QVO VADIS...SÍRIA?
por: Firminiano Maia
SINOPSE
"Quo Vadis... Síria?" oferece uma análise abrangente da história recente e complexa da Síria, desde a queda do regime de Bashar al-Assad até às incertezas quanto ao futuro do país. Partindo de uma revisão histórica, explora as origens da Síria moderna, a influência do colonialismo europeu, e os desafios étnicos e religiosos que moldaram o país. O texto analisa os impactos do regime ditatorial dos Assad, destacando massacres como o de Hama, a repressão brutal e o legado de corrupção e desigualdades. Aborda também a Primavera Árabe na Síria, a guerra civil subsequente e a ascensão do Estado Islâmico, evidenciando as intervenções estrangeiras de potências como os EUA, Rússia e Irão. Por fim, reflete sobre as dificuldades enfrentadas pela coligação que assumiu o poder após a queda de Assad, liderada por Abu Mohammed al-Julani, um ex-membro da Al-Qaeda.
O texto analisa ainda os impactos do regime ditatorial dos Assad, destacando massacres como o de Hama, a repressão brutal e o legado de corrupção e desigualdades. Aborda também a Primavera Árabe na Síria, a guerra civil subsequente e a ascensão do Estado Islâmico, evidenciando as intervenções estrangeiras de potências como os EUA, Rússia e Irão.
Por fim, reflete sobre as dificuldades enfrentadas pela coligação que assumiu o poder após a queda de Assad, liderada por Abu Mohammed al-Julani, um ex-membro da Al-Qaeda. A obra questiona se o país conseguirá encontrar estabilidade ou cairá novamente em conflitos internos e regionais.
Para onde é que vai a Síria? Sabemos o seu passado, o seu presente, mas o seu futuro é, apesar de tudo, incerto.
Tentaremos, nas linhas que se seguem, rever o passado, descreve o que nos é dado a observar no presente e analisar pistas para o futuro.
No presente, caiu mais um ditador. Chegou ao fim a ditadura sanguinária dos Assad na Síria. Mais um que cai por terra. Seria magnífico, embora improvável, que Putin fosse pensando em também providenciar aposentos condignos para os aiatolas de Teerão.
Em Damasco, Alepo e por todo o país, vive-se um momento de festa e de esperança. Será também um momento de libertação? Daqui a poucos meses se saberá.
1 - Um balanço de Custos e proveitos
Para já perdeu a Rússia e o Irão. Ganhou Erdoğan, a potência regional emergente. Ganharam os EUA por interposta pessoa dos seus maiores aliados na região -Israel- e dos Curdos. Porém, se atentarmos no exemplo das últimas alianças americanas, os Curdos deverão mais uma vez novamente deixados à sua sorte e à mercê da Turquia. Mas nada disto é definitivo. Todas as forças estão ainda no terreno, armadas e apoiadas por esta ou aquela potência. O potencial para a deflagração de novo conflito é ainda enorme.
Comecemos por uma breve nota sobre a formação do moderno estado Sírio.
2 - Como nasce a moderna Síria?
A Síria moderna nasceu das cinzas do Império Otomano, do colonialismo europeu e das tensões internas decorrentes de sua diversidade étnica e religiosa.
As suas atuais fronteiras foram as desenhadas pelos vencedores da primeira grande guerra e formalizadas no tratado de Lausanne, no rescaldo desse conflito em 1923. Na “boa” tradição da Conferência de Berlim de 1885 que repartiu as colónias europeias de África criando ou as atuais fronteiras nacionais do continente, também agora, no médio oriente, as fronteiras foram definidas pelos interesses das potências coloniais presentes na região, descurando, tradições, etnicidades religiões, culturas e nações.
O resultado foi que em alguns casos, nações como a nação Curda ficaram divididas entre a vários países (Turquia a Síria e Iraque) enquanto noutros casos se aglomerou sob a mesma bandeira nacional grupos que competiam há séculos e se guerreavam ao menor pretexto. A génese da moderna Síria, o País, ostenta, pois, a marca do colonialismo europeu, e aqui, em concreto do poder colonial franco-britânico.
O mais curioso é que a divisão do Império Otomano e o destino da Síria, tinha já sido decidido desde 1916 por acordo que ficou conhecido pelo Acordo SyKes-Picot, representando respetivamente o Reino Unido e a França.
Se os nomes lhe lembram alguma coisa, tem toda a razão! T.E. Lawrence, ou o Lourenço da Arábia se se preferir, refere-se a esse acordo no seu livro “Os sete pilares da sabedoria” como uma traição aos povos da região e a si próprio. O livro tendo foi mais tarde adaptado ao cinema e obteve êxito mundial. Os despojos do império Otomana no médio oriente ficaram sob a égide político-militar da França e do Reino Unido, cabendo a região da Grande Síria — que incluía o atual Líbano, Israel, Jordânia e partes da Palestina, à administração francesa e outras áreas como como a Palestina, onde se veio a fundar o Estado de Israel ficaram sob administração Britânica.
