Arte Degenerada. Tributo aos Artistas que resistiram.

por Simon Ben-David

As pilhagens de arte pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial foram uma das maiores campanhas de roubo de arte da história. A partir da ascensão de Adolf Hitler ao poder na Alemanha em 1933, o regime nazi iniciou um processo sistemático de confiscação e roubo de obras de arte, especialmente as pertencentes a judeus, opositores políticos, e às existentes nos países ocupados.

Contexto e Motivações

  1. Ideologia Nazi e "Arte Degenerada": Os nazis consideravam muitas obras de arte como "degeneradas", especialmente as de movimentos como o expressionismo, dadaísmo e cubismo. Estas obras foram confiscadas a museus e coleções particulares e, muitas vezes, vendidas no mercado negro ou destruídas. Simultaneamente, o regime procurava adquirir obras de arte clássica, renascentista e barroca, que considerava representativas da "verdadeira" cultura alemã. Sob a  capa de "purificação da arte", executaram verdadeiros roubos, e muitas das obras, felizmente, não foram destruídas e saíram de circulação para serem arrecadadas em depósitos de obras de arte, muitos deles pertencentes a altos quadros nazis. Sob a ideia absurda de purificar a arte. o que realmente fizeram foi roubar para coleções próprias, e para vender e enriquecer. 

  2. Coleção Pessoal de Hitler e Museu do Führer: Hitler planeava criar o maior museu de arte do mundo em Linz, na Áustria, onde exibiria as melhores obras de arte saqueadas. Ele e outros líderes nazis, como Hermann Göring, acumularam vastas coleções pessoais, saqueando museus, galerias e coleções privadas por toda a Europa.

  3. Países Ocupados e Roubo Sistemático: Nos países ocupados, como França, Polónia e Países Baixos, os nazis confiscaram milhares de obras de arte de coleções públicas e privadas. Em França, por exemplo, o Einsatzstab Reichsleiter Rosenberg (ERR) foi responsável pela pilhagem de arte judaica, e o castelo de Neuschwanstein foi um dos locais usados para armazenar as obras roubadas.


O conceito de "arte degenerada" foi mais do que uma censura cultural; foi uma arma política e ideológica usada pelo regime nazi para reprimir a liberdade de expressão e criação e impor uma estética oficial como a única forma legítima de arte na Alemanha. Esta abordagem revelou a obsessão do nazismo por controlar todos os aspetos da vida social, incluindo a arte. A ditadura nazi foi ao ponto de organizar uma exposição didática para ensinar ao povo alemão o que não deveria ser considerado arte. Foi um dos regimes mais sinistros, totalitários e organizados da história.

Apesar dos horrores mais evidentes do nazismo, terem sido o Holocausto, a guerra e as experiências médicas, não devemos esquecer como o regime se posicionou perante a arte, tentando coartar a liberdade criativa dos artistas. A exposição "Entartete Kunst" (Arte Degenerada), realizada em Munique em 1937, foi uma das formas de propaganda mais marcantes. Exibiu mais de 650 obras confiscadas de museus alemães, penduradas de forma caótica e acompanhadas de legendas insultuosas, com o objetivo de ridicularizar e desacreditar os artistas vanguardistas da época, reforçando a ideia nazi de que essas obras eram um sintoma de uma sociedade corrupta.

Termos como "limpeza da corrupção", "regeneração" e "purificação" são frequentemente usados por regimes totalitários para justificar o controlo e a repressão. Estes termos são atualmente utilizados pela extrema-direita europeia a também em Portugal, em diversos contextos. Cuidado. A arte é, por definição, as obras que os artistas criam, e não algo que possa ser definido ou validado por políticos. Podemos gostar ou não de certas correntes artísticas, mas rotular a arte como "degenerada" é um ato de censura, totalitarismo e repressão que não que nunca poderemos aceitar.

