A Estratégia da Rússia em África
O Papel do Grupo Wagner

A estratégia da Rússia em África é uma mistura complexa de cooperação e exploração. Embora ofereça algumas vantagens imediatas para os seus parceiros, as práticas do Grupo Wagner e o foco em interesses russos levantam preocupações sobre os custos a longo prazo para os países africanos. A presença russa não é apenas uma questão económica ou militar; trata-se de uma batalha pelo futuro geopolítico de África e pela forma como o continente lida com as potências externas.

O que é o Grupo Wagner?

Temos que falar sobre esta organização para militar, dada a sua importância ma estratégia da Rússia em África.
O Grupo Wagner, uma organização paramilitar russa, escolheu o seu nome como uma referência ao compositor alemão Richard Wagner, famoso pelas suas óperas e pelas associações que a sua música teve com o nacionalismo alemão e o nazismo. Esta escolha de nome está relacionada com o fundador do grupo, Dmitry Utkin, um antigo oficial das forças especiais russas e admirador declarado da Alemanha nazi. Utkin, que usava o nome de código "Wagner", adotou este pseudónimo em honra do compositor, que também era o preferido de Adolf Hitler.

Embora oficialmente a Rússia negue uma ligação com o Grupo Wagner, o nome serve como um símbolo do ethos militarista e ultranacionalista que permeia as suas operações. Em comparação com a Darknet podemos chamar ao grupo Wagner, a DarkRússia. Existe para executar o trabalho sujo e ilegal e tantas vezes criminoso, que a Rússia deseja executar, na Ucrânia e em África mas que não quer que a sua imagem seja envolvida diretamente.

É curioso que Putin fale em desnazificação da Ucrânia, quando ela própria alimentou e alimento um grupo de inspiração nazi. A relação de Putin com a verdade, é amplamente conhecida: ele não olha a meios para a tentar influenciar a opinião pública , sobretudo a da Europa. Realmente o que Putin tenta fazer na Ucrânia, é a "Bielorussificação" deste estado independente. Não se trata de eliminar neonazis mas de russificar, ou seja de criar um estado vassalo e fantoche como a Bielorrússia é.

A morte de Prigozhin

Nada nos interessa escalpelizar a morte do criminoso e assassino Yevgeny Prigozhin, líder do Grupo Wagner e amigo de Putin. Como diz o adágio popular: Quem com ferros mata com ferros morre. Pena é que este adágio não se cumpra sempre.

De facto, Yevgeny Prigozhin, líder do Grupo Wagner, morreu em 23 de agosto de 2023, num acidente de avião na região de Tver, Rússia. O avião privado Embraer Legacy, que levava Prigozhin e outros altos membros do grupo, incluindo Dmitry Utkin, cofundador da Wagner, despenhou-se durante um voo de Moscovo para São Petersburgo. Segundo as autoridades russas, todos os ocupantes morreram, com os corpos encontrados carbonizados, necessitando de identificação por testes de ADN​. O contexto político e o papel do Grupo Wagner como instrumento de influência russa tornam a morte de Prigozhin um episódio envolto em mistério e especulação. Estes não caíram de varandas, como tantos outros, (as varndas russas são muito perigosas), estes caíram de avião.

O neo-colonialismo

O neocolonialismo refere-se a uma forma de dominação e exploração que, embora não envolva a ocupação territorial direta, como no colonialismo tradicional, perpetua relações desiguais entre países ou regiões. Este conceito descreve como as potências mais influentes, especialmente do Ocidente, da Ásia e da Eurásia, exercem uma influência económica, política, cultural e tecnológica sobre nações menos desenvolvidas, muitas vezes antigas colónias.

Em África, a Rússia nunca teve colónias. Contudo, pode-se argumentar que exerce uma política equivalente ao neocolonialismo, com um tipo de dominação que, em certos casos, pode ser ainda mais agressiva do que as políticas neocoloniais desenvolvidas pela França e pelo Reino Unido, os principais responsáveis por este tipo de práticas no continente africano.