Em 1920 França também separou o Líbano da Síria estabelecendo-a como um território separado do do Líbano sensivelmente com as fronteiras atuais
3 - A Independência e o Pós-Segunda Guerra Mundial (1946)
A pressão nacionalista e o enfraquecimento da França após a Segunda Guerra Mundial resultaram na retirada das tropas francesas em 1946. Nesse ano nascia a Síria Independente. Mas ela não trouxe consigo a desejada estabilidade.
Golpes de estado em 1949 e 1970 conflitualidade constante entre grupos étnicos e religiosos, assim como rivalidades ideológicas, não deram descanso à nova república Síria.
4 - O Pan-Arabismo e a União com o Egito (1958–1961)
No Egito, a ascensão ao poder de um jovem e carismático militar, o Coronel Nasser, alimentou o sonho da união árabe. Chegou a existir uma entidade política A República Árabe Unida sob a égide de Nasser, da qual a Síria fez parte, mas que se dissolveu rapidamente. O sonho da união árabe durou uns escassos quatro anos de 1958 a 1961.
5 - O Partido Baath
Em 1963 por meio de um golpe de estado, o Partido Baath assumiu as rédeas do poder na Síria e tentou promover uma política de cariz socialista até ao ano de 1970. ano em que, por sua vez foi derrubado pelo primeiro dos al-Assad de seu nome Hafez, general e ditador que por sua vez, cedeu o lugar a seu filho Bashar al-Assad, num processo de sucessão dinástica. A ditadura dos al-Assad viria a prevalecer por 54 anos, ate se ter desmoronado.
6 - O Regime dos Assad (1970–presente)
Em 1970, o general Hafez-al-Assad, membro da minoria muçulmana alauita (Xiita), assumiu o poder através de um golpe militar.
Foi com ele que teve início a ditadura que se estruturou, com recurso ao aparelho do partido Baath e agregando a si as elites militares. E foi já com o seu filho Bashar al-Assad, sucessor dinástico, que essa ditadura se extinguiu, 54 anos depois em dezembro de 2024.
Hafez centralizou o poder, reforçou o exército e iniciou programas de modernização e redistribuição de terras, mas desde logo mostrou ao que vinha: o seu regime foi marcado por uma governação autoritária, consolidada através de um Estado policial e de uma liderança férrea do partido Baath, mas também por uma série de massacres que se destacaram pela brutalidade com que reprimiu a oposição de que são exemplo:
6.1 - Massacres Prisões e tortura e polícia política
O Massacre de Hama (1982) é talvez o evento mais notório do governo de Hafez al-Assad. Logo na década de 1970 e início de 1980, uma crescente oposição da Irmandade Muçulmana, levou a uma insurreição. Em 1982, os rebeldes tomaram a cidade de Hama. A repressão por parte do exército provocou entre 10.000 a 40.000 mortos e destruiu parcialmente a cidade.
Na prisão de Tadmor/Palmira a prática de métodos de tortura inimagináveis, da morte pela fome e maus tratos e da execução de prisioneiros conferiram a este local uma reputação sinistra. Foi aqui que, em 1980, após uma tentativa de assassinato de Hafez al-Assad pela Irmandade Muçulmana, o Exército invadiu a prisão e massacrou centenas de prisioneiros.
6.2 - Perseguição Étnica e Sectária e Repressão generalizada
Embora fosse líder de uma minoria, Hafez al-Assad, construiu uma coligação política que incluía outras forças. No entanto, o seu governo perseguiu grupos minoritários ou dissidentes que desafiavam o seu regime. Como a comunidade Curda ou os muçulmanos sunitas.
O Mukhabarat, a polícia secreta do ditador, infiltrando todos os setores da sociedade espiava, denunciava, municiava as cadeias, torturava e matava, mantendo a população em estado de constante sobressalto e temor.
7 - Bashar al-Assad
Quando, por morte do pai sobe ao poder, por um processo de sucessão dinástica que só encontra paralelo noutra república (Coreia do Norte), Bashar al-Assad abraça este legado de morte e opressão e um país dividido entre diferentes etnias, religiões e etnicidades. Uns perseguidos, outros perseguidores, uns vítimas e outros carrascos uns enaltecidos e outros segregados.
Bashar veio a encontrar um poder consolidado e meios políticos, institucionais e materiais par o tornar duradouro em resultado do impacto do terror e repressão em toda a sociedade síria.
