Texto #8
por Simon Ben-David
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O Genocídio Uigur
"China: O Dragão Autoritário”
