Dissuasão, Escalada e Intimidação
por: Humberto Borges
Quando se verifica uma escalada numa guerra?
Uma escalada ocorre quando há um aumento significativo na intensidade, extensão ou complexidade de um conflito. Pode ser provocada por vários fatores, como:
• Aumento do uso de força
• Expansão geográfica
• Novos atores:
• Alterações nos objetivos
A escalada pode ser intencional (como uma tentativa de ganhar vantagem) ou acidental (por erros de cálculo, perceções erradas ou falhas na comunicação).
O que é a dissuasão e para que serve?
A dissuasão serve para evitar precisamente este tipo de escalada, ou mesmo impedir o início de uma guerra. Baseia-se em dois pilares fundamentais:
1. Capacidade: A demonstração de força suficiente para causar danos significativos ao adversário em caso de ataque.
2. Credibilidade: A garantia de que as ameaças feitas serão cumpridas.
A dissuasão pode revestir várias formas:
• Dissuasão nuclear
• Dissuasão convencional
• Dissuasão diplomática: (Sansões, isolamento e outras)
Em qualquer dos casos o objetivo é não perder um confronto seja mantendo o status quo de tal modo que nenhuma das parte possa clamar vitória ou derrota no campo de batalha , ou ganhar o confronto pela derrota ou desistência do adversário.
Ora, dá-se o caso de que este tema tem diferentes valorações quer o regime político em causa seja uma democracia ou uma ditadura.
Guerra, Paz Democracias e Ditaduras
Interessa-nos aqui analisar o tema da derrota sob o ponto de vista dos governantes.
Em democracia um governante que não atinge os seus objetivos na guerra não obtendo a vitória ou sendo derrotado, é destituído por meio de decisão do órgão legislativo do seu estado, ou perde eleições a seguir ao conflito, retirando-se calmamente da vida pública por uns tempos.
Acontece até, como com Churchill, perder as eleições após a vitória na Segunda Grande Guerra.
Em ditadura, uma derrota ou não falha na obtenção dos objetivos implica a derrocada do regime e, possivelmente a cabeça do ditador. As democracias são regimes mais adaptáveis à mudança do que as ditaduras. Estas últimas são muito mais rígidas menos maleáveis a circunstâncias adversas e normalmente partem em vez de dobrar.
O ditador derrotado e os seus apaniguados têm poucas saídas.
Ou se poem em fuga, ou como Hitler se suicidam nos seus bunkers, ou como Ceausescu são executados pelos seus próprios cúmplices.
Não digo que não existam ditadores que estejam neste momento a viver uma reforma descansada, mas admito que sim, mais por imperativo lógico do que para conhecer algum.
A esta luz será possível perceber algumas das movimentações que têm sido operadas na guerra da Rússia na Ucrânia bem como algumas das posturas assumidas pelos vários lideres envolvidos
O atual confronto da Rússia e do Ocidente
O que acontece na Ucrânia neste momento é uma guerra para alterar o equilíbrio de forças a nível mundial e afirmar não a liberdade soberania e autonomia dos povos como a propaganda Euroasianista afirma, mas apenas para operar uma reorganização de esferas de influência e consequentemente os respetivos senhorios .
Acontece que a Ucrânia estava simplesmente a meio do caminho que a Rússia pretende trilhar.
O Epicentro do dilema Ucraniano
Aparentemente o sistema de dissuasão não funciona neste conflito porque Rússia e Ocidente se deixaram entrincheirar em becos sem saída.
Visto do lado Europeu
Teoricamente o Ocidente, particularmente a Europa, uma vez que os EUA não são um aliado constante, já teria contribuído com a Ucrânia para negociar um acordo de paz.
O Problema é que melhor ou pior ,mais ou menos rapidamente, os lideres ocidentais têm vindo a tomar consciência que as intenções russas não se ficam pela Ucrânia. A guerra naquele país tornou-se também uma questão de sobrevivência para a União Europeia e para os regimes políticos baseados no Estado de Direito por toda a Europa.
De hesitação em hesitação em hesitação vão negando este ou aquele apoio a Zelensky, par logo depois, tarde e a más horas, virem a cedê-los ( tanques, artilharia, defesas anti aéreas munições e ultimamente misseis de médio Longo alcance), sempre na esperança de que entretanto as sansões e o acréscimo de capacidades militares de Kiev, obrigue a Rússia a negociar.
Visto do lado Russo
A Rússia porém, não o pode fazer pois não alcançou a 100% nenhum dos objetivos a que se propôs com a invasão. Para tão escassos resultados apenas pode apresentar dois Oblasts ocupados e o de Donetsk apenas parcialmente, uma Ucrânia arrasada e dezenas de milhares de mortos por cada quilómetro da Ucrânia ocupada. Não parou o avanço da NATO, pelo contrário e muito menos desnazificou.
