infraestruturas que apoiem a produção agrícola, a BRI ajuda a melhorar as condições de vida em regiões subdesenvolvidas.

  • Infraestruturas Sustentáveis (ODS 9): Através de projetos de construção, como estradas e ferrovias, a BRI promove a inovação e a industrialização, potenciando economias locais e regionais.

  • Igualdade de Género (ODS 5) e Trabalho Digno e Crescimento Económico (ODS 8): A inclusão de mulheres em programas de formação e emprego ligados à BRI reforça a importância de uma participação igualitária e de condições de trabalho seguras e dignas.

Essas sinergias apontam para uma integração dos ODS na estrutura da BRI, criando uma base que não apenas atende às necessidades de desenvolvimento económico, mas também visa garantir que os avanços sejam sustentáveis e inclusivos.

3. A Economia Digital e a Rota da Seda Digital

Reconhecendo a importância crescente da tecnologia digital, a BRI lançou a chamada Rota da Seda Digital, uma componente focada no desenvolvimento de infraestruturas digitais e no comércio eletrónico. Através desta rota, a BRI visa reduzir as disparidades digitais e permitir que os países parceiros acedam a tecnologias que impulsionem a inovação e o crescimento económico. Este esforço inclui a criação de plataformas de comércio eletrónico e o estabelecimento de infraestruturas digitais modernas, que são fundamentais para a competitividade das economias emergentes.

4. Desenvolvimento Sustentável: Uma Nova Perspetiva Verde

No contexto da crise climática, a BRI tem vindo a integrar o conceito de desenvolvimento verde nas suas ações. Através da implementação de infraestruturas “verdes” e de soluções energéticas renováveis, a BRI compromete-se a reduzir o impacto ambiental dos seus projetos. Um exemplo relevante é a promoção de financiamento verde e a introdução de rigorosas avaliações ambientais para novos empreendimentos. Esta abordagem verde visa responder às necessidades urgentes de proteção ambiental e desenvolvimento sustentável, que estão intrinsecamente ligadas aos ODS.

Conclusão: Um Caminho Promissor, mas com Desafios

Apesar dos avanços e do potencial da BRI para apoiar a Agenda 2030, há desafios a enfrentar. Para que a BRI realmente se alinhe aos ODS, será crucial que os projetos continuem a adotar padrões de transparência, boas práticas ambientais e mecanismos de supervisão financeira. Só assim a BRI poderá consolidar-se como uma força global não apenas para o desenvolvimento económico, mas também para a construção de um futuro mais sustentável e justo para todos.

A Iniciativa Belt and Road representa uma visão ambiciosa e multifacetada, que transcende as fronteiras da economia para abordar questões sociais e ambientais globais. Com um compromisso renovado para com o desenvolvimento sustentável e o alinhamento com os ODS, a BRI tem o potencial de se tornar um elemento central na construção de um futuro onde o desenvolvimento é mais inclusivo, verde e conectado

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU

A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adotada por todos os Estados-Membros das Nações Unidas em 2015, define as prioridades e aspirações do desenvolvimento sustentável global para 2030 e procura mobilizar esforços globais à volta de um conjunto de objetivos e metas comuns.

São 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que representam um apelo urgente à ação de todos os países – desenvolvidos e em desenvolvimento – para uma parceria global.

A China ao lançar a ambiciosa iniciativa da Nova Rota da Seda, projeto que procura expandir as suas influências económicas e comerciais, naturalmente preocupou os Estados Unidos, temendo o avanço da China na cena global. Através deste projeto, a China parece estar a liderar uma nova fase de globalização regional, reconstituindo o que outrora foi um sistema sinocêntrico ao posicionar-se no centro das redes comerciais regionais. Este processo envolve não só a cooperação no Pacífico, com a ASEAN +3 e ASEAN +6, como também na Eurásia, através da Organização para a Cooperação de Xangai (OCX).