Inicialmente, como tem acontecido com várias outras, ditaduras quando há mudança de líder ensaiam-se algumas medidas de “abertura”. Bashar não fugiu à regra e permitiu a Libertação de presos políticos, iniciou reformas económicas em alguns setores da economia e promoveu uma tímida reforma do mercado: Nos primeiros meses após assumir o poder, libertou uma série de presos políticos, dando a impressão de que estaria disposto a suavizar a repressão. Esse gesto foi visto como um sinal de abertura política, mas para muitos outros tratou-se apenas uma tentativa para melhorar a imagem internacional da Síria e contrariar a tensão social e política deixada pelo legado paterno.
O Clima político permitiu alguma esperança. Houve uma sensação de maior liberdade de expressão, aumentou o número e frequência de discussões públicas e críticas moderadas ao governo.
Alguns intelectuais, jornalistas e ativistas políticos aproveitaram essa abertura para se expressarem a favor de mais liberdades políticas. Este período, conhecido como "a primavera de Damasco", foi breve, mas foi visto como uma oportunidade para uma possível mudança política. Esta foi rapidamente restringida e vários ativistas e intelectuais que se manifestaram publicamente contra o regime foram presos.
Desmantelamento de algumas práticas autoritárias: Embora o tenha mantido o controle rígido sobre as forças de segurança e a política, Bashar tentou moderar algumas das práticas mais opressivas da era de seu pai, como a vigilância extrema e a perseguição aberta a todos os dissidentes. O resultado foi que, sentindo-se ameaçado na sua estabilidade de regime, recuou e regressou às práticas anteriores.
8 - O mosaico étnico religioso da síria atual
Bashar herda, pois, um país ressentido pela dureza das décadas de repressão e composto por uma série de etnias e credos religiosos, sendo que alguns deles mantêm entre si diferendos de séculos.
Eis o resumo aproximado da composição étnica e religiosa da Síria:
Árabes muçulmanos sunitas: 60-70%
Alauitas (minoria xiita): 10-12%
Cristãos: 10-12%
Curdos: 9-10%
Drusos: 3-5%
Outros grupos (Turcomanos, Arménios, etc.): 1-3%
A complexidade do país, as migrações forçadas, as razias étnicas e religiosas, os massacres, em particular durante a guerra, dificultam a fixação de números exatos, mas aqueles de que dispomos representam uma boa aproximação à realidade embora não esgotem as todas as divisões existentes. No cenário Sírio cada um destes grupos tenta organizar-se para defesa dos seus interesses e populações, constituindo exércitos e grupos de guerrilheiros próprios. Mas para já ficamos por aqui. Voltaremos a este assunto, que é fulcral, ainda no âmbito deste artigo.
9 - Primavera árabe na Síria e a guerra civil
A Primavera Árabe foi um movimento de protestos e levantes populares que começou em 2010 e se espalhou por vários países do Oriente Médio e Norte da África, incluindo a Síria. A Síria não foi exceção.
9.1 - Início dos Protestos (2011)
A corrupção generalizada, desemprego elevado, falta de liberdades políticas, uma economia que persistia em não se desenvolver dificuldades e adicionalmente o ressentimento popular por tanto tempo vítima da opressão do regime juntaram-se para criar um crescendo de descontentamento popular que começava a se querer exprimir.
Os primeiros protestos tiveram lugar na cidade de Daraa, no seguimento da prisão e tortura de alguns adolescentes que efetuavam pichagens antirregime. Este foi o rastilho. Uma onda de protestos e manifestações espalhou-se pelo país, exigindo reformas políticas e agora também o fim do regime de Assad. Este respondeu da forma que sempre tinha respondido antes. Repressão Violenta: Com força militar polícia política e todos os meios repressivos ao seu alcance.
O resultado foi o exacerbamento dos sentimentos antirregime, que se foi traduzindo na prática com manifestações por todo o lado, inclusivamente em Alepo e que chegou à capital, Damasco.
9.2 - Escalada do conflito
Desta vez não foi possível silenciar os protestos. A repressão brutal contra os manifestantes inicialmente pacíficos, levou a uma radicalização do movimento, que se transformou em um conflito armado. Em meados de 2011, começaram a surgir grupos armados de oposição.
Começaram-se a formar grupos militares como o ESL (Exército Sírio Livre), composto por civis e desertores das forças armadas. A violência espalhou-se por todo o país que começou a dividir-se em áreas controladas pelo regime ou por fações a ele opostas.
O confronto escalou rapidamente e a beligerância aumentou em quantidade e qualidade. Assad deitava já mão de armas pesadas, tanques e aviação. Era a guerra civil e, como sabemos, as guerras contra os vizinhos ou os amigos de ontem são sempre das mais sangrentas e vingativas.