Veja este raro vídeo para ter uma ideia da exposição arte degenerada

A "Arte Degenerada"

Características da "Arte Degenerada" segundo os Nazis

  • Rejeição do Abstracionismo e da Distorção da Realidade: Os nazis defendiam uma arte figurativa e realista que glorificasse a cultura alemã, o corpo ariano e os valores tradicionais, como o trabalho, a família e a pátria. Qualquer forma de arte que distorcesse a realidade, como o abstracionismo, era vista como uma ameaça aos valores que o regime queria impor.

  • Movimentos Artísticos Condenados: A arte associada a movimentos como o expressionismo, cubismo, dadaísmo, surrealismo, fauvismo e outras vanguardas modernistas era considerada "degenerada". Os nazis viam essas obras como confusas, caóticas e distantes da realidade, opostas aos ideais de beleza clássica e harmonia que promoviam.

  • Artistas Perseguidos: Muitos dos artistas cujas obras foram classificadas como "degeneradas" eram judeus, comunistas, ou simplesmente vistos como contrários à ideologia nazi. Entre os artistas visados estavam Wassily Kandinsky, Paul Klee, Marc Chagall, Otto Dix, Max Ernst, Emil Nolde, e muitos outros.

  • Ligação à Decadência e à Corrupção Moral: A "arte degenerada" era também associada à decadência moral e ao declínio social que os nazis atribuíam a inimigos internos, como judeus, marxistas e liberais. Esta visão era usada para demonizar estas comunidades e legitimar a censura e a perseguição.

Mas os Artistas resistiram . . .
Como acima referido, durante o regime nazi na Alemanha, a arte que não alinhava com os ideais nazis foi rotulada como "arte degenerada" (Entartete Kunst). Muitos artistas resistiram a essa categorização, continuando a criar obras que desafiavam o regime, embora enfrentassem censura, perseguição e exílio. Seguem-se alguns dos principais artistas e como resistiram:

1. Max Beckmann (1884-1950)

  • O que fez: Pintor expressionista, Beckmann foi fortemente criticado pelo regime nazi, que classificou a sua obra como degenerada.

  • Como resistiu: Após ter várias das suas obras confiscadas e exibidas na infame exposição de arte degenerada em 1937, Beckmann decidiu exilar-se nos Países Baixos e depois nos Estados Unidos. Continuou a pintar temas sombrios que criticavam a sociedade.

2. Paul Klee (1879-1940)

  • O que fez: Klee, um dos mais influentes artistas da Bauhaus, foi perseguido pelo regime nazi devido à sua arte moderna e às suas origens judaicas.

  • Como resistiu: Emigrou para a Suíça em 1933, onde continuou a criar arte inovadora e abstrata, que refletia as suas angústias pessoais e o clima político da época.

3. Otto Dix (1891-1969)

  • O que fez: Conhecido pelas suas pinturas de guerra e retratos perturbadores da sociedade alemã, Dix foi expulso do seu cargo de professor e as suas obras foram confiscadas pelo regime nazi.

  • Como resistiu: Continuou a pintar em privado, adaptando-se a temas mais "seguros" para sobreviver, mas inserindo subtis críticas ao regime.

4. Emil Nolde (1867-1956)

  • O que fez: Nolde era um proeminente pintor expressionista e, curiosamente, um simpatizante inicial do nazismo. No entanto, a sua arte moderna foi classificada como degenerada.

  • Como resistiu: Proibido de pintar, Nolde continuou a criar secretamente em casa, desenvolvendo as suas "Imagens Não Pintadas", uma série de aguarelas que mais tarde foram transformadas em grandes pinturas a óleo.

5. Käthe Kollwitz (1867-1945)

  • O que fez: Kollwitz era uma artista gráfica e escultora conhecida pelas suas obras que retratavam a dor da guerra e a pobreza.

  • Como resistiu: Proibida de expor e criar, Kollwitz continuou a desenhar e esculpir, mantendo o foco em temas humanistas e antiguerra, opondo-se silenciosamente ao regime.

6. Wassily Kandinsky (1866-1944)

  • O que fez: Kandinsky, um dos pioneiros da arte abstrata, viu as suas obras rotuladas como degeneradas.

