Africa Corps

por: Zawadi Koyamba

A Expansão da Influência Russa em África

A 23 de agosto de 2024, a morte abrupta de Yevgeny Prigozhin, controverso líder do Grupo Wagner, trouxe incertezas sobre os planos da Rússia em África. Poucas semanas antes, Vladimir Putin, na cimeira Rússia-África em São Petersburgo, apelava ao combate ao "neocolonialismo ocidental" no continente. Mas será que o desaparecimento de Prigozhin ameaça os objetivos estratégicos russos em África?

O Grupo Wagner e a África Subsariana

O Grupo Wagner tem desempenhado um papel central na estratégia russa em África, especialmente em países como Mali, República Centro-Africana (RCA) e Burkina Faso. A organização continuou funcional, mesmo após a morte de Prigozhin. A infraestrutura em torno da organização mantve-se ativa em África, e é essencial para o financiamento e lavagem de dinheiro.

Moscovo já preparou a transição: Altos responsáveis militares russos visitaram os países africanos, incluindo o vice-ministro da Defesa e oficiais dos serviços secretos, para se assegurarem que o Ministério da Defesa russo assumisse o controlo anteriormente assumido pelo Grupo Wagner. Nasceu o Afica Corps.

O foco nas antigas colónias francesas, como Mali e Níger, reflete um esforço para enfraquecer a influência ocidental, especialmente da França, no continente. Contudo, esta abordagem levanta a questão se estará a Rússia a agir como uma alternativa ou a replicar práticas neocoloniais mascaradas por retórica antiocidental.

O Papel Económico da Rússia em África: Muito Ruído, Poucos Resultados

Apesar do discurso ambicioso de Putin, a realidade económica da Rússia em África é modesta. Desde a primeira cimeira Rússia-África em 2019, onde se prometeu duplicar o comércio bilateral, os resultados foram dececionantes. As trocas comerciais diminuíram e os investimentos russos representam menos de 1% do total do investimento estrangeiro no continente. Mais de dois terços das exportações russas concentram-se em apenas quatro países: Marrocos, Argélia, Egito e África do Sul.

Por outro lado, no setor da defesa, a Rússia destaca-se. Moscovo tornou-se o maior fornecedor de armas a África, superando a China, com equipamentos acessíveis e compatíveis com o arsenal herdado da era soviética. Este fator contribui para consolidar relações com regimes instáveis, frequentemente protagonistas de golpes de Estado, como os recentes casos no Níger e Gabão.

Golpes de Estado e a Busca de Alternativas ao Ocidente

A África Subsariana tem sido palco de uma crescente instabilidade, marcada por sucessivos golpes de Estado. Para muitos governos africanos, a Rússia apresenta-se como uma alternativa pragmática ao Ocidente, que é frequentemente criticado por imposições éticas e políticas. Moscovo evita julgar abusos dos direitos humanos, o que é visto como uma abordagem prática e descomplicada por muitos líderes africanos.

Além disso, o apoio russo a dinâmicas locais, reforça a sua posição como um parceiro menos intrusivo. A Rússia oferece o que o Ocidente não tem conseguido: apoio sem julgamento, e que dificilmente pode conseguir, de acordo comos princípios que defende.

Geopolítica ou Neocolonialismo?

A estratégia russa em África visa não apenas enfraquecer a influência ocidental, mas também assegurar apoios no cenário internacional. Com 54 votos na Assembleia Geral da ONU, o continente africano é um bloco regional de peso. Esta relação simbiótica entre Moscovo e governos africanos levanta questões importantes: até que ponto a Rússia é uma alternativa real ao neocolonialismo ocidental ou é apenas mais uma potência estrangeira com interesses geopolíticos próprios?

A resposta reside na ausência de investimentos significativos em desenvolvimento e assistência humanitária por parte da Rússia. Sem um compromisso genuíno com o progresso dos países africanos, a narrativa russa contra o neocolonialismo ocidental acaba por ser vista como uma estratégia para mascarar objetivos geopolíticos próprios.

Moscovo em África: Um Futuro de Cooperação ou Exploração?