Portugal, por sua vez, foi o último país europeu a descolonizar e não possui, nem nunca possuiu, capacidade para implementar uma política neocolonial. Porquê? A primeira razão é, provavelmente, a sua limitada capacidade económica. Contudo, há outras razões igualmente significativas: a incompetência política do regime de Salazar e o tipo de descolonização por ele conduzida. Enquanto a França e, sobretudo, o Reino Unido prepararam elites locais para assumir a governação após a independência — criando assim condições para perpetuar, de forma disfarçada, a influência colonial através de uma transição de poder planeada — Salazar insistiu, até ao final da sua vida, na ideia anacrónica de que os territórios coloniais em África eram "parte integrante de Portugal". Este posicionamento levou à ausência de qualquer esforço sério para educar e capacitar os povos sob o domínio colonial.

Um exemplo paradigmático desta política é o facto de o governo independente de Angola, em apenas 50 anos, ter feito muito mais pela promoção e utilização da língua portuguesa no país, do que Portugal em cinco séculos de colonização. Este contexto é relevante porque a Rússia, ao sustentar que nunca teve colónias em África, nega exercer qualquer tipo de dominação neocolonial no continente. No entanto, a sua chamada "cooperação" com ex-colónias francesas é, frequentemente, mais predatória e menos vantajosa para os países africanos do que o próprio neocolonialismo francês.

Porém, é fundamental sublinhar que nenhuma destas práticas merece qualquer tipo de aprovação. Tanto o neocolonialismo francês como as práticas russas são sistemas de exploração e dominação. Não existe um "neocolonialismo bom" e outro "mau". Ambos são prejudiciais e perpetuam desigualdades e devem ser rejeitadas.

por: Simon Ben-David

A morte de Prigozhin diz-nos muito sobre a politica Russa

Mapear cenários futuros

A presença da Rússia em África reflete uma estratégia bem delineada para expandir a sua influência global, contrabalançar o poder ocidental e reforçar a sua economia e posição geopolítica. Esta abordagem combina diplomacia estatal, acordos económicos e o uso de atores não estatais, como o Grupo Wagner, numa mistura de cooperação. A Rússia tem a tarefa facilitada sobretudo com os estados governados por ditaduras ou regimes autoritários, pois , não tem qualquer tipo de preocupações com direitos humanos, democracia ou transparência. Essa falta de escrutínio permite à Rússia operar livremente, oferecendo apoio militar e económico em troca de recursos naturais e alianças políticas. Além disso, a retórica antiocidental promovida pelo Kremlin é bem vista em muitos países africanos, que veem Moscovo como um parceiro estratégico para escapar à influência histórica das potências coloniais.

No entanto, essa relação levanta preocupações significativas. A dependência de regimes autoritários reforça dinâmicas de poder opressivas, enquanto a exploração de recursos naturais frequentemente não beneficia a população local, perpetuando ciclos de pobreza e desigualdade. À medida que a presença russa se intensifica, cresce o risco de conflitos regionais e da erosão de esforços internacionais para promover a paz e a estabilidade no continente. No final do dia, a presença da Rússia em África é um exemplo claro de como o pragmatismo geopolítico pode sobrepor-se a princípios éticos, com consequências potencialmente devastadoras para a soberania e o desenvolvimento sustentável das nações africanas.

Objetivos da Rússia em África

A estratégia russa baseia-se em vários objetivos principais:

  1. Recursos Naturais: A Rússia procura acesso a vastos recursos africanos, incluindo petróleo, gás, ouro, diamantes e minerais estratégicos como o cobalto e o urânio, cruciais para indústrias de alta tecnologia.

  2. Influência Geopolítica: Reafirmar-se como uma potência global e reduzir a influência dos EUA e da União Europeia em África. A Rússia vê o continente como um campo de batalha estratégico numa nova Guerra Fria.

  3. Parcerias Militares e Armamento: A Rússia é um dos principais fornecedores de armas a países africanos, consolidando alianças e fomentando a dependência militar.