O regime de Bashar al-Assad cometeu crimes inomináveis contra a população civil. Poder-nos-emos enganar, mas não conhecemos registo de nenhum líder que tenha atacado o seu próprio povo com armas químicas. Bashar fê-lo. E repetiu-o! Fê-lo sob generalizada condenação da chamada “comunidade internacional” que agiu com ações ridiculamente limitadas, ineficazes e certamente inadequadas para pressionar o ditador a não repetir o uso dessas armas. Mas foi isso mesmo que ele fez:
abaixo, referimos alguns dos casos mais conhecidos do uso de armas químicas contra o seu próprio povo, desde pelo menos 2013:
- Em Ghouta Oriental (21-8-2013), com Gás Sarin. Registados entre 281 e 1729 mortos e milhares de feridos na periferia de Damas
- Em Khan Shaykhun (4-4-2017), com Gás Sarin, registados 80 mortos, incluindo muitas crianças na cidade de Khan Shaykhun
- Em Douma (7-4-2018), com Gás de Cloro e Sarin. Pelo menos 50 mortos e dezenas de afetados, na cidade de Douma
- Vários outros incidentes com uso de armas químicas em locais como Homs, Alepo e outras áreas, sendo a maioria deles registados em áreas controladas pelas oposições, mas com a invariabilidade de terem sido sempre desferidos contra populações civis do seu próprio país.
10 - O Estado Islâmico e a intervenção estrangeira
A guerra civil levou o regime de Damasco a perder o controlo de grande parte do seu território, agora nas mãos das diversas fações. Para além do facto, para mim inexplicável, de que as guerras civis, conflitos fratricidas, serem em geral, mais mortíferas cruéis e vingativas do que as guerras entre estados, esta guerra em concreto aportou com ela dois novos elementos: Um deles uma quase absoluta “novidade” pelas intenções políticas, intolerância religiosa, ambição global e métodos carniceiros e primitivos. A emergência do Estado Islâmico trará consequências subsequentes que determinarão ações determinantes
10.1 - O autoproclamado Estado Islâmico (Daesh ou ISIS)
O Estado Islâmico foi fundado por Abu Musab al-Zarqawi (Ex Al-Qaeda) em 2004, no Iraque, após a invasão daquele país para pelos Estados Unidos. À sua volta, agregou muitos militares das dissolvidas Forças armadas de Sadam Hussein, apoderando-se de muito do seu armamento. Conseguiu num determinado período, controlar vastas regiões do Iraque e, posteriormente, da Síria, aproveitando a desordem gerada pela guerra civil.
O objetivo central do Estado Islâmico é a criação de um califado. Um Estado teocrático governado por um califa, que é considerado o sucessor legítimo do profeta Maomé. O grupo proclamou a criação do califado em 2014, com Abu Bakr al-Baghdadi autoproclamando-se califa. Para o Estado Islâmico, o califado seria um modelo de governo baseado na aplicação rigorosa da Sharia, com uma interpretação muito restrita e radical do Islão, sem tolerância para outras formas de crença. O objetivo político do Estado Islâmico é a criação e manutenção de um "califado" global, ou seja, um Estado islâmico universal governado por uma interpretação radical e extremista da Sharia (lei islâmica). O grupo acredita que, para estabelecer uma verdadeira ordem islâmica, é necessário unir todos os muçulmanos sob um governo centralizado liderado por um califa, uma figura política e religiosa que, segundo eles, deve ter autoridade sobre todos os muçulmanos do mundo.
Vamos por partes:
- A Imposição da Sharia implica, de forma absoluta, substituir as leis e sistemas legais tradicionais dos países em que atua. A Sharia é uma ordem divina e inquestionável. Isso implica não apenas em restrições sociais e religiosas severas, mas também em punições extremas para quem desobedece ou transgride as normas impostas pelo grupo (como apedrejamento, mutilações, execuções públicas, etc.)
- União dos Muçulmanos sob um governo único implica que todos os muçulmanos do mundo deverão estar sob uma única autoridade política e religiosa, representada pelo califa. O EI propõe a criação de um único Estado que seja governado por uma interpretação uniforme da lei islâmica,
- A expansão territorial inicial no Iraque e na Síria, seria para prosseguir com o objetivo do EI é expandir sua influência para outras regiões do mundo muçulmano e até para o Ocidente, por meio de ataques terroristas e recrutamento. Eles veem isso como parte de uma jihad global, ou guerra santa, para espalhar o Islã e eliminar o que consideram ser governos "inimigos" ou "corruptos", que são em sua maioria regimes secularizados ou governados por líderes muçulmanos que não seguem a Sharia de maneira rigorosa.
- Eliminação de inimigos e heresias: O EI considera como inimigos do Islão, praticamente todos, os não que não adiram à sua interpretação da Sharia. Isso inclui xiitas, curdos, yazidis, cristãos, judeus, e até outros muçulmanos que não compartilham de sua visão radical, como os sufistas e os muçulmanos moderados. O grupo justifica perseguições violentas, assassinatos e genocídios contra essas populações como uma forma de purificação religiosa e político-social. Durante seu auge, o EI cometeu massacres e atrocidades, como a perseguição e redução à escravatura de yazidis no norte do Iraque, além de ataques a cristãos e outras minorias religiosas.