  • Como resistiu: Após o fecho da Bauhaus pelos nazis, Kandinsky mudou-se para França, onde continuou a desenvolver a sua arte abstrata, longe das restrições do regime.

7. George Grosz (1893-1959)

  • O que fez: Grosz era conhecido pelas suas caricaturas políticas que satirizavam a corrupção e a brutalidade da sociedade alemã.

  • Como resistiu: Emigrou para os Estados Unidos em 1933, onde continuou a criar arte que criticava o fascismo e a guerra.

Conclusão : Como responderam e resistiram os artistas

  • Exílio: Muitos artistas optaram pelo exílio para continuar a criar livremente.

  • Criação Secreta: Alguns continuaram a trabalhar em segredo, mesmo sob ameaça de punição.

  • Temas Adaptados: Outros mudaram os temas das suas obras para evitar perseguição direta, mas mantiveram críticas subtis ao regime. e continuaram expressões artísticas que o regime tentou suprimir. As suas obras continuam a ser um testemunho poderoso da luta pela liberdade de expressão.

Hitler e Göring  visitam exposição de arte degenerada em Berlin .

A exposição com entrada livre foi visitada por mais de 2 milhões

Porque roubavam os Nazis arte ?

Os nazis roubaram arte nos países e povos ocupados por várias razões, que se interligavam com os objetivos ideológicos, económicos e pessoais do regime:

  1. Supremacia Cultural e Ideológica: Hitler e os nazis viam a arte como um símbolo de poder e superioridade cultural. O objetivo era afirmar a supremacia da cultura germânica sobre todas as outras, apagando a influência da "arte degenerada" e substituindo-a pela "arte ariana", que exaltava os valores que o regime promovia. Roubar obras de arte dos povos ocupados era uma forma de subjugá-los culturalmente, demonstrando que até o seu património cultural podia ser confiscado e dominado.

  2. Criação do Museu do Führer em Linz: Como referido atrás, Hitler tinha o sonho de criar o maior e mais grandioso museu do mundo na sua cidade natal, Linz, na Áustria. Este museu seria uma vitrine da superioridade da cultura alemã e incluiria obras saqueadas dos museus e coleções privadas da Europa. O roubo de arte não era apenas para fins de acumulação, mas para um projeto visionário que pretendia eternizar o legado do Terceiro Reich.

  3. Enriquecimento Pessoal dos Líderes Nazis: Muitos altos oficiais nazis, como Hermann Göring, estavam pessoalmente envolvidos no saque de arte para aumentar as suas coleções privadas. O saque de obras valiosas era também uma forma de enriquecimento pessoal, com líderes a adquirir através do roubo de peças de valor incalculável para o seu usufruto.

  4. Destruição da Identidade Cultural dos Inimigos: Roubar e destruir arte era também uma maneira de enfraquecer e desmoralizar os inimigos do regime, especialmente os judeus. A arte tinha um valor simbólico que os nazis reconheciam. Ao destruir ou confiscar as peças, estavam a atacar a própria identidade cultural e a história dos povos ocupados, em particular a herança cultural judaica, que queriam erradicar.

  5. Valor Económico e Financiamento do Esforço de Guerra: Muitas obras saqueadas eram vendidas no mercado internacional, incluindo a compradores que sabiam ou desconfiavam da sua origem ilícita. Essas vendas geravam recursos financeiros que eram canalizados para financiar o esforço de guerra nazi, especialmente em momentos de crise económica ou de necessidade de fundos.

  6. Propaganda e Legitimação do Regime: A apropriação de arte também servia como propaganda para legitimar o regime nazi como herdeiro da grande tradição cultural europeia. Exibir obras roubadas em eventos e coleções promovia a ideia de que o Terceiro Reich era o verdadeiro guardião da alta cultura europeia, tentando apagar a perceção de um regime como bárbaro e opressor.