  4. Isolamento Diplomático do Ocidente: Ao garantir votos africanos em organizações internacionais como a ONU, a Rússia procura atenuar sanções e críticas à sua política externa, incluindo as ações na Ucrânia.

  5. Consolidação de Regimes Aliados: Moscovo apoia regimes autoritários que resistem às normas ocidentais de democracia e direitos humanos, garantindo aliados leais.

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Presença Russa em Países Africanos-Chave

1. República Centro-Africana (RCA)

A RCA tornou-se um dos maiores exemplos da estratégia russa em África. Desde 2018, o Grupo Wagner tem desempenhado um papel central, oferecendo segurança ao governo de Faustin-Archange Touadéra em troca de acesso a minas de ouro e diamantes. A Rússia também fornece armas e treina as forças armadas locais.

2. Mali

Após o golpe de estado de 2021, o governo militar do Mali voltou-se para a Rússia, substituindo a presença militar francesa por mercenários do Grupo Wagner. Estes têm sido acusados de violações de direitos humanos em operações contra grupos insurgentes.

3. Sudão

A Rússia manteve laços estreitos com o Sudão, especialmente durante o regime de Omar al-Bashir. Em troca de apoio político, o Grupo Wagner ajudou a explorar minas de ouro e consolidar o controlo do governo sobre áreas estratégicas.

4. Líbia

Na guerra civil líbia, o Grupo Wagner apoiou o general Khalifa Haftar, fornecendo forças de combate, apoio logístico e armamento. Este envolvimento reflete a tentativa russa de garantir influência no Norte de África e no Mediterrâneo.

5. Moçambique

O Grupo Wagner foi contratado para combater insurgentes islâmicos no norte do país, embora a operação tenha enfrentado contratempos devido à falta de experiência em terreno africano.

6. Madagáscar

A Rússia interferiu nas eleições de 2018 em Madagáscar, apoiando candidatos favoráveis aos seus interesses económicos, particularmente no setor mineiro.

A conclusão é simples: A Rússia não tem qualquer problema em apoiar, e mais que apoiar ser peça principal em golpes antidemocráticos dos sobas africanos. Em troca exige acesso a recursos existentes nesses países.

Comparação das politicas para África da Rússia com as da China

A políticas da Rússia e da China em África apresentam semelhanças estratégicas, mas divergem significativamente em termos de execução, alcance e impacto. Ambas as potências buscam consolidar a sua influência global através de alianças com países africanos, mas os métodos e os objetivos de cada uma refletem diferenças fundamentais. A análise detalhada revela que, enquanto a China adota uma abordagem mais estruturada e de longo prazo, a Rússia recorre frequentemente a métodos oportunistas e potencialmente desestabilizadores.

A Abordagem Chinesa: Infraestruturas e Economia

A China tem investido massivamente em África nas últimas décadas, adotando uma estratégia de "soft power" através de projetos de infraestrutura, como estradas, portos, caminhos-de-ferro e barragens. Este modelo insere-se na iniciativa da Nova Rota da Seda, que visa integrar os mercados africanos na economia global, com Pequim no centro. Além disso, a China oferece empréstimos a taxas competitivas, firmando parcerias económicas que, embora criticadas por criarem dependência financeira, têm promovido, em muitos casos, o desenvolvimento de setores cruciais.

A política chinesa é criticada por favorecer regimes autoritários e fechar os olhos a práticas corruptas, mas a sua ênfase no desenvolvimento económico proporciona uma fachada de benefícios palpáveis. No entanto, a China tende a evitar envolvimento direto em conflitos militares, optando por influenciar através de investimentos e cooperação técnica.

A Estratégia Russa: Militarização e Desestabilização

Em contraste, a Rússia tem uma abordagem mais limitada e frequentemente mais disruptiva. Com recursos económicos mais escassos do que a China, Moscovo recorre a uma combinação de fornecimento de armas, envio de mercenários (nomeadamente através do Grupo Wagner) e alianças com regimes autoritários em troca de acesso a recursos naturais, como petróleo, gás e metais preciosos.

