Ventura o " Soviético "
por : Aharon Pereira
O Perigo da Reescrita da História feita por André a respeito de Mário Soares
A tentativa de André Ventura em reescrever a história, particularmente no que diz respeito a Mário Soares e ao 25 de Novembro, representa um fenómeno perigoso com implicações para a memória coletiva e o entendimento histórico. Não pode passar em claro.Eis uma análise detalhada das revisões feitas e as suas consequências:
1. Atribuição de Culpa Exclusiva pela Descolonização
Ventura caracterizou Mário Soares como o grande responsável pela "entrega vergonhosa" das colónias, ignorando os contextos geopolíticos e internos e externos que ditaram a descolonização portuguesa. Esta narrativa desconsidera fatores como:
As Guerras de Libertação: Movimentos como o MPLA, FRELIMO e PAIGC lutaram durante anos contra o colonialismo, tornando inevitável o colapso do domínio português.
A Revolução dos Cravos: A transição democrática em Portugal obrigou a acelerar um processo que o regime salazarista havia adiado.
Pressões internas: O movimento nem mais um soldado para as colónias tornou impossível o recrutamento de soldados depois do 25 de abril
Pressões Internacionais: A ONU e os EUA entre outros organismos exigiam o fim do colonialismo, colocando Portugal sob enorme pressão diplomática.
Sabemos que Ventura é profundamente ignorante, e que não era vivo antes do 25 de abril. Mas só não diz o que não quer. Tem no seu partido Amorim que até foi um elemento ativo na luta contra o 25 de abril. Tem acesso a relato por pessoas que estiveram diretamente envolvidas nas lutas pós revolução o que nos leva a concluir que há total intencionalidade no seu discurso na AR.
Reduzir todo este complexo processo à ação de Mário Soares não apenas falseia a história, mas também desvaloriza o sacrifício das populações colonizadas e dos militares portugueses envolvidos. Leia o artigo A Descolonização Portuguesa no Sédulo XX.
2. Distorção do Papel Económico de Soares
Ao acusar Soares de ser o "destruidor da economia portuguesa", Ventura ignora intensionalmente os desafios titânicos enfrentados no pós-revolução:
Herança do Estado Novo: Portugal saiu do regime autoritário com uma economia fragilizada, falta de investimento e infraestruturas obsoletas.
Crises Globais: A crise do petróleo e o cenário económico internacional colocaram grandes dificuldades a economias como a portuguesa.
O Papel do FMI: As negociações lideradas por Soares com o Fundo Monetário Internacional permitiram ao país estabilizar-se, embora com medidas impopulares.
Ventura prefere desconsiderar estes contextos, optando por uma narrativa simplista e emocionalmente carregada.
3. Redução do 25 de Novembro a uma Agenda Partidária
O 25 de Novembro, concorde-se ou não relativamente ao modo como foi conduzido, foi um momento crucial de equilíbrio entre forças democráticas, afastando o país de possíveis extremismos, tanto à direita quanto à esquerda. Ventura, ao usar a data para demonizar figuras como Soares, deturpa o simbolismo deste evento:
Ignora a complexidade das alianças e conflitos interno à época.
Distorce o papel de Soares como mediador, que ajudou a garantir o triunfo de uma democracia pluralista.
Esta abordagem transforma um marco de união em torno da democracia numa ferramenta para aprofundar divisões políticas.
4. Consequências da Reescrita
Perda da Memória Histórica: Ao falsificar o papel de figuras centrais, Ventura pretende desinformar as novas gerações.
Polarização Política: A simplificação de eventos históricos complexos em narrativas de “heróis” e “vilões” fomenta um ambiente de confronto, em vez de um debate construtivo.
Deslegitimação da Democracia: Atacar os alicerces da transição democrática é um ataque à democracia.
5. Manipulação para Ganhos Populistas
Ao reescrever a história, Ventura tenta posicionar-se como defensor de uma versão distorcida do patriotismo, mobilizando emoções ao invés de argumentos baseados em factos. Esta estratégia serve exclusivamente o seu projeto político e não a verdade histórica.
Este tipo de discurso não é apenas irresponsável, mas profundamente perigoso. Permitir que a reescrita da história tome o lugar do debate informado é abrir caminho para a erosão da democracia e para a perpetuação de divisões destrutivas no tecido social, que é no fundo, o principal objetivo de Ventura.