- As fronteiras nacionais criadas pelos acordos de SyKes-Picot (1916), que dividiram o Oriente Médio em várias nações, não são aceites. O grupo deseja desfazer as divisões políticas impostas pelo colonialismo ocidental, que consideram ilegítimas, e unir todos os muçulmanos em uma única entidade política global. Governos muçulmanos moderados e as instituições internacionais como a ONU não fazem parte da visão do califado.
-Estabelecimento de uma sociedade radicalmente islâmica O EI não busca apenas o controle territorial e a liderança política, mas também quer criar uma forma radical de organização da sociedade que reflita os valores da Sharia. liberdades individuais, especialmente para as mulheres, a imposição de regras rígidas sobre a vestimenta, o comportamento social e os costumes.
- A Jihad não é uma luta geograficamente restrita, mas um esforço global para expandir o domínio do califado e combater os "inimigos do Islã". O EI busca inspirar e coordenar ataques terroristas e ações militares contra países não muçulmanos e governos muçulmanos considerados infiéis ou apóstatas. Seu objetivo é estabelecer uma guerra santa global, com células operando em várias partes do mundo, incluindo na Europa, África e Ásia.
Uma novidade absoluta num grupo de ideologia proto medieval e em contraste com isso, é o uso bem-sucedido da internet e das redes sociais para a sua propaganda. recrutamento e comunicação com as células terroristas espalhadas pelo mundo. Conseguiu entrar em todos os lares do mundo graças aos media ocidentais facilmente manipuláveis dada a sua sempre avidez por emoções fortes, usando as plataformas digitais para transmitir execuções por dictat da Sharia, assassinato de reféns ocidentais em direto, etc.
Como é costume, até entre os populistas europeus, o apelo à honra, defesa de causas justas, moralidade, anticorrupção etc. foram temas da propaganda do Estado Islâmico que obteve grande êxito no ocidente, com muitos recrutamentos bem-sucedidos em países ocidentais.
É para nós, motivo de grande perplexidade o caso das “Noivas do Estado Islâmico”: Dezenas de jovens raparigas europeias aceitaram viajar para a Síria para se “casar” com militantes do Estado Islâmico. Algumas foram mortas na guerra, outras pelos “maridos” outras tentam voltar aos seus países de origem com dois ou três filhos e aí enfrentam as consequências legais. Essas raparigas não sabiam ou não quiseram saber que iam viver sob o dictat da Sharia, praticamente sem direito algum e como propriedade dos seus “maridos” que se podiam “divorciar” sob qualquer pretexto as passando a outro.
Num momento em que, nos países ocidentais, as mulheres historicamente conquistaram tantos direitos e liberdades e influência na sociedade, não deixa de ser espantoso o facto de se irem entregar voluntariamente a um homem que conheceram on-line, passando a ser sua propriedade.
Porém isso prova a mestria com que o Estado Islâmico conduziu a sua propaganda e a eficiência e tecnicidade com que usou as redes sociais.
As características que acabamos de apontar, e o facto de se ter transformado numa ameaça global quer pela existência de células que perpetraram atos terroristas, quer pela doutrinação de “espontâneos” que cometeram atentados por conta própria. Quer pela influência que a divulgação de atos terroristas perpetrados, deram a um grande número de países o necessário pretexto para intervir militarmente, uma vez que, no âmbito regional ninguém parecia poder ou querer conter a crescente influência política militar e mediática do Estado Islâmico.
10.2 - A intervenção estrangeira
As potências globais, Estados Unidos e Rússia e as regionais Turquia, Irão e Arábia Saudita, alinharam-se em apoio dos seus grupos preferidos. As intervenções têm diferentes motivos, é um facto, mas o combate ao Estado Islâmico constituiu um forte pretexto para todos.
Os principais apoios ao regime de Assad:
- Rússia. Tratou-se de defender um aliado que estava a perder a guerra e para defender as duas importantes bases militares que detém no território Sírio:
A Base Aérea de Khmeimim: é a principal base aérea usada pelas forças russas. De lá, os aviões de combate russos realizam missões contra grupos insurgentes, incluindo a oposição moderada e o Estado Islâmico. Mas também tem grande importância no apoio à tropa mercenária da Wagner que assegura a influência Russa em África
Base Naval de Tartus: A Rússia tem um acordo com o governo sírio para manter uma base naval em Tartus, que é de grande importância estratégica no Mediterrâneo, proporcionando à Rússia acesso ao mar e fortalecendo sua presença na região.
A Rússia interveio diretamente nos combates da guerra civil te no apoio aéreo às tropas do governo sírio. Isso inclui bombardeios e ataques aéreos contra os inimigos de Assad, incluindo rebeldes e jihadistas
- O Irão também apoiou o regime de Assad, quer por identificação ideológico-religiosa (Os Alauitas de Assad são Xiitas) quer como meio de através da Síria, poder apoiar logisticamente as forças do Hezbollah, primeira linha do confronto do Irão com Israel. A guarda Revolucionária Islâmica Iraniana combateu ao lado do do exército de Bashar. O Hezbollah empenhou centenas de combatentes com apoio do Irão.