Enquanto a China procura estabilidade para garantir o retorno dos seus investimentos, a Rússia muitas vezes beneficia o caos. O apoio russo a regimes fragilizados ou isolados, como no caso do Mali ou da República Centro-Africana, reforça lideranças autocráticas, mas alimenta tensões internas e regionais. Os mercenários russos estão envolvidos em práticas brutais, incluindo violações de direitos humanos e exploração ilícita de recursos, o que agrava os problemas de governança nos países onde operam.

Comparação e Impacto

A Rússia, ao contrário da China, não tem uma visão a longo prazo para África. Enquanto Pequim procura moldar o continente como um parceiro económico estratégico, Moscovo explora oportunidades momentâneas para reforçar a sua influência geopolítica e garantir recursos essenciais para sustentar a sua economia sob sanções internacionais.

A política russa é particularmente prejudicial porque fomenta dependência sem oferecer desenvolvimento sustentável. A presença militar russa não constrói infraestruturas nem promove crescimento económico. Em vez disso, perpetua regimes repressivos e mina os esforços de democratização e estabilização regional.

Embora tanto a China como a Rússia procurem maximizar os seus interesses em África, as suas estratégias produzem resultados distintos. A China, apesar das suas práticas criticáveis, deixa um legado tangível em termos de desenvolvimento, enquanto a Rússia se limita a colher lucros imediatos à custa da estabilidade e do progresso africano. A política russa é, portanto, mais perniciosa a longo prazo, contribuindo para a perpetuação de conflitos e regimes autoritários, sem oferecer soluções estruturais para os desafios do continente.

E o Ocidente?

A relação do Ocidente com África é marcada por um passado colonial e por práticas contemporâneas que frequentemente colocam em causa os valores que as potências ocidentais dizem defender, como os direitos humanos, a democracia e o desenvolvimento sustentável. Apesar de iniciativas destinadas a promover o progresso no continente, os EUA a Grã-Bretanha e a União Europeia também não ficam isentos de críticas, apresentando várias falhas na sua abordagem, quando se trata de cooperação com África. Entre o neocolonialismo económico, a hipocrisia política, o apoio a regimes autoritários e sobretudo a intervenções militares desastrosas, as potências ocidentais perpetuam uma relação desequilibrada e prejudicial. com os países africanos. Para que esta relação se torne verdadeiramente benéfica. é necessário repensar as dinâmicas de poder, abandonando práticas exploratórias e promovendo uma parceria mais equitativa e respeitadora da soberania dos países africanos.

Talvez o maior exemplo do desastre de uma intervenção do Ocidente em África tenha sido Intervenção na Líbia (2011).

Motivo e Contexto: Em 2011, durante a Primavera Árabe, rebeliões contra o regime de Muammar Kadhafi ganharam força na Líbia. A NATO, liderada pelos Estados Unidos, França e Reino Unido, interveio militarmente com o objetivo declarado de proteger civis de uma repressão violenta. Esta intervenção foi autorizada pela Resolução 1973 do Conselho de Segurança da ONU.

Consequências:

  • Queda do Regime e Vácuo de Poder: A intervenção levou à queda de Kadhafi, mas não foi acompanhada por um plano de estabilização ou reconstrução. O país mergulhou num caos político, tornando-se um campo de batalha entre fações rivais e milícias.

  • Aumento do Extremismo: A ausência de uma autoridade central permitiu que grupos extremistas, incluindo o Estado Islâmico, se estabelecessem no país.

  • Crise Migratória: A Líbia tornou-se um ponto de passagem crucial para migrantes africanos que tentam chegar à Europa, muitos dos quais enfrentam condições desumanas e exploração por traficantes de pessoas.

  • Desestabilização Regional: A queda de Kadhafi desestabilizou países vizinhos, como o Mali, ao libertar armas e militantes, contribuindo para o aumento do terrorismo no Sahel.

Conclusão: A intervenção militar foi eficaz em depor Kadhafi, mas desastrosa na gestão do pós-guerra, resultando numa crise prolongada que ainda persiste.

