De Chávez a Maduro

Por: Simon Ben-David

Venezuela: Como devemos chamar a Maduro? Tiranete? Tirano Amador? ou simplesmente Cacique?
Mas não se enganem a respeito dos danos que este homem já causou ao seu povo.
A sua incompetência e autoritarismo transformaram a Venezuela, um país rico em recursos naturais, numa nação mergulhada em pobreza extrema, fome, corrupção desenfreada e repressão brutal. Sob a sua liderança, o país viu a hiperinflação destruir o poder de compra da população, o colapso dos serviços básicos e uma emigração em massa sem precedentes, com milhões de venezuelanos fugindo em busca de melhores condições de vida.

Sob o disfarce de um líder popular, Maduro transformou a Venezuela num laboratório de miséria e autoritarismo. O seu governo destruiu o tecido económico do país, desviou recursos em benefício da elite governante e sufocou qualquer dissidência através de violência, censura e prisões arbitrárias. O colapso dos serviços essenciais, como saúde e educação, bem como a escassez de alimentos e medicamentos, são testemunhos cruéis da sua incapacidade e desprezo pelo povo que diz representar.

Mas não nos enganemos: apesar de incompetente, Maduro é um mestre em perpetuar-se o poder. Para ele vale tudo.

instituições, desmantela o sistema democrático e conta com o apoio de forças externas e internas que lucram com o caos. Ele não é apenas um vigarista; é um símbolo de como o autoritarismo moderno pode mascarar-se de resistência ao "imperialismo" enquanto oprime aqueles que mais precisam.

A questão não é só como devemos chamá-lo, mas como podemos evitar que líderes como ele continuem a perpetuar regimes que trocam promessas vazias por vidas destruídas. A Venezuela merece mais do que um tirano travestido de libertador.

Maduro Superman
Maduro Superfashion
Maduro Superstar
Hugo Chávez: O Caminho para a Revolução Bolivariana

Hugo Chávez chegou ao poder na Venezuela em 1999, impulsionado pela insatisfação popular com o sistema político e económico. Nas décadas de 1980 e 1990, o país enfrentava uma crise económica grave, provocada pela queda nos preços do petróleo, má gestão governamental e corrupção. A dependência do petróleo e a incapacidade dos partidos tradicionais, Acción Democrática (AD) e Copei, de resolverem a crise, alimentaram o descontentamento social.

Nesse contexto, Chávez, um militar de formação, emergiu como uma figura carismática e anti-sistema. Influenciado pelo nacionalismo de Simón Bolívar, fundou o Movimento Bolivariano Revolucionário 200 e, em 1992, liderou um golpe de Estado contra o presidente Carlos Andrés Pérez. Apesar do fracasso e da prisão, Chávez consolidou sua imagem como líder popular. Libertado em 1994, continuou a fortalecer sua posição política, defendendo a justiça social e o combate à corrupção.

Em 1998, Chávez candidatou-se à presidência, prometendo uma "revolução bolivariana" com reformas sociais e redistribuição da riqueza. A sua retórica anti-imperialista e propostas de nacionalizar a indústria petrolífera conquistaram apoio massivo, especialmente entre os mais pobres. Ele venceu com 56% dos votos, representando a esperança de uma mudança radical.

No poder, Chávez convocou uma Assembleia Constituinte, resultando numa nova constituição que aumentava o controlo estatal sobre os recursos naturais e fortalecia o executivo. Nacionalizou indústrias, especialmente a petrolífera PDVSA, financiando programas sociais que melhoraram as condições de vida das classes marginalizadas.

Embora a sua liderança fosse vista como símbolo de luta contra o imperialismo, o governo de Chávez enfrentou críticas pela repressão política, enfraquecimento das instituições democráticas e dependência excessiva do petróleo, deixando a Venezuela vulnerável a crises económicas futuras.

De Chávez a Maduro: Carisma vs. Incompetência

Hugo Chávez e Nicolás Maduro podem ser vistos como dois capítulos distintos da Venezuela. Se Chávez, conseguiu construir uma narrativa carismática de liderança e manter um certo apoio popular graças à abundância de receitas petrolíferas, Maduro é a sombra pálida desse legado, um líder desprovido de carisma, criatividade ou capacidade de articulação política.