10.3 - Os principais apoios aos grupos de oposição
A oposição ao regime de Assad foi constituída por uma série de grupos, desde moderados até extremistas, e vários países, principalmente do Ocidente e do Golfo Pérsico, forneceram apoio militar a diferentes fações.
- Estados Unidos: Os EUA não enviaram tropas de combate diretamente para lutar contra Assad (exceto em operações contra o ISIS), mas enviaram tropas especiais para treinar, apoiar e fornecer inteligência a grupos da oposição moderada, como as Forças Democráticas Sírias (SDF), que incluíam combatentes curdos e árabes. Porém forneceram armas blindados e misseis. A intervenção dos americanos tem como principal pretexto o combate ao Estado Islâmico.
-Turquia: A Turquia enviou tropas para combater tanto o regime de Assad quanto as forças curdas da Síria, que ela considera uma extensão do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). Forneceu armas a grupos rebeldes sírios, incluindo armas ligeiras, mísseis antitanque, veículos blindados e sistemas de comunicação. Além disso, a Turquia enviou apoio logístico e treinou combatentes seus aliados.
Arábia Saudita, Qatar, Reino Unido e França, Jordânia também apoiaram a oposição Síria, basicamente financeiro, em treino, armas e sistemas de comunicação. França e O Reino Unido tomaram parte em alguns ataques aéreos contra o Estado Islâmico.
11 - Quem estava no terreno aquando da queda de Assad
Envolveram-se na guerra civil síria uma série de forças militares, milícias e grupos paramilitares, cada um com seus próprios interesses e objetivos. A tentativa de derrubar o regime de Bashar al-Assad foi impulsionada por uma variedade de atores nacionais e internacionais, que protagonizaram coligações e alianças se formando e se desfazendo ao longo do tempo. Tratou-se e trata-se ainda de um conflito que deu espaço a uma grande complexidade
Referimos, portanto, apenas as principais forças militares envolvidas no conflito:
11.1 - Forças militares e militarizadas favoráveis ao regime:
- Desde logo, as Forças do Governo, as forças armadas sírias (SAA)
- A Força de Defesa Nacional (NDF), milícias compostas por voluntários pró-governamentais
- O Hezbollah libanês e muçulmano Xiita apoiadas pelo Irão
- A guarda Revolucionária Islâmica Iraniana (IRGC)
- Várias milícias Xiitas provenientes do Iraque em apoio do Governo
11.2 - Forças militares e militarizadas opostas ao regime:
- Exércitos livres sírios (FSA): uma coligação de grupos moderados inicialmente formada por desertores das forças de Assad. Eles eram uma das principais forças opostas ao regime.
- Jihadistas e grupos extremistas islâmicos: Ao longo da guerra, grupos como o Frente al-Nusra (ligado à Al-Qaeda) e o Estado Islâmico (ISIS) surgiram como forças de oposição, especialmente a partir de 2013. (Faz-se notar que aquele que o atual líder das forças que depuseram o Bashar al-Assad é proveniente da Frente al-Nusra
Curdo-sírios: O Partido da União Democrática (PYD) e suas milícias YPG (Unidades de Proteção do Povo) desempenharam um papel significativo, particularmente no norte da Síria, buscando autonomia para os curdos sírios. Embora inicialmente não tenham se envolvido diretamente contra o regime de Assad, as milícias curdas participaram na luta contra o Estado Islâmico.
11.3 - Presenças militares internacionais em apoio ao regime de Assad:
- Rússia: Em 2015, a Rússia entrou de forma decisiva no conflito, fornecendo apoio aéreo, operações militares e armamento, além de reforçar o regime com forças terrestres e operações especiais. A intervenção russa foi crucial para a manutenção do regime de Assad.
- Irão: O Irã foi um aliado chave de Assad desde o início da guerra, oferecendo apoio militar através de suas forças da Guarda Revolucionária e milícias xiitas, além de apoio financeiro.
11.4 - Presenças militares internacionais em apoio à insurgência ou em luta com o Estado Islâmico
- Estados Unidos e aliados ocidentais: Os EUA, estiveram envolvidos em ações de guerra, principalmente em ações contra o Estado Islâmico. Base Aérea de Al-Tanf: Base de Rmelan: Base de Qamishli: Base de Kobani. Durante a presidência de Trump, registou-se a retirada de tropas americanas, mantendo-se apenas algumas dessas bases ativas, ou ativas com pessoal reduzido. A sua justificação estratégica consistia fundamental no combate ao Estado Islâmico, ao apoio aos curdos sírios e em contenção das ambições russas.