A iniciativa chinesa cumpre diversos objetivos estratégicos, tanto internos quanto externos. Em primeiro lugar, ao impulsionar a procura externa, a China consegue aproveitar a capacidade excedentária da sua indústria. Em segundo lugar, ao expandir a sua influência económica, a China assegura maior segurança em termos de abastecimento de alimentos, energia e matérias-primas, além de abrir rotas alternativas para evitar a dependência do Estreito de Malaca, uma via crucial mas vulnerável a intervenções estrangeiras. Em terceiro lugar, a expansão chinesa cria oportunidades para a internacionalização das suas empresas e para o fortalecimento de sectores estratégicos, como a engenharia, o que reforça o papel da China nas redes comerciais regionais e a sua posição de liderança no mercado asiático.

Outro ponto relevante é a importância da estabilização política das áreas vizinhas, algo essencial para que a China se mantenha como centro financeiro regional, bem como para aumentar a utilização internacional do renminbi (RMB).
O renminbi (RMB) é a moeda oficial da China e, traduzido do mandarim, significa literalmente "moeda do povo". A unidade básica do renminbi é o yuan (¥), que é a denominação mais comum utilizada no dia a dia e nas transações internacionais.
Distinção entre Yuan e Renminbi:

  • Renminbi é o nome oficial da moeda chinesa e refere-se ao sistema monetário do país como um todo.

  • Yuan é a unidade de conta do renminbi, usada para indicar quantias específicas.

Contexto Internacional do Renminbi
Nas últimas décadas, o renminbi tem ganhado importância internacional, com a China a promover o seu uso em transações comerciais e financeiras globais. Desde 2016, o renminbi é uma das moedas de reserva do Fundo Monetário Internacional (FMI), ao lado do dólar americano, euro, libra esterlina e iene japonês. Este reconhecimento como moeda de reserva sublinha a crescente influência económica da China no cenário mundial.


No entanto, este projeto de integração enfrenta sérios desafios. A atual transição no sistema global, com os Estados Unidos a tentarem preservar a sua hegemonia, gera tensões e conflitos em diversos níveis. A rivalidade entre China e Estados Unidos é, assim, um dos principais fatores de instabilidade para a Nova Rota da Seda, agravada pelas divisões internas e conflitos em países da região. Estes problemas incluem a instabilidade política e o separatismo, como no caso de Xinjiang, e o impacto do crime organizado, particularmente no Afeganistão, Paquistão e outras áreas da Ásia Central.
A resistência americana a este processo de integração regional também se manifesta de várias formas. Washington tem apoiado movimentos independentistas e vendido armas a Taiwan, além de reforçar as alianças militares e disputar territórios no Mar do Sul da China e no Pacífico, ações que a China considera provocatórias. Por sua vez, Pequim tem modernizado e expandido as suas forças navais e aéreas, o que representa uma ameaça para a supremacia militar dos EUA na Ásia.

A Nova Rota da Seda também enfrenta dificuldades no sul da Ásia, onde a China investe em infraestruturas marítimas, como portos no Sri Lanka, Paquistão e Bangladesh. Esta rede de infraestruturas, conhecida como "colar de pérolas", preocupa a Índia, que vê a expansão marítima chinesa como um desafio à sua influência regional. Embora existam momentos de cooperação, como na OCX e no Banco Asiático de Investimento em Infraestruturas (AIIB), a Índia demonstra desconforto face ao Corredor Económico China-Paquistão, que solidifica a cooperação entre os seus rivais.

Além disso, a Nova Rota da Seda abrange também África, continente onde a China estabeleceu fortes laços comerciais e institucionais. Desde a criação do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), Pequim tem investido massivamente em ajuda humanitária, projetos de infraestruturas e zonas económicas em países africanos, garantindo uma ligação estratégica aos portos no Corno de África e aumentando a sua presença em Djibouti, Quénia e Sudão.