A reescrita da história foi uma ferramenta central do regime soviético para consolidar o poder, justificar ações políticas e criar uma narrativa unificada que promovesse a ideologia comunista. Este fenómeno envolveu a manipulação intencional de eventos históricos, censura, alteração de documentos e reinterpretação de figuras históricas de acordo com os interesses do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Abaixo, estão os principais aspetos desta prática.
1. Eliminação de Inimigos Políticos
Durante o regime de Stalin, nos anos das purgas (1936-1938), muitas figuras proeminentes do Partido Bolchevique, como Leon Trotsky, foram rotuladas de "inimigos do povo". Trotsky, um dos líderes fundamentais da Revolução de Outubro de 1917, foi completamente apagado da história oficial após cair na desgraça de Stalin. Fotografias e documentos foram alterados para remover a sua presença, e a sua contribuição foi atribuída a outros líderes leais ao regime.
2. Manipulação de Eventos Históricos
Os eventos que não se alinhavam com a narrativa oficial eram reescritos ou ignorados. Por exemplo:
A Revolução de 1917: A história oficial promovia Stalin como o herói da revolução, reduzindo o papel de Lenin e ignorando outras figuras-chave, como Trotsky e Kamenev.
A Segunda Guerra Mundial: A narrativa soviética minimizava os pactos iniciais com a Alemanha Nazi (como o Pacto Molotov-Ribbentrop de 1939) e enfatizava a vitória soviética sobre o nazismo como um feito exclusivo de Stalin e do Exército Vermelho, apagando o papel dos aliados ocidentais.
3. Censura e Controle da Educação
Os livros escolares eram constantemente reescritos para refletir a visão oficial do partido. Novas edições substituíam as anteriores, com alterações que apresentavam líderes e políticas passadas sob uma luz favorável ou ajustavam a interpretação de eventos históricos conforme as necessidades políticas do momento.
4. Alteração de Fotografias e Registos Visuais
A prática de retocar fotografias para eliminar indivíduos era comum. Um exemplo icónico é a exclusão de Nikolai Yezhov, um chefe da NKVD (polícia secreta), de várias fotografias após a sua execução em 1940. Esta prática servia para eliminar qualquer traço de pessoas consideradas "traidoras" ou desnecessárias á narrativa oficial.
5. Glorificação de Stalin e do Estado Soviético
Stalin foi transformado numa figura quase divina, associado a todas as conquistas do regime. Monumentos, literatura e propaganda exaltavam o "grande líder", enquanto as suas falhas (como a fome provocada pelas políticas de coletivização) eram ocultadas ou atribuídas a sabotadores ou inimigos externos.
6. Reabilitação Pós-Stalinista
Após a morte de Stalin em 1953, o período do "Degelo de Khrushchev" iniciou uma reavaliação de sua liderança. O 20.º Congresso do Partido Comunista, em 1956, expôs publicamente os crimes de Stalin, mas a reescrita da história continuou, agora para culpar exclusivamente Stalin e absolver o partido da responsabilidade coletiva.
Consequências da Reescrita Histórica
Perda de Credibilidade: A manipulação constante levou à desconfiança generalizada nas versões oficiais da história, tanto dentro como fora da URSS.
Desinformação: Criou um legado de mitos históricos que ainda hoje dificultam a compreensão objetiva do período soviético.
Impacto Cultural: A narrativa oficial tornou-se uma forma de controlar a memória coletiva, mas também alimentou os movimentos dissidentes que buscavam restaurar a verdade histórica.
A reescrita da história soviética ilustra como regimes totalitários usam o passado como uma arma política, moldando-o para servir interesses ideológicos e perpetuar o poder. Este fenómeno deixou uma marca duradoura, influenciando a forma como a história é debatida até hoje.
Ventura explica a Stalin como falsificar a História, que ouve com a maior atenção!