- Turquia: A Turquia levou a cabo ações militares, maioritariamente no norte do país e contra o domínio curdo no norte da Síria. A Operação "Eufrates Shield" (2016) contra os curdos constitui um bom exemplo disso, mas também em de confronto pelo controlo de território sírio com o fim de garantir a proteção da própria Turquia. Por outro lado, tem providenciado forte apoio ao HTS de al-Julani, o novo líder da Síria. O desfecho da guerra civil faz de Recep Erdoğan, o mais claro beneficiado.
11.5 - Israel
Em bom rigor, Israel não esteve diretamente envolvido no conflito sírio, com tropas no terreno, antes da queda de Assad. Porém, as suas forças não estão apenas a intervir no sul do Líbano como até há muito poucos dias. Numa primeira fase, destruíram quase totalmente a capacidade de deteção e defesa aérea instalada na Síria. Seguidamente têm se vindo a concentrar em tudo o que é depósitos de armamento ou locais de produção do mesmo e a incapacitar as os canais de apoio logístico ao Hezbollah. Não aventamos qualquer hipótese do que poderá ser uma terceira fase, mas fazemos notar que a força aérea de Israel os seus misseis e aviões, podem agora voar livremente até à fronteira do Irão. O que poderá Israel fazer adquirida esta oportunidade estratégica? Não sabemos, mas recordamos que o programa nuclear iraniano tem sido motivo de preocupação constante em Jerusalém e Washington e com Trump e Netanyahu no poder é caso para se aceitarem apostas.
Saída a Síria da zona de influência dos aiatolas, seu inimigo direto, Israel configura-se, também como um dos principais beneficiários da derrota de Assad. E terá uma palavra a dizer no que toca o futuro da região.
12 - Quo Vadis Síria?
Que caminho seguirá agora a Síria?
A coligação que depôs o anquilosado e cruel regime dos Assad tem uma constituição problemática. Agrega grupos moderados, diretamente originados na “primavera de Damasco”, grupos cuja matriz fundadora é a sua etnicidade, grupos de fanáticos religiosos extremistas e outros que agem em procuração de potências estrangeiras.
12.1 As pistas
Sobre o próprio líder da coligação que tomou o poder, há que dizer que provêm da al-Qaeda. Como comandante do braço da al-Qaeda na guerra civil síria, foi uma figura sombria responsável por atos de extrema violência e que não aparecia em público, mesmo quando seu grupo se transformou na mais poderosa fação que combatia o presidente Bashar al-Assad. Trata-se de Abu Mohammed al-Julani, até dias atrás listado com terrorista pelos EUA e ONU.
Entretanto Al-Julani rompeu publicamente com a Al-Qaeda, dissolveu o Jabhat al-Nusra e criou uma nova organização, o HTS, uma fusão de vários outros grupos semelhantes. E, para já foi aceite pelas outras fações jihadistas como líder, com o fim de assegurar a governabilidade do país e aparece agora com propostas políticas minimamente sensatas e conciliadoras ostentando uma pose de um chefe de estado responsável.
No entanto da sua ação e declarações recentes não é possível antever que tipo de regime pretende construir.
Recordamos que, logo após a retirada dos EUA do Afeganistão os Talibans também proclamaram a sua maior moderação e prometeram que respeitariam alguns direitos. Se é verdade que a Sharia voltou a ser reinstalada de forma menos fundamentalista, não deixa de ser verdade que a situação das mulheres voltou de novo a um regime proto medieval, as proibições da música e outras proibições menos sonantes, mas igualmente bárbaras voltaram a estar na ordem dia.
Na Síria al-Julani diz-se regenerado e tem produzido declarações tranquilizadoras:
- Não defende já o terrorismo como meio de ação políticas
- Prometeu a dissolução do HTS
- Efetuou uma reunião recente com outros grupos jihadistas, anunciando que se aceitava o desarmamento das fações que se integrariam numa força nacional
- Proibiu atos de vingança contra funcionários do antigo governo
- Amnistiou soldados recrutados pelo exército
- Afirmou, sem se declarar democrata, que a Síria merece um sistema de governo institucional que não dependa da vontade de uma pessoa
Não será possível reproduzir todas as declarações conciliatórias e que carregam alguma esperança, mas todas vão num bom sentido.
Veremos como se sai o antigo e aparentemente arrependido terrorista como construtor de estados. Veremos se a sua reconversão é sincera ou apenas tática. Não se fique a pensar que na sua mente está a construção de uma democracia. Tal não é verosímil, mas admitamos que seja: A ser possível uma mudança no sentido proposto, sempre seria uma melhoria e nas condições atuais tratar-se-ia de um progresso.
Atente-se que apesar das ações e declarações acima reproduzidas, mantêm-se um clima de incerteza dado a falta de clareza e contexto de algumas dessas declarações, mas sobretudo por ser patente a dificuldade de as por em prática.