Este ambicioso projeto de integração destaca a transição geopolítica em curso, que tem deslocado o centro de poder mundial para o Pacífico. Contudo, o caminho para a consolidação destas novas dinâmicas é incerto, exigindo tempo e paciência face às resistências e complexidades associadas à ascensão chinesa.

A Nova Rota da Seda: Expansão Regional e os Desafios à Hegemonia Americana

Um Modelo Sustentável?

Embora a Nova Rota da Seda tenha impulsionado o desenvolvimento de infraestruturas em muitos países, a sustentabilidade de muitos desses projetos é questionável. Em várias regiões, as obras não geraram os retornos económicos esperados, resultando em infraestruturas subutilizadas ou até abandonadas. A construção do porto de Gwadar, no Paquistão, financiado pela China, é um exemplo. Embora fosse prometido como um ponto-chave no comércio global, o porto ainda opera muito abaixo da capacidade, levantando questões sobre a real necessidade e viabilidade de projetos como este.

Além disso, há preocupações ambientais significativas. Muitos dos projetos da Nova Rota da Seda envolvem a construção de barragens, estradas e oleodutos em áreas ecologicamente sensíveis, o que pode agravar as alterações climáticas e a perda de biodiversidade. A falta de avaliações ambientais rigorosas em alguns dos países parceiros alimenta críticas de que a China está mais focada na expansão do que na sustentabilidade.

A Ambição de Interligar o Mundo

A Nova Rota da Seda consiste em duas grandes vertentes: a terrestre, que atravessa a Ásia Central e a Europa, e a marítima, que segue a rota do Oceano Índico até ao Mar Mediterrâneo. O plano é monumental, abrangendo mais de 140 países e cerca de 4,4 mil milhões de pessoas, o que representa cerca de 65% da população mundial. Com um investimento previsto de milhares de milhões de dólares, a China promete modernizar infraestruturas e gerar novas oportunidades económicas em regiões que há muito tempo necessitam de desenvolvimento.

Pequim apresenta este projeto como um motor de crescimento inclusivo, destacando o seu potencial para melhorar o comércio e os fluxos de investimento em várias economias emergentes. Os países envolvidos, muitos deles em desenvolvimento, veem a iniciativa como uma oportunidade para modernizar infraestruturas cruciais, muitas vezes sem condições de financiamento oferecidas por outras potências ou instituições internacionais.

O "Soft Power" Chinês

Para além do aspeto económico, a Nova Rota da Seda é também uma poderosa ferramenta de "soft power". Ao financiar grandes projetos de infraestruturas, Pequim não só conquista novos mercados, como também ganha aliados políticos estratégicos. Em várias regiões, especialmente na Ásia Central e em África, a China está a substituir potências ocidentais como principal parceira de desenvolvimento. Este apoio traduz-se frequentemente em influência política direta, com muitos países a alinhar as suas políticas externas com os interesses chineses.

Um exemplo é o crescente apoio à posição da China em fóruns internacionais sobre questões controversas, como os direitos humanos ou no Mar do Sul da China. Vários países que participam na Nova Rota da Seda evitam criticar as ações de Pequim, temendo perder o apoio económico. Desta forma, a China tem conseguido moldar a ordem mundial em conformidade com os seus interesses, alavancando o seu poder económico para influenciar decisões políticas.

Peça central na geopolítica do século XXI?

A Nova Rota da Seda, para além do seu enorme impacto económico, tornou-se uma peça central na geopolítica do século XXI. Embora traga oportunidades de crescimento para muitos países, a dependência crescente da China e os riscos de sobre endividamento revelam uma face menos benigna deste projeto. A questão que se coloca é se os países participantes conseguirão beneficiar de forma sustentável da iniciativa ou se acabarão aprisionados num ciclo de dependência que favorece apenas a China.

Assim, a Nova Rota da Seda apresenta-se simultaneamente como uma expansão global e um potencial instrumento de controlo económico. O futuro da iniciativa dependerá, em última análise, de como os países participantes gerirem esta relação de poder, garantindo que as suas economias não sejam sacrificadas no altar de um progresso que parece, à primeira vista, irresistível.

