"Chega o Franchisado"
Por: Firminiano Maia
Introdução
Há seis meses atrás Firminiano Maia escreveu este texto, que agora voltamos a publicar, por duas razões: Trump voltou para a presidência dos EUA, e Steve Bannon, voltou para a Casa Branca como ideólogo ao serviço de Trump.
Assim a relevância do que escreveu ganhou nova importância.
Causad
Steve Bannon
O que está por baixo nem sempre é igual ao que está por cima
O que é um Iceberg? Um iceberg é uma grande massa de gelo flutuante. Mas, dessa enorme massa só uma pequena parte é visível. A maior parte esconde-se sob a opacidade do oceano abaixo da linha de água. Na pequena pirâmide que se dá à nossa vista está o Partido Chega, coroado pela cabeça de André Ventura. Por baixo, está tudo o que o Chega tenta esconder.
Falemos então da parte submersa. O que o Chega tenta esconder é o facto contraditório que , apregoando-se tão “patriota”, não passar de uma pequena filial regional de uma - essa sim – multinacional nacionalista populista e de extrema direita. Essa multinacional tem caras e nome. Deu-se por ela na Europa durante a primeira campanha de Trump e nos primeiros tempos da sua bizarra presidência nos EUA. A cara é a de um personagem chamado Steve Bannon.
Bannon foi o estratega chefe de Trump durante a campanha e os primeiros meses de presidência. Deixou o seu cargo na Casa Branca para se dedicar a espalhar o ideário e os métodos do populismo nacionalista de extrema direita, tendo elegido a Europa como alvo. O seu instrumento é uma fundação que dá pelo nome de “The Movement” que se estabeleceu em Bruxelas em 2017.
“The Movement” desenvolve as seguintes funções, em benefício e para suporte dos diversos “Chegas” europeus. O próprio Bannon esclarece:
Servir de fonte e recolha de Informação.
Aconselhamento mediático
Centro de reflexão (Think Tank)
Marketing político (targeting)
Tratamento estratégico de informação eleitoral (pooling)
Investigação, pesquisas e apresentação de propostas políticas
E os seus objetivos na Europa são:
-Formar um “supergrupo” que obtenha 30% dos lugares no parlamento Europeu para o paralisar ou causar disrupção.
-Impor o que chamam de “Economia Nacionalista” com base numa confusa teoria que acabaria com os Bancos Centrais, substituídos ou menorizados em favor de um sistema não esclarecido, mas baseado em cripto moedas
-Apoiar a criação de estados Nacionalistas Populistas
-Favorecer e aprofundar as divisões entre os diferentes países “Vão ter Estados Nação individuais com as suas próprias fronteiras e identidades”
Por outras palavras: Destruir a União Europeia.
Manual de Franchising
Atente-se na seguinte definição constante da página da Associação Portuguesa de franchising:
É “Um contrato mediante o qual um produtor de bens ou serviços concede a outrem, mediante contrapartidas, a comercialização dos seus bens através da utilização da marca e demais sinais distintivos do primeiro em conformidade com o plano, método e diretrizes prescritas por este, que lhe fornece conhecimentos e regular assistência”.
Descontando as partes patentemente de cariz comercial e se substituirmos os termos “bens e serviços pelo termos “ideologias” obtém-se uma descrição particularmente elucidativa e clarificadora das relações entre o Chega e os outros partidos populistas europeus com a “Casa Mãe”, ou seja, The Movement Foundation.
Não é por mero acaso e coincidência que quase de repente, os partidos populistas europeus tenham começado a explorar os mesmos temas e a utilizar os mesmos métodos e até as mesmas palavras.
O uso descarado e despreocupado da mentira
O uso da ofensa e provocação tantas vezes gratuita
O descrédito das instituições transformando os parlamentos em verdadeiros circos com intervenções provocatória e boçais e no caso português também do Presidente da República
O incitamento aos ódios identitários
O aproveitamento de todos os pretextos para a polarização da sociedade tentando eliminar o centro político
O discurso antissistema embora aproveitando-se de todas as vantagens que as democracias lhes oferecem
As técnicas para calar todas as oposições, ocupando toda a agenda mediática, por vezes sob pretextos ridículos como a traição à Pátria.
O desprezo da coerência utilizando argumentos e efetuando promessas irrealizáveis que tanto podem indiferentemente ser de extrema direita ou de extrema esquerda, ecológicas ou poluentes. Não interessa, desde que resultem em votos.
De repente, desde 2017/18, todos começam o utilizar os mesmos métodos e a visar os mesmos alvos usando os mesmos instrumentos.
O Financiamento
Não são conhecidas as fontes de financiamento do Chega, mas lá chegaremos. O facto é que não é normal que um partido como o Chega, que só a partir das últimas eleições tenha ganho o direito a receber subvenções significativas do Estado, tivesse patenteado de um dia para o outro uma abundância de meios e capacidade de atuar nos média e redes sociais, apresentando candidatos em todos os distritos, sem um grande apoio técnico e financeiro.
Está claro que dirão que o financiamento é assegurado por doações anónimas de 1€ cada proveniente de modestos cidadãos que tiram da boca para dar ao Chega. Não há qualquer outro apoio financeiro. Jurarão, e se houver é nacional, é nosso e todo inteiramente legal. Não sabemos, mas havemos de saber.
Sabemos, todavia, que uma das filiadas, o partido da Sr.ª Le Pen, quando a banca francesa lhe cortou o crédito, foi pedir financiamento a Vladimir Putin por mais do que uma vez. Sabemos também que o Sr. Bannon foi condenado nos EUA por se apoderar de uma quantia avultada dos donativos que os cidadãos apoiantes de Trump deram para a construção do famigerado muro na fronteira com o México. Enfim, não deixa de ser irónico.
Conclusão
O patriotismo do Chega não passa de um clone do nacionalismo exportado pela multinacional do caos de Trump e Bannon.
A sua propaganda não vai além da repetição de técnicas e fórmulas importadas para a Europa e aprendidas em workshops e reuniões das organizações multinacionais populistas.
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