12.2 - Os obstáculos
Mas vamos assumir que al-Julani é sincero, que as suas declarações e atos diferem das dos Talibans e que deseja de fato uma sociedade mais aberta e tolerante, a unidade do país e a tolerância religiosa para com outras confissões. Conseguirá levar à prática essas boas intenções? Temos fundadas dúvidas
- O fundamentalismo não é tático, é estratégico. Mesmo que o líder queira mudar, aceitarão os seus apoiantes essa mudança?
- As divisões étnico-religiosas não desapareceram, continuam presentes e, mesmo já depois da queda de Assad se registaram confrontos entre o HTS e as forças curdas.
- Até ver, todos os grupos continuam armados e mesmo que venham a desarmar-se, o facto de o não estarem constitui terreno fértil para a ação de provocadores russos, iranianos ou pro Assad afim de gerarem incidentes armados e instalarem o caos.
- A Turquia já declarou a sua intenção de aniquilar os Curdos da Síria e para isso continuará com botas no terreno.
- No Exílio de Moscovo, por bravata ou não, Bashar al-Assad já afirmou que não desiste da Síria. Na realidade tem meios para isso, uma vez que parte do seu exército se refugiou no Iraque e entre estes está a Divisão Tigre, comandada por um indefetível do regime que se intitula a si próprio “O Tigre”. Tal seria risível se não se tratasse da divisão melhor preparada e equipada do exército de Assad.
- O Irão quererá recuperar a sua influência, através de proxys como o Hezbollah e tentando congregar os grupos Xiitas entre eles a famigerada divisão Tigre, para não permitir a consolidação do novo regime.
- A Rússia, terá sofrido uma derrota considerável dado o seu empenho no apoio ao regime caído e à situação de perigo em que ficaram colocadas as suas duas bases. As notícias de que dispomos são diversas e algumas discordantes. Segundo uns estariam em curso negociações com o novo governo sírio, segundo outros as bases seriam deslocadas para um outro país limítrofe, segundo os serviços secretos ucranianos a Rússia já teria retirado todos os seus navios e aviões.
Apenas se pode assegurar que o status das bases será alterado e seja de que maneira for isso realizado, constituirá sempre um duro golpe para as ambições estratégicas Russas no médio oriente, mediterrânio e para as suas operações africanas.
- A posição dos EUA com Trump é imprevisível, exceto no que toca ao apoio aos seus aliados Israelitas, e à oposição ao Irão. O mesmo se não poderá dizer quanto aos aliados Curdos que possivelmente, como vem sendo hábito, serão abandonados à sua sorte, não só para não antagonizar a Turquia (aliada da Nato e o seu maior exército na zona euroasiática), mas porque apoiá-los constitui uma “despesa desnecessária”.
- Não é ainda de descurar o interesse de países como a Arábia Saudita, uma das vencedoras, pela derrota do adversário Xiita e a vitória dos muçulmanos Sunitas. Quererá também ter uma palavra a dizer sobre o futuro da Síria
Existem ainda uma série de países grupos e organizações que direta ou indiretamente participaram na guerra civil que procurarão exercer influência e banquetear-se com os despojos do regime De Hafez e Bashar-al-Assad.
Todos os fatores apontados constituem desafios gigantescos e difíceis de ultrapassar. Se Al-Julani tem de fato as intenções que declarou, está já envolvido numa corrida contra o tempo, num ambiente caótico, com toda a gente armada até aos dentes, vinganças ancestrais por cumprir entre comunidades étnicas e religiosas distintas, radicalismo político e fanatismo, traições internas e pressões externas, orgulho ferido das grandes potências, e a ganância de todo o tipo de oportunista políticos.
Quase é de ter pena do antigo terrorista al-Julani, porque tudo aponta para que, infelizmente, não venha a ter sucesso. Infelizmente, pois, a conseguir ultrapassar a maioria destes obstáculos, o martirizado povo da Síria teria, não a democracia, mas talvez um pouco de paz para refazer as vidas perdidas, as suas famílias estilhaçadas e reconstruir os escombros de suas casas.
Insha'Allah!
Nota Final:
Os números negros da guerra civil na Síria
Mortos: mais de 500000 sendo civis mais de metade (Fonte: em Observatório dos Direitos Humanos)
Deslocados internos: 7,200,000 (Fonte: ONU)
Refugiados em países Europeus: 1,000,000
Refugiados em países limítrofes: 5,000,000 (Fonte ACNUR)
Necessidade urgente de assistência: 13,500,000 (Fonte: ONU)
Preceito islâmico: Para um homem que acredita em Allah e no seu Mensageiro é proibido colocar a sua mão na mão de uma mulher que não seja uma das suas mulheres. Quem faz isso fez mal a si mesmo (isto é, pecou). al-Julani cumpre zelosamente a regra, e não toca num ser "impuro".
Hafez-al-Assad Bashar al-Assad
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