      Como o ignorante e teimoso Trump prejudicou os EUA e ajudou a China na Ásia

  1. Retirada da Parceria Transpacífica (TPP): Uma das primeiras medidas de Trump foi retirar os EUA do Acordo de Parceria Transpacífica (TPP), um acordo comercial abrangente entre 12 países da região da Ásia-Pacífico. O TPP visava reduzir barreiras comerciais e aumentar a cooperação económica entre os países membros, posicionando os EUA como um líder no comércio da região. Ao sair do acordo, os EUA deixaram de ter influência no estabelecimento das regras económicas da Ásia-Pacífico, abrindo espaço para a China preencher esse vazio de liderança.

  2. Fortalecimento da China: A saída dos EUA do TPP deu à China a oportunidade de aumentar o seu protagonismo na região através da sua própria iniciativa comercial, a Parceria Económica Abrangente Regional (RCEP), e da Nova Rota da Seda. Estas iniciativas aumentaram a dependência económica dos países asiáticos em relação à China e permitiram que Pequim liderasse o desenvolvimento de infraestruturas e a expansão da sua influência.

  3. Enfraquecimento das alianças regionais: A política externa de Trump caracterizou-se pela pressão sobre aliados tradicionais dos EUA na região, como o Japão e a Coreia do Sul, exigindo que aumentassem os seus gastos em defesa e contribuíssem mais para o custo das tropas americanas estacionadas nesses países. Essa abordagem, mais transacional e menos comprometida com a segurança comum, gerou tensões e desconfiança, prejudicando a coesão das alianças regionais.

  4. Retórica agressiva e imprevisibilidade: A retórica de Trump em relação à Coreia do Norte, incluindo ameaças de ação militar, aumentou a instabilidade na Península Coreana. Embora tenha havido cimeiras entre Trump e o líder norte-coreano Kim Jong-un, os resultados práticos em termos de desnuclearização foram nulos, e o risco de conflito permaneceu elevado. A imprevisibilidade da administração Trump na gestão de crises regionais minou a confiança dos parceiros asiáticos nos compromissos de segurança dos EUA. Os encontros patéticos com Kim Jong-un, contribuíram para uma imagem muito negativa de Trump e por arrastamento dos EUA, em todo o mundo.

  5. Protecionismo e guerras comerciais: A política protecionista de Trump, incluindo as tarifas impostas à China e outros países, não só provocou uma guerra comercial com Pequim, mas também prejudicou as economias de países asiáticos aliados. Muitos desses países dependem de cadeias de fornecimento globais e de comércio livre, e o protecionismo dos EUA criou incertezas que afetaram o crescimento económico na região.

Donald Trump prejudicou os Estados Unidos na região do Pacífico, especialmente na Ásia, ao abandonar contra o conselho dos seus assessores a cooperação multilateral e ao adotar uma política mais isolacionista e protecionista. A sua administração tomou várias decisões que enfraqueceram a posição estratégica e económica dos EUA nessa área.

Armadilha da Dívida e do Neo-Colonialismo Chinês

É muito cedo para se fazer uma avaliação perentória sobre o projeto Chinês. Com a rivalidade com os EUA ao rubro, classificar o projeto de uma forma definitiva como sendo neocolonialismo chinês é excessivo. Temos um compromisso sério coam a verdade. E a verdade é o seguinte:

O projeto da Nova Rota da Seda (BRI) abrange dezenas de países, com investimentos de milhares de milhões em infraestruturas, desde ferrovias e estradas até portos e zonas económicas especiais. A China é acusada de usar a armadilha da dívida para aumentar o seu controlo sobre os países que se endividam excessivamente, manifestando-se de forma mais clara em países em desenvolvimento. Aqui estão alguns dos exemplos mais citados:

1. Sri Lanka – Porto de Hambantota

O caso do porto de Hambantota no Sri Lanka é talvez o exemplo paradigmático daquilo que os críticos chamam de "neocolonialismo". A China financiou a construção do porto com empréstimos volumosos ao Sri Lanka, mas quando o país se viu incapaz de pagar a dívida, foi forçado a ceder o controlo do porto a uma empresa estatal chinesa por 99 anos. Este incidente levantou sérias preocupações sobre a dependência da dívida e o controlo de infraestruturas estratégicas por parte da China, demonstrando como o país usa empréstimos para obter influência e poder em nações vulneráveis.

2. Paquistão – Corredor Económico China-Paquistão (CPEC)

O Corredor Económico China-Paquistão é uma parte crucial da Nova Rota da Seda e envolve investimentos chineses em infraestruturas, estradas, ferrovias, e no porto de Gwadar, no Paquistão. No entanto, a dívida acumulada pelo Paquistão em função desses projetos tornou-se um fardo, e muitos temem que o país se veja numa posição semelhante à do Sri Lanka, ficando refém das condições chinesas. Além disso, há queixas de que os projetos não têm beneficiado diretamente a população paquistanesa, pois muitas das obras são realizadas por empresas chinesas com mão-de-obra chinesa, limitando os benefícios económicos locais.

3. Quénia – Ferrovia Nairobi-Mombaça

No Quénia, a construção de uma ferrovia ligando Nairobi a Mombaça, financiada pela China, gerou controvérsia. O Quénia contraiu empréstimos volumosos para financiar o projeto, e muitos analistas sugerem que o país terá dificuldades em honrar esses pagamentos. Além disso, o acordo incluía uma cláusula que permitia à China tomar controlo do porto de Mombaça em caso de incumprimento da dívida, o que foi visto como um sinal de risco de perda de soberania nacional. Assim, o projeto, que inicialmente parecia promissor para o desenvolvimento, acabou por levantar preocupações de que o Quénia estivesse a cair numa "armadilha da dívida".

A armadilhas da Dívida: Um dos principais pontos de preocupação é o risco de endividamento excessivo. Países que aceitam empréstimos para financiar projetos da BRI podem ficar em situações financeiras precárias. O exemplo do Sri Lanka, que teve que ceder a operação do porto de Hambantota à China, após não conseguir pagar sua dívida, é um alerta para todos os países que aderirem ao projeto chinês. Se é uma estratégia chinesa em tudo semelhante ao neocolonialismo praticado por países ocidentais. ainda não sabemos, sendo certo que a dependência financeira da China pode comprometer a soberania dos países envolvidos. Quando os estados não conseguem honrar suas dívidas, podem ser forçados a ceder o controle sobre os seus recursos naturais, infraestruturas ou até mesmo a influenciar a sua política interna e externa.

an abstract photo of a curved building with a blue sky in the background

Vamos fazer o que ninguém faz: tirar a bola de cristal da caixa e ler o futuro! Não! Não vamos fazer nada disso. Apenas algumas considerações lógicas, passíveis de serem realizas à data de hoje.

futuro da Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative - BRI) poderá consolidar a China como um dos principais epicentros económicos e geopolíticos do mundo, mas o sucesso desse projeto depende de diversos fatores, tanto internos como externos. Aqui estão algumas previsões e desafios que podem moldar o seu desenvolvimento nas próximas décadas:

1. Consolidação Económica e Expansão Global

  • Crescimento do Comércio e da Conectividade: A Nova Rota da Seda tem o potencial de reconfigurar as rotas comerciais globais, promovendo novas alianças e aumentando a conectividade entre a Ásia, Europa, África e até mesmo a América Latina. Se bem-sucedida, a China poderá reduzir os custos logísticos e de transporte, abrindo novas oportunidades comerciais para centenas de países envolvidos.