O facto é que a Rússia impregnada de euroasianismo e revisionismo histórico estava convencida que em dias seria senhora de toda a Ucrânia e as suas tropas invasoras seriam recebidas como libertadoras. Porquê. esta bizarria e desfoque da razão, pensariam isso?
Eis a resposta: Os Ucranianos irmãos eslavos sem os quais não há Eurásia são parte integrante da Mãe Rússia e querem ser acolhidos no seu seio. Porque resistem então? Não são eles que resistem, afirmam!. A mitologia euroasianista diz que então são os tais nazis e agentes estrangeiros. Infelizmente para eles a maioria dos cerca de 40 milhões de nacionais ucranianos não pensa assim e tendo sofrido longos período de domínio dos seus “irmãos eslavos” da Rússia, não está disposta a repetir a experiência.
Obviamente, Putin não pode justificar as centenas de milhares de mortos, as perdas significativas da Marinha e o pouco progresso territorial, voltando para casa com apenas isso para oferecer. O regime ficaria em causa e ele com o regime.
Pode Haver negociações?
Claro que sim. A qualquer um é permitido e útil afirmar que quer negociar. O problema é se quer negociar a paz ou se quer negociar a rendição do inimigo. E ao regime Russo apenas lhe serve a Vitória.
Por isso não é de esperar que a manifestada disponibilidade para negociar a paz seja sincera neste momento.
Vive-se um momento de suspense e indefinição depois da eleição de Trump em que tudo ou nada podem acontecer.
No entanto há sinais de desgaste dos dois lados e enquanto se espera pela entrada de Trump em cena, ambas as partes admitirão que terão que se sentar à mesa. E, enquanto tal acontece qualquer das partes procura fortalecer a sua posição e fortalecer os seus argumentos.
Os Ucranianos procuram fazê-lo detendo parte do território Russo em Kursk, aumentando a capacidade de efetuar ataques em profundidade em território russo e demonstrando à Rússia o elevado preço a pagar por cada metro de avanço em território da Ucrânia.
Os Russos fazem-no progredindo de forma lenta mas sustentada em território Ucraniano, danificando em mais de 50% a sua capacidade de produção de energia e, por acréscimo a sua florescente indústria militar ou respondendo com a crescente potência alcance e sofisticação dos seus meios de ataque.
Dissuasão nuclear e intimidação
É patente que a Federação Russa conduz uma guerra híbrida em todo o mundo e contra todos os seus adversários. Essa guerra passa pelo domínio do digital da (des)informação e da propaganda. Parte da estratégia de propaganda consiste na ameaça de uso do seu poder nuclear. A Rússia possui o maior arsenal nuclear do mundo, estimado entre 5,000 a 6,000 ogivas nucleares e isso é bem conhecido
O agitar da bandeira da ameaça nuclear normalmente pela mão de Medvedev, tem sido recorrente desde o início da invasão da Ucrânia e tem assumido desde a forma de um mero lembrete de que a Rússia possuía armas nucleares, à “casual” discussão pública da possibilidade de uso de armas nucleares táticas até à ameaça de destruir Londres em dois minutos, entre outras.
Trata-se de uma mera estratégia de intimidação das populações europeias deliberadamente concebida de forma a fazê-las pressionar os seus timoratos dirigentes no sentido da “paz” ou em os fazer votar nos partidos populistas de extrema direita, todos eles putinistas e que se apresentarão a eleições como defensores da “paz”,( também são defensores da guerra se lhes der jeito).
De facto a estratégia russa pressupõe que a população europeia é facilmente influenciável. O conjunto de atributos que os russos associam aos europeus seriam insultuosos se fossem verdadeiros. Assim, o cidadão médio europeu seria um sujeito desvirilizado, comodista, cioso dos seus direitos mas displicente em relação aos seus deveres, focado nos seus interesses pessoais e indiferente à sorte dos seus concidadãos. Seriam assim vulneráveis ao medo e à intimidação
Para isso contam com o seu contingente de apoiantes, assalariados ou verdadeiros crentes que nas redes sociais clamam por paz em nome das vítimas passando de lado o facto de que as vitimas resultaram de uma agressão militar russa e que a “paz” pela qual rasgam as vestes consiste na eliminação de um país da sua identidade ou cultura.
Seria aliás interessante fazer uma experiência com um dos agentes/crentes putinistas da TV:
Pegava-se num deles e amarravam-se-lhe as mãos atrás das costas. Recrutava-se um segundo sujeito encarregado o agredir repetidamente. A questão que se teria que colocar ao agente/crente seria a seguinte:- "Queres Paz ou queres que te liberte as mãos? Está descansado que o tipo que te está agredindo promete não voltar a fazê-lo mesmo que continues amarrado" .