Mas atenção: O fracasso desta intervenção do Ocidente na Líbia não justifica nem compensa o que a Rússia faz em África, e as atrocidades que comete. São ambas as políticas muito nocivas para o continente africano.

Metodologia Russa em África

  1. Diplomacia Militar: A Rússia oferece armamento e forma forças militares locais.

  2. Diplomacia Económica: Os acordos económicos são frequentemente feitos com concessões mineiras em troca de apoio militar ou político.

  3. Discurso Anti-Ocidental: A Rússia posiciona-se como uma alternativa ao neocolonialismo ocidental, promovendo a narrativa de soberania africana.

  4. Atores Não Estatais: O uso de Wagner permite negar oficialmente responsabilidades por abusos e violações.

Ações que são atribuídas ao Grupo Wagner:

Embora oficialmente separado do governo russo, Wagner atua como um braço informal da política externa russa. São os mercenários deste Grupo que são responsáveis por todo o trabalho sujo, como sejam

Operações do Grupo Wagner

  • Serviços de Segurança e Mercenários: Fornecem segurança a líderes africanos e realizam operações militares contra rebeldes e insurgentes.

  • Exploração de Recursos: Em troca de serviços militares, Wagner frequentemente obtém direitos de exploração de recursos naturais.

  • Propaganda e Manipulação Eleitoral: Apoiando regimes autoritários, Wagner dissemina desinformação e influencia resultados eleitorais.

Repressão e Violação de Direitos Humanos: O grupo tem sido acusado de massacres, tortura e outros crimes em África, sendo responsável por consolidar regimes opressivos.

Para que não se fique com a ideia que o Grupo Wagner é insignificante para a estratégia Russa, vamos detalhar as suas ações:

Apesar de oficialmente não estar ligado ao governo russo, o grupo é amplamente reconhecido como um instrumento chave da política externa russa, permitindo a Moscovo perseguir os seus interesses de forma encoberta, evitando a responsabilidade direta. A sua atuação é marcada por ações brutais, violações de direitos humanos e envolvimento em conflitos que servem os objetivos geopolíticos da Rússia. Eis uma análise detalhada do trabalho sujo que o Grupo Wagner realiza:

1. Operações Militares em Zonas de Conflito

O Grupo Wagner tem operado em várias zonas de conflito, assumindo um papel que mistura mercenarismo com os interesses estratégicos russos:

  • Síria: Desde 2015, o Grupo Wagner tem estado presente na Síria, apoiando o regime de Bashar al-Assad. O grupo participou em ofensivas cruciais para recuperar territórios controlados por rebeldes e grupos jihadistas. Em troca, assegurou acesso a contratos lucrativos na exploração de petróleo e gás.

  • Ucrânia: Desde 2014, Wagner esteve envolvido no leste da Ucrânia, apoiando as forças separatistas pró-Rússia nas regiões de Donetsk e Lugansk. Após a invasão de 2022, o grupo foi usado em operações de combate de alta intensidade, desempenhando um papel central em batalhas como a de Bakhmut.

2. Interferência em África

O continente africano tornou-se um palco importante para as operações do Grupo Wagner, onde atua como uma extensão informal da política russa:

  • República Centro-Africana (RCA): Wagner apoia o governo do presidente Faustin-Archange Touadéra contra grupos rebeldes. Em troca, o grupo obteve concessões para explorar minas de ouro e diamantes. As forças de Wagner são acusadas de tortura, execuções sumárias e outras atrocidades contra civis.

  • Mali: Após a retirada de tropas francesas, o Grupo Wagner foi contratado pelo governo maliano para combater grupos jihadistas. No entanto, a sua presença é marcada por alegações de massacres e abusos contra populações locais.

  • Sudão e Líbia: Em ambos os países, Wagner apoia fações armadas em troca de acesso a recursos naturais e influência estratégica.