André Ventura e Stalin: Dois Lados da Mesma Moeda do Revisionismo da História
Se há algo que André Ventura e Josef Stalin partilham – além de uma inquietante obsessão pelo poder absoluto – é o seu descarado amor pela manipulação histórica. Claro, compará-los é quase uma afronta... a Stalin. Afinal, o ditador soviético tinha um plano, por mais macabro que fosse, enquanto Ventura parece só querer brincar ao autoritarismo no recreio da política portuguesa. Vamos analisar esta comparação, sempre com a seriedade que o líder do Chega merece (ou seja, nenhuma).
Reescrita Histórica: Um Passatempo de Tiranos
Stalin: Criava uma história alternativa onde era o salvador da pátria, apagando antigos camaradas das fotos e eliminando opositores com uma eficácia que faria inveja a qualquer vilão do James Bond.
Ventura: Tenta recriar o 25 de Abril e o 25 de Novembro como episódios de um complô esquerdista liderado por Mário Soares.
Ambos entendem o poder de moldar a narrativa histórica. Mas enquanto Stalin tinha recursos infinitos e a KGB, Ventura tem tweets e conferências de imprensa no Parlamento. É como comparar um tanque de guerra com um carrinho de plástico.
O Inimigo Escolhido: Soares vs. Trotsky
Stalin: Fez de Trotsky o grande vilão da Revolução Russa, demonizando-o em cada discurso e livro de história encomendado.
Ventura: Mário Soares é o seu Trotsky. Responsabiliza-o por tudo, desde a descolonização até, provavelmente, o aumento do preço das bifanas. Para Ventura, Soares não apenas desmantelou o império colonial, como terá pessoalmente sabotado a economia portuguesa.
A diferença? Trotsky realmente desafiou Stalin. Soares, nem sequer pode defender-se, estando há muito a descansar em paz.
Simplificação de Processos Complexos: Um Hobby Compartilhado
Stalin: Reduziu o comunismo a slogans fáceis como "cinco anos para o paraíso". Qualquer oposição era esmagada sob o peso do realismo socialista, da censura e da eliminação física.
Ventura: Transforma a história recente de Portugal numa novela de vilões (a esquerda) e heróis (ele próprio). A descolonização? Culpa de Soares. A crise económica pós-25 de Abril? Culpa de Soares. O tempo chuvoso? Certamente, culpa de Soares.
Ambos sabem que as massas, infelizmente, preferem simplicidade à reflexão. Só que Stalin tinha o Pravda e Ventura tem uns falsários amigos na internet.
Destruição da Memória Coletiva: Uma Missão Comum
Stalin: Redefiniu o que significava ser soviético, apagando toda a história anterior à evolução e criando uma nova identidade alinhada com os seus delírios de grandeza.
Ventura: Em vez de consolidar uma identidade portuguesa baseada na democracia e na solidariedade, prefere alimentar um nacionalismo tacanho e revisionista. Para ele, a história não é um registo, mas uma ferramenta para os seus devaneios populistas.
Stalin usava a máquina do Estado para reescrever a memória coletiva. Ventura usa um microfone das televisões. em guerra de audiências para ter palco. A eficácia, claro, não é comparável.
Propaganda Populista: O Elemento Unificador
Stalin: A sua propaganda retratava-o como o “pai dos povos”, o salvador da nação. Tudo para disfarçar as suas purgas e a fome causada pelas suas políticas.
Ventura: Apresenta-se como o paladino da pátria, o último defensor da moral e dos “valores portugueses”. Na realidade, quer apenas dividir e polarizar, alimentando a desinformação.
A diferença está nos resultados: Stalin desgraçadamente construiu gulags. Ventura limita-se a construir polêmicas baratas.
Conclusão: Do KGB ao Café da Esquina
Comparar Ventura a Stalin é uma forma de expor o absurdo. Stalin, por mais desprezível que fosse, e era, tinha ambição de adquirir influência global. Ventura, no entanto, não passaria de uma nota de rodapé irrelevante na história, não fosse o perigo do seu discurso no contexto democrático atual.
Ambos manipulam a história para benefício próprio, mas enquanto um moldava impérios, o outro contenta-se em moldar manchetes no jornal do dia seguinte, e em ser o maior no café da esquina do seu bairro. Ventura é, no fundo, uma versão mal editada e pobre de Stalin. Felizmente.
O palanque alargou e Trotsky desapareceu na foto falsificada em cima
Lenin discursa. Na foto original em baixo Trotsky está presente do lado direito.
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