Chávez, embora autoritário, sabia mobilizar o povo, usar a retórica anti-imperialista e manipular o cenário internacional para projetar a imagem de um "campeão dos pobres". Foi hábil em usar os lucros do petróleo para financiar programas sociais, o que, apesar de insustentáveis e populistas, lhe garantiu uma base de apoio considerável. Maduro, por outro lado, herdou um país em crise e, em vez de corrigir os erros estruturais do chavismo, agravou-os com uma incompetência gritante e uma brutalidade que Chávez não ousou aplicar.

Enquanto Chávez tinha uma visão para o país, Maduro parece governar apenas para sobreviver politicamente, sem qualquer projeto claro. Onde Chávez era estratega, Maduro é oportunista. Onde Chávez inspirava (mesmo que de forma controversa), Maduro intimida. A habilidade de Chávez em manipular a narrativa contrasta com a incapacidade de Maduro em esconder a corrupção desenfreada, a miséria crescente e a repressão aberta.

Chávez, por mais polarizador que fosse, deixou uma marca inegável na política venezuelana e mundial. Maduro, no entanto, será lembrado como o líder que destruiu qualquer réstia de esperança do chavismo e mergulhou a Venezuela num abismo quase sem retorno. Comparado a Chávez, Maduro não é mais do que um administrador incompetente da ruína do país.

Portugal e Juan Guaidó: Apoio Democrático ou Erro Estratégico?

O apoio de Portugal a Juan Guaidó em 2019 foi uma decisão controversa, especialmente considerando a enorme comunidade de emigrantes portugueses e luso-descendentes na Venezuela. Embora o reconhecimento de Guaidó como presidente interino estivesse alinhado com a posição da União Europeia e de outros países ocidentais, levantam-se questões sobre se esta foi a melhor escolha estratégica para proteger os interesses da diáspora portuguesa no país.

Argumentos contra o apoio a Guaidó:

  1. Riscos para a comunidade portuguesa: O regime de Maduro reagiu mal às nações que apoiaram Guaidó, criando um ambiente hostil para os portugueses na Venezuela, muitos dos quais dependem do governo local para sobrevivência e segurança.

  2. Ineficácia da estratégia: O apoio a Guaidó não resultou numa transição política na Venezuela e, com o tempo, enfraqueceu a sua posição, deixando Portugal numa posição complicada face ao regime de Maduro.

  3. Prioridade à diplomacia pragmática: Alguns argumentam que Portugal deveria ter adotado uma posição mais neutra, focando-se exclusivamente em proteger os interesses da sua diáspora, em vez de tomar partido num conflito interno.


Embora a decisão do ministro Santos Silva, em apoiar Guaidó estivesse fundamentada em princípios, de alinhamento com valores democráticos, ao reconhecer Guaidó, Portugal tomou uma posição clara contra o regime autoritário de Maduro. Esta decisão do governo português pode ser vista como um erro estratégico na perspetiva da proteção da comunidade portuguesa na Venezuela. Uma abordagem mais equilibrada, que priorizasse os interesses dos emigrantes e evitasse antagonizar o regime de Maduro, teria sido mais eficaz para garantir a segurança e o bem-estar dos luso-descendentes no país. No pico da presença de portugueses na Venezuela, estima-se o valor de meio milhão. Atualmente este valor caiu para 300 mil.

Juan Guaidó agente da CIA?

A acusação de que Juan Guaidó seria um agente da CIA é uma narrativa promovida pelo regime de Nicolás Maduro e por aliados do seu governo, como forma de deslegitimar a oposição.

É verdade que Guaidó recebeu forte apoio de governos estrangeiros, principalmente dos Estados Unidos, que o reconheceram como presidente interino da Venezuela em 2019, durante a crise institucional no país. Esse apoio incluiu sanções ao regime de Maduro e iniciativas diplomáticas para pressionar a realização de novas eleições. Para o governo venezuelano, que rotineiramente caracteriza a oposição como fantoches do "imperialismo", essa proximidade serviu de base para a acusação de que Guaidó seria um "agente da CIA".

No entanto, é importante diferenciar entre alinhamento político-estratégico e ser um "agente" no sentido literal. Guaidó foi formado politicamente no movimento estudantil e, enquanto líder da oposição, atuou em alinhamento com os interesses de governos que se opunham ao regime chavista. Tal cooperação não é incomum na política internacional, especialmente em crises como a da Venezuela, onde forças externas frequentemente desempenham papéis significativos.