3. Desinformação e Manipulação Política

Wagner não se limita ao combate militar. O grupo também está envolvido em campanhas de desinformação para moldar a opinião pública e enfraquecer regimes ou governos adversos:

  • Operações de Propaganda: Em países africanos, Wagner financia e opera campanhas de propaganda pró-russas, promovendo sentimentos antiocidentais e glorificando a intervenção russa.

  • Influência Eleitoral: O grupo, através de redes associadas, foi acusado de interferir em processos eleitorais para favorecer candidatos pró-Rússia ou desestabilizar democracias.

4. Atos de Violência Extrema e Terror

Wagner é conhecido pela sua brutalidade, recorrendo a métodos de extrema violência para intimidar e controlar:

  • Execuções Sumárias: O grupo é acusado de torturar e executar prisioneiros de guerra e civis, como foi amplamente documentado na Síria e em África. Um dos casos mais conhecidos foi o assassinato brutal de um desertor sírio, filmado e divulgado como uma forma de enviar uma mensagem de terror.

  • Repressão de Dissidência: Em países como a RCA, Wagner tem sido usado para reprimir a oposição política, muitas vezes através de intimidação, desaparecimentos forçados e assassinatos.

5. Exploração de Recursos Naturais

Uma parte significativa das operações de Wagner visa assegurar o controlo de recursos naturais estratégicos, que são utilizados para financiar as suas operações e reforçar a economia russa:

  • Minerais e Petróleo: Em países como a RCA, Sudão e Síria, Wagner explora minas de ouro, diamantes e petróleo, frequentemente em condições que ignoram os direitos laborais e ambientais.

  • Concessões Lucrativas: Os acordos que Wagner estabelece com governos autoritários garantem à Rússia acesso privilegiado a recursos, enquanto Moscovo fornece apoio militar e político.

6. Função de Desestabilização Geopolítica

O Grupo Wagner também atua para desestabilizar regiões estrategicamente importantes, dificultando os esforços ocidentais para promover a paz e a estabilidade:

  • Desafiar a Presença Ocidental: Em locais onde a presença ocidental é significativa, como no Sahel, Wagner atua para minar as operações da ONU e de países como França, reforçando a narrativa de que os países africanos devem optar por alianças com a Rússia.

  • Criar Dependência: A sua atuação militar cria uma dependência por parte dos regimes apoiados, garantindo que esses países se alinhem com os interesses geopolíticos russos.

Ibrahim Traoré - Burquina Fasso - com Vladimir Putin na Cimeira Rússia-África

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A estratégia da Rússia em África, enquanto pretende projetar influência global e obter vantagens económicas, revela uma faceta profundamente inquietante de neo-imperialismo disfarçado de cooperação. Embora Moscovo apregoe uma retórica de apoio às nações africanas, oferecendo parcerias militares e económicas, o que realmente se observa é uma exploração cínica de regiões instáveis e governadas por elites corruptas.

O Grupo Wagner, braço militar não oficial do Kremlin, tem sido o principal agente desta intervenção. Sob o pretexto de fornecer segurança, a Wagner lucra com a exploração de recursos naturais como ouro e diamantes, em contratos opacos que frequentemente beneficiam apenas as elites locais e os seus aliados russos. Este modelo perpetua o subdesenvolvimento e a dependência externa, ao mesmo tempo que fortalece regimes autoritários.

Por trás da máscara da ajuda mútua, a Rússia reconfigura a soberania africana em favor dos seus próprios interesses estratégicos. Ao fomentar instabilidade e ao financiar grupos armados, Moscovo enfraquece ainda mais os já frágeis Estados africanos. Este comportamento contrasta fortemente com as narrativas de "libertação" que a Rússia tenta promover, revelando uma lógica imperialista que perpetua o ciclo de opressão e exploração.

Num continente que já sofreu os horrores do colonialismo, a presença russa pode ser vista como um novo tipo de dominação. Esta estratégia transforma África num campo de batalha geopolítico, onde os direitos humanos, o desenvolvimento sustentável e a autonomia das nações são frequentemente sacrificados em prol de objetivos de poder global.