Seria curioso saber a resposta.
Poderá eclodir uma guerra Nuclear?
A resposta é: Não, a não ser que……
Quando se fala na possibilidade de uma guerra nuclear, recordo-me sempre de um filme de Stanley Kubrik: “Dr Strangelove”, filmado em plena guerra fria pouco depois da crise dos misseis de Cuba. Nessa época o nuclear era ainda recente (o filme é de finais da década de 60) e vivia-se uma perfeita paranoia social em relação à possibilidade de um ataque atómico. O atual ambiente na Europa, não é comparável, mas é a esse extremo que a guerra russa na nossa comunicação social pretende que cheguemos.
O filme explora a possibilidade de um comandante americano com problemas mentais ordenar um ataque a um silo de misseis russo, desencadeando assim o fim da civilização.
A hipótese de Erro Humano
Não se pode negar que o aumento generalizado da tensão entre o Ocidente e a Rússia e a situação nos campos de batalha propiciam a possibilidade de se cometerem erros. O que é diferente hoje é a capacidade de controle, deteção e de desencadear um ataque nuclear.
Portanto, a probabilidade de que um erro humano possa dar origem a uma confrontação com uso de armas nucleares é diminuto, senão inexistente.
Encurralamento
Se Putin se sentir em risco, ele pessoalmente, não a Rússia, em desespero poderá faze-lo. Putin é no entanto, um homem bastante racional. Tem o demonstrado ao longo do seu percurso politico e de líder.
Einstein quando perguntado por um repórter leviano como seria a Terceira Guerra Mundial respondeu que sobre a terceira nada sabia mas que a quarta seria travada com pedras e paus.
Putin sabe disso, e até Medvedev sabe disso e conhecem o conceito MAD (Mutual Assured Destruction) ou seja Destruição Mútua Garantida, que é de facto a única coisa possível de garantir perante essa possibilidade. Mesmo que Putin viesse a estar na situação de Hitler encerrado no seu bunker com as tropas inimigas a 100m de distância, mesmo assim Putin não premeria o botão vermelho, carregando consigo a culpa da mais que certa extinção da civilização. Já quanto a Hitler, se ele dispusesse dessa opção, por ele não poria as mãos no fogo.
Não é por acaso que praticamente todos os dirigentes ocidentais concordam e agem de forma a não deixar que a situação se extreme ao ponto de Putin se encontrar sem saídas.
A propaganda Russa em Portugal
Quem são os protagonistas?
Os protagonistas da influência russa em Portugal podem ser divididos em três categorias principais:
Ativistas e movimentos pró Rússia
Certos grupos ou indivíduos, frequentemente associados a posições anti ocidentais ou eurocéticas.
Partidos ou figuras políticas
que adotam discursos populistas, nacionalistas.
Movimentos anti sistema
que veem a Rússia como um contrapeso às "elites globais" ou à UE.
Analistas e comentadores mediáticos
Alguns comentadores em jornais e programas de TV.- Personalidades que se apresentam como "analistas neutros" ou especialistas em defesa.
Jornais digitais ou sites
que reproduzem desinformação russa sem uma verificação rigorosa.
Intervenção digital e bots
Campanhas coordenadas em redes sociais amplificam vozes favoráveis à Rússia e atacam adversários do Kremlin. Esta presença digital é difícil de rastrear diretamente, mas já foram identificadas campanhas semelhantes em vários países da UE, e Portugal não é imune. Recentemente tem-se verificado uma ligeira mas constante inflexão em favor da “paz”, em que hipocritamente alguns comentadores fingem assumir as penas do martirizado Povo Ucraniano e lamentando as mortes e dificuldades provocadas por aqueles que as provocaram: a força invasora Russa.
Outros, recendo afetar o seu bem estar ou os seus negócios apelam ao pragmatismo, não menos hipocritamente que os outros.
Essa propaganda tende a intensificar-se e é essencial não nos deixarmos embalar pelo canto da sereia putinista.
Cada um que resiste esse, acrescenta mais um pouco à causa da PAZ. Da verdadeira PAZ. Não se poderá qualificar de PAZ uma situação em que uma das partes fica em “liberdade provisória” sempre na iminência de um acesso de “imperialismo” de um vizinho poderoso perante o qual a comunidade das democracias se ajoelha.
É essencial resistir ao canto da sereia da propaganda russa.
A verdadeira paz só será possível com o respeito pela soberania e pela autodeterminação dos povos. Ceder à chantagem do Kremlin significaria trair esses princípios fundamentais.
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