Essas razões combinavam-se numa estratégia de dominação que ia além da simples ocupação militar, estendendo-se à esfera cultural e identitária, tornando o roubo de arte uma arma poderosa na agenda nazi.

A exibição foi propositadamente organizada de forma caótica, com quadros pendurados de maneira torta, luzes inadequadas e legendas insultuosas. Mesmo assim, "Arte Degenerada" teve um público significativo, pois mais de 2 milhões de pessoas visitaram a exposição  em cidades da Alemanha e da Áustria até 1941, ano em que foi encerrada. Teve um efeito contrário ao desejado a avaliar pelo número de visitantes-

Caso Cornelius Gurlitt

O maior escândalo de roubo de arte pelos nazis é frequentemente associado à descoberta da coleção de Cornelius Gurlitt, um caso que veio a público em 2013 e que revelou uma das maiores acumulações de arte saqueada pelos nazis.

  1. Contexto: Cornelius Gurlitt era o filho de Hildebrand Gurlitt, um conhecido marchand de arte que trabalhou para os nazis durante a Segunda Guerra Mundial. Hildebrand foi um dos poucos negociantes autorizados pelo regime nazi a vender ou trocar arte confiscada, especialmente a chamada "arte degenerada". Após a guerra, Hildebrand conseguiu manter a posse de uma grande quantidade de obras, que passaram para o seu filho Cornelius.

  2. Descoberta: Em 2012, durante uma investigação de rotina por suspeita de evasão fiscal, as autoridades alemãs descobriram no apartamento de Cornelius Gurlitt em Munique cerca de 1.500 obras de arte. Mais tarde, encontraram outras centenas de peças numa casa em Salzburgo, na Áustria. Entre as obras estavam pinturas de artistas renomados como Pablo Picasso, Henri Matisse, Marc Chagall, Claude Monet e muitos outros.

  3. Valor das Obras: O valor estimado das obras confiscadas na casa de Gurlitt ascendia a centenas de milhões de euros, sendo muitas delas identificadas como peças confiscadas pelos nazis durante a guerra, quer de coleções públicas, quer de famílias judias perseguidas.

  4. Impacto e Escândalo: A descoberta causou um enorme escândalo internacional, uma vez que expôs a magnitude das pilhagens nazis e levantou questões sobre o que aconteceu às obras de arte roubadas que, décadas depois, ainda permaneciam escondidas. O caso Gurlitt também pôs em evidência a falha das autoridades alemãs e de muitos museus em rastrear e devolver a arte roubada aos seus legítimos proprietários ou herdeiros.

  5. Desafios Legais e Restituição: Seguiram-se anos de litígios e investigações para determinar a proveniência das obras e proceder à restituição. Muitas peças foram devolvidas aos herdeiros dos proprietários originais, mas o processo foi complicado por dificuldades em provar a posse original devido à falta de documentação ou à destruição de registos durante a guerra.

Outras Pilhagens importantes

Além do caso Gurlitt, outros episódios de roubo de arte pelos nazis ganharam notoriedade, como o saque do Museu do Louvre durante a ocupação de Paris e o roubo de obras da coleção Rothschild na Áustria. Estes episódios destacam-se pela escala e pelo impacto na herança cultural europeia, sendo símbolos duradouros das atrocidades cometidas pelo regime nazi.

Lembrete

Em Causa Democrática, proibimo-nos de fazer doutrinação, algo que, aliás, os artistas não necessitam. Contudo, isso não nos obriga à neutralidade ideológica. A extrema-direita, e especificamente os nazis, durante a sua ascensão ao poder, clamavam por uma limpeza da corrupção e pela regeneração da suposta pureza original da arte, inventando uma teoria absurda, miserável e ridícula da "arte degenerada". Essa teoria não era apenas uma manifestação de uma ignorância brutal relativamente à arte da época (real ou fingida, pois reconheciam o valor das obras que roubaram e venderam), era sobretudo, um pretexto para coartar e limitar a liberdade de criação.