A morte de Yevgeny Prigozhin trouxe incertezas, mas não interrompeu a estratégia russa em África. Com armas acessíveis, retórica antiocidental e uma abordagem pragmática, Moscovo conseguiu consolidar laços importantes no continente. No entanto, a falta de um compromisso real com o desenvolvimento de África levanta dúvidas sobre as intenções a longo prazo da Rússia.

Será que Moscovo conseguirá manter a sua influência sem investimentos significativos? Ou acabará por ser vista como mais uma potência estrangeira interessada apenas em extrair benefícios imediatos? O futuro da relação Rússia-África será, certamente, um campo de batalha onde interesses geopolíticos e promessas de emancipação se confrontarão, com as posições ocidentais e com as da China.

Campa de Prigozhin em São Petersburgo

Rússia Cria Novo Exército de Mercenários em África, Africa Corps substitui o Grupo Wagner

Com o Africa Corps, Moscovo procura reforçar a sua presença militar em África e controlar os interesses económicos deixados pelo Grupo Wagner, sobretudo na mineração.

Após o encerramento das operações do Grupo Wagner, a Rússia está a criar uma nova força de mercenários designada Africa Corps, composta por cerca de 20 mil combatentes. Este movimento visa garantir a continuidade da influência russa em África e consolidar os lucros em sectores como a mineração.

O Africa Corps, uma força organizada pelo Ministério da Defesa russo, assume o papel deixado pelo Wagner, dissolvido após a morte do seu fundador, Yevgeny Prigozhin, em 2023. O nome desta força, é controversamente associado à expedição nazi Afrika Korps, e reflete as ambições estratégicas de Moscovo para expandir a sua rede de bases no continente.

Objetivos Estratégicos e Económicos

Esta nova força integra-se numa estratégia de Moscovo para recuperar influência em África, num contexto de retração do poder ocidental na região, como demonstrado pelo enfraquecimento da presença francesa no Mali. Além disso, o Kremlin procura consolidar o controlo sobre os negócios anteriormente geridos pelo Wagner, particularmente no sector da mineração. Desde o início da guerra na Ucrânia, a Rússia terá arrecadado cerca de 2,5 mil milhões de dólares provenientes de ouro africano, uma fonte essencial para financiar os custos do conflito.

Desafios e Riscos

Embora as ambições russas sejam claras, a militarização oficial do Africa Corps implica riscos. Ao assumir um papel formal em África, Moscovo deixa de poder negar as acusações de crimes de guerra associadas ao Wagner, que alegadamente cometeu massacres em países como a República Centro-Africana. Nestes incidentes, mercenários lutaram ao lado das forças governamentais contra rebeldes que tentavam derrubar o presidente Faustin-Archange Touadéra.

Se estas forças forem integradas no exército russo, Moscovo torna-se diretamente responsável pelos abusos cometidos, perdendo a possibilidade de negar as acusações.

Composição e Operacionalidade

O Africa Corps será formado por mercenários e voluntários, recrutados desde dezembro de 2023. O processo inclui ex-combatentes do Wagner e, potencialmente, residentes locais. No entanto, as estimativas que apontam para 20 mil membros parecem exageradas, dado que o Wagner nunca ultrapassou os sete mil combatentes em África.

Sob a liderança do vice-ministro da Defesa russo, Yunus-bek Yevkurov, o Africa Corps está operacional desde o verão de 2024. Além de operações militares, esta força desempenha funções de treino e segurança, protegendo interesses russos, como as empresas de mineração.

O Legado da Guerra Fria

A Rússia mantém relações históricas com África, desenvolvidas durante a Guerra Fria. Nos últimos anos, estas relações intensificaram-se através de acordos de cooperação militar, vendas de armas e formação de forças locais.

A criação do Africa Corps demonstra o esforço russo para reforçar a sua presença numa região estratégica, aproveitando a crescente fragilidade da influência ocidental. Contudo, o Kremlin enfrenta desafios significativos, incluindo questões de mobilização e um maior escrutínio internacional pelas suas ações no continente.

Com esta nova força, Moscovo não só procura garantir o seu lugar em África como também mitigar os impactos da dissolução do Wagner, numa jogada arriscada que poderá definir a próxima fase da presença russa no continente.

A influência da Rússia em África baseia-se no apoio aos numerosos Golpes de Estado na região