A acusação de que ele seria um agente da CIA, tanto parece ser uma tentativa de desacreditar o seu papel político, como ser verdadeira. No entanto, é um facto que a oposição venezuelana é dependente de apoio estrangeiro, especialmente dos EUA A influencia da América continua a ser uma questão central na polarização política do país. O precedente Guaidó, não ajuda a credibilizar a situação pós-eleitoral, onde a oposição volta a dizer que ganhou as eleições e que ocorreu uma fraude eleitoral. Depois de Trump ter feito o que fez nas eleições de 2020 nos EUA, passou a ser "normal", a contestação dos resultados eleitorais.

A última crise pós-eleitoral na Venezuela, resultante das eleições de julho de 2024, agravou as tensões políticas e sociais no país. Nicolás Maduro foi declarado vencedor com 52% dos votos, mas a oposição, liderada por María Corina Machado, contestou o resultado, alegando fraude. A oposição apresentou atas eleitorais que alegadamente provam a vitória do seu candidato, Edmundo González Urrutia. Protestos eclodiram, resultando em 27 mortos, centenas de feridos e milhares de detidos. A comunidade internacional, incluindo os EUA e a ONU, exigiu transparência e respeito pela vontade popular​. A Rússia e a China apoiaram Maduro., o que não é de estranhar pois têm milhões investidos na Venezuela, e interesses económicos e estratégicos no país. A credibilidade da posição do oposição parece ser maior do que a de Guaidó. A contestação continua com Urrutia exilado em Espanha, tendo declarado recentemente a sua intenção de regressar a Caracas para assumir a presidência em janeiro de 2025.

A crise pós-eleitoral resultante das eleições de 2024

O Drama da Venezuela: Entre a Disputa Geopolítica dos EUA e da Rússia

A Venezuela, transformou-se num campo de batalha geopolítico, sofrendo pressões brutais tanto dos Estados Unidos como da Rússia. O país enfrenta uma crise humanitária profunda, um colapso económico sem precedentes e um cenário político polarizado, onde o conflito de interesses das grandes potências agrava ainda mais a sua instabilidade interna.

O Papel dos Estados Unidos: Sancionar e Desestabilizar

Desde o governo de Hugo Chávez, os EUA têm mantido uma postura agressiva em relação à Venezuela, intensificada com Nicolás Maduro. Washington vê o regime venezuelano como uma ameaça à democracia na região e um obstáculo aos seus interesses estratégicos. Sob essa premissa, impôs uma série de sanções económicas, direcionadas inicialmente ao governo e às empresas estatais, como a petrolífera PDVSA.
Essas sanções, no entanto, contribuíram para a deterioração das condições de vida da população, limitando o acesso do país a mercados internacionais e sufocando uma economia já em crise.

A Intervenção da Rússia

Enquanto os EUA procuram enfraquecer o regime, a Rússia tem-se posicionado como um dos principais aliados de Maduro, oferecendo suporte económico e militar a troco de várias vantagens. Moscovo investiu significativamente na indústria petrolífera venezuelana, fornecendo créditos e apoio técnico, garantindo assim, uma posição estratégica na região, e e forte posição no petróleo Venezuelano. Além disso, a Rússia enviou tropas e equipamentos militares para apoiar o governo de Caracas, numa demonstração de força que visa desafiar a hegemonia norte-americana no hemisfério ocidental. Leia tudo sobre a influência da Rússia na Venezuela no nosso artigo "A Venezuela de Putin".

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O Legado Ambíguo e o Aviso para o Futuro

A ascensão de Hugo Chávez foi uma resposta poderosa às falhas de um sistema que ignorava as necessidades básicas da sua população. A sua revolução bolivariana trouxe avanços sociais inegáveis para os mais pobres, mas ao custo de um enfraquecimento das instituições democráticas e de uma economia excessivamente dependente do petróleo. Quando os preços do crude caíram, o sonho bolivariano revelou a sua fragilidade, mergulhando a Venezuela numa crise sem precedentes.

O caso da Venezuela é um lembrete para qualquer nação: nenhuma transformação social pode ser sustentável sem instituições sólidas, diversificação económica e respeito pelas liberdades democráticas. A promessa de justiça social não pode ser construída sobre o alicerce instável de um autoritarismo carismático.

Num mundo em que regimes populistas proliferam, a Venezuela serve de alerta sobre os riscos de concentrar poder sem mecanismos de controlo. A verdadeira revolução não é apenas redistribuir riqueza, mas criar um sistema resiliente, capaz de garantir dignidade e direitos a todos, mesmo em tempos de adversidade. Esta é a lição que o mundo deve tirar, antes que outros povos repitam este ciclo doloroso de esperança e desilusão.

Este é um aviso muito sério até para Portugal, que desde que regressou à democracia já teve três intervenções do FMI.