Quando finalmente tomam o poder, as suas verdadeiras intenções tornaram-se evidentes: supressão das liberdades, destruição daqueles que não os idolatravam e das instituições democráticas, bem como a imposição de um regime autoritário que servisse apenas os seus interesses e a sua agenda ideológica. No caso do nazismo em relação à arte, comportaram-se como uns miseráveis ladrões vulgares em larga escala, causando danos, muitos deles irreparáveis, aos artistas e à arte em geral. As dificuldades na restituição de obras de arte aos seus legítimos proprietários, que persistem até hoje, são um lembrete doloroso da devastação causada pelo Nazismo.

NUNCA ESQUECEREMOS !

Encerramento da Bauhaus. Mais um crime Nazi.

A Bauhaus foi fundada em 1919 em Weimar, Alemanha, num período de intensa mudança social e política pós-Primeira Guerra Mundial. A escola surgiu com a intenção de revolucionar a forma como a arte e o design eram ensinados, integrando as artes plásticas e as artes utilitárias num modelo educacional unificado.
O principal objetivo da Bauhaus era acabar com a separação entre as belas-artes e as artes aplicadas, promovendo a ideia de que a forma e a função deveriam estar perfeitamente integradas. Gropius, o fundador, acreditava que os artistas deveriam trabalhar em conjunto com a indústria para criar produtos que fossem ao mesmo tempo esteticamente agradáveis e funcionais.

A Bauhaus não foi apenas uma escola; foi um movimento revolucionário que transformou para sempre o design, a arquitetura e a arte no século XX. A Bauhaus emergiu como um farol de inovação num período de grande turbulência social e política, tendo criado uma abordagem radical que unia arte e indústria, desafiando as convenções estéticas da época e lançando as bases do modernismo. No entanto, a ascensão do nazismo e a consequente repressão brutal contra qualquer forma de expressão que não se alinhasse com a ideologia nazi, culminaram no encerramento da Bauhaus em 1933. A história da Bauhaus simboliza uma luta pela liberdade criativa, representando os valores de inovação e progresso que o regime nazi viu como uma ameaça, que tentou eliminar, quando encerrou a escola.

Uma Nova Era na Arte e no Design

Os mestres da Bauhaus, incluindo Paul Klee, Wassily Kandinsky, e Johannes Itten, não eram apenas artistas; eram visionários que incentivavam a colaboração interdisciplinar e defendiam a liberdade de expressão artística. Sob o lema “a forma segue a função”, a Bauhaus moldou a estética do design moderno e desafiou as noções tradicionais de arte, incorporando conceitos que ainda hoje definem o design contemporâneo.

A Ameaça Nazi à Liberdade Criativa

Apesar da sua influência crescente, a Bauhaus enfrentou desde cedo um ambiente político hostil. A mudança para Dessau em 1925 foi motivada por pressões políticas e financeiras, mas a escola continuou a prosperar, agora com um enfoque mais pronunciado no design industrial e na arquitetura. No entanto, a chegada dos nazis ao poder na década de 1930 selou o destino da Bauhaus. Os nazis viam a escola como um símbolo de tudo o que odiavam: inovação, internacionalismo, liberdade artística e uma rejeição das tradições arcaicas que o regime procurava impor.

A Bauhaus promovia ideias progressistas e o multiculturalismo, opostas ao nacionalismo agressivo e racista dos nazis. A escola era um espaço aberto ao pensamento livre, à criatividade sem fronteiras e ao cruzamento de culturas, características que o regime nazi desprezava e temia. Para os nazis, a Bauhaus não era apenas um centro de arte e design, era um bastião de resistência ideológica que ameaçava o projeto totalitário do regime.

A Bauhaus rotulada como “Arte Degenerada”

Para os nazis, a arte abstrata e experimental da Bauhaus era vista como um ataque à cultura alemã e uma afronta aos valores do regime.