  • Integração Financeira: O renminbi (RMB) poderá expandir-se como uma moeda de reserva em muitas regiões, graças ao crescimento de bancos chineses e ao financiamento de infraestruturas locais, promovendo a internacionalização da moeda e incentivando um sistema financeiro menos dependente do dólar americano.

2. Desafios Políticos e Rivalidades Geopolíticas

  • Pressão dos Estados Unidos e Aliados: O Ocidente, liderado pelos Estados Unidos, provavelmente continuará a conter a influência chinesa, promovendo alternativas à BRI, como a "Parceria para Infraestrutura Global e Investimento" dos EUA e aliados. Esta pressão poderá levar alguns países a reconsiderar a participação na Nova Rota da Seda, especialmente os que têm fortes laços militares ou económicos com os EUA.

  • Insegurança Regional: As tensões com a Índia, a instabilidade em países da Ásia Central e Médio Oriente e os desafios securitários, como o terrorismo e o crime organizado, representam riscos para as rotas e corredores da BRI, podendo limitar o impacto da iniciativa.

3. Sustentabilidade Ambiental e Social

  • Questões Ambientais: Muitos dos projetos de infraestrutura têm sido criticados por não considerarem o impacto ambiental. No futuro, a China poderá sentir-se pressionada a adotar padrões de construção mais sustentáveis para garantir o apoio de governos e populações locais, além de melhorar a sua reputação global em questões ambientais.

  • Impacto nas Comunidades Locais: A resistência local pode aumentar, principalmente em países onde a BRI tem levado a altos níveis de endividamento ou a desapropriações. Pequim poderá ajustar a sua abordagem para prevenir descontentamento social, que, se crescer, poderá desacelerar projetos ou até gerar tensões diplomáticas.

4. Avanços Tecnológicos e Expansão Digital

  • Iniciativas Digitais (Rota da Seda Digital): A expansão da "Rota da Seda Digital", com infraestruturas de telecomunicações, internet e tecnologia, promete fortalecer a presença digital da China globalmente. Esta vertente inclui sistemas de vigilância, como o reconhecimento facial, e a infraestrutura de redes 5G, que poderão impulsionar a competitividade tecnológica chinesa e consolidar a sua influência digital.

  • Inteligência Artificial e Segurança Cibernética: À medida que a China expande a BRI digital, a segurança cibernética e o uso de IA tornam-se áreas cruciais. O desenvolvimento destas infraestruturas nos países parceiros poderá gerar dependência tecnológica e criar um novo domínio de influência chinesa, mas também aumentará a exposição a possíveis ameaças de segurança.

5. Possível Redefinição da Ordem Mundial

  • Nova Ordem Multipolar: A BRI poderá acelerar a transição para uma ordem mundial multipolar, na qual a influência económica e geopolítica se descentraliza dos EUA e da Europa, com a China, a Rússia e outras potências emergentes a ocuparem uma posição de destaque. A Nova Rota da Seda reforça essa mudança ao estimular a interdependência económica fora do bloco ocidental, redefinindo o papel de regiões como a Ásia Central, Médio Oriente e África no comércio e nas alianças globais.

  • Potencial para uma Nova Guerra Fria: A rivalidade entre a China e os EUA poderá intensificar-se, levando a uma divisão geopolítica entre os países aliados de cada potência, marcada por diferenças políticas, económicas e culturais. Esse cenário traria instabilidade, colocando a BRI no centro de uma disputa de poder global.

6. Cenários de Colapso ou Adaptação

  • Endividamento e Riscos de Insustentabilidade: Caso a China não consiga adequar a BRI para enfrentar os desafios de endividamento e resistência política, alguns países poderão abandonar o projeto, o que reduziria significativamente a sua eficácia.

  • Adaptação e Reformulação da BRI: A China poderá reformular a BRI para evitar situações de dependência excessiva dos países beneficiados, oferecendo maior flexibilidade nos acordos e ampliando o apoio técnico e financeiro a esses países.

Prever o futuro