A Bauhaus foi associada a ideias de esquerda e ao bolchevismo, acusada de promover ideologias que ameaçavam a "pureza" cultural da Alemanha nazi. A escola era vista como subversiva, um foco de “contaminação” intelectual que precisava ser erradicado. Acharam os nazis que fazia parte da "arte degenerada", termo que usavam para descrever qualquer forma de expressão que se afastasse da estética tradicional e nacionalista, como anteriormente referimos. Em 1932, pressionada pela censura e perseguição, a Bauhaus mudou-se para Berlim numa tentativa de sobreviver, mas as dificuldades financeiras e a crescente repressão política tornaram-na insustentável .

Rejeição da Mistura de Culturas: A Bauhaus era uma escola internacional, aberta a ideias de todo o mundo, e abraçava uma diversidade cultural que ia contra o isolacionismo racial e cultural promovido pelos nazis. A abertura da Bauhaus a influências estrangeiras, especialmente das vanguardas russas, era vista como uma ameaça à suposta pureza cultural defendida pelo regime. Lá como cá, a extrema-direita era nacionalista, xenófoba e racista. Neste aspeto a direita radical variou pouco, apesar da enorme distância temporal entre a época do nazismo e a atual.

O Encerramento Forçado: Uma Perda Irreparável

Em 1933, após constantes inspeções, perseguições e exigências de alinhamento com a ideologia nazi, a Bauhaus foi forçada a fechar as portas. Esta foi uma perda irreparável para a cultura mundial, um silenciamento imposto pela brutalidade de um regime que não tolerava a diferença, a liberdade de pensamento e a inovação artística. Os nazis viam a Bauhaus como uma ameaça porque representava um futuro de criatividade e colaboração global, diametralmente oposto ao ódio, à opressão e à regressão cultural promovida pelo nazismo.

Mas apesar do seu encerramento, o espírito da Bauhaus não foi destruído. Muitos dos seus mestres e alunos fugiram da Alemanha, levando consigo os ideais da escola para outras partes do mundo, especialmente para os Estados Unidos. Instituições como o Instituto de Tecnologia de Illinois e a Escola de Arquitetura de Harvard tornaram-se novas casas para o pensamento Bauhaus, perpetuando a sua influência e garantindo que o legado da escola sobrevivesse ao terror nazi.

Legado da Bauhaus: Resistência e Inspiração

Hoje, a Bauhaus é reconhecida como um dos movimentos mais importantes e influentes do século XX, um símbolo de resistência cultural contra a tirania nazi. A sua abordagem inclusiva, interdisciplinar e focada na funcionalidade continua a inspirar designers, arquitetos e artistas em todo o mundo. A Bauhaus é um lembrete poderoso de que a arte e a criatividade são forças transformadoras que podem desafiar até os regimes mais opressivos.

Conclusão:

O encerramento forçado pelo regime nazi da Bauhaus, em 1933, foi um ato de violência ideológica e cultural, motivado pelo medo do progresso, da inovação e da liberdade de pensamento. A sua filosofia de vanguarda, que defendia a integração da arte na vida quotidiana e a rejeição de dogmas conservadores, colidiu frontalmente com os ideais de um regime totalitário, cujo objetivo era sufocar qualquer forma de expressão que desafiasse a sua visão retrógrada e autoritária.

Condenar o fim abrupto da Bauhaus é mais do que lamentar a perda de uma escola: é condenar a tentativa de erradicação de ideias que, embora silenciadas naquele momento, sobreviveram para moldar o mundo moderno. A Bauhaus não morreu em 1933; os seus ideais prosperaram e continuam a inspirar gerações, como um símbolo eterno de resistência criativa contra a opressão. Ao lembrarmos este episódio trágico, afirmamos a importância de proteger a liberdade artística e intelectual de futuras ameaças, porque, como a história provou, a criatividade nunca pode ser definitivamente calada.

Os nazis nunca perceberam esta ideia de Leonardo da Vinci:

"A arte diz o indizível; exprime o inexprimível, traduz o intraduzível."
Leonardo da Vinci

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Galeria de arte degenerada". Pequeno tributo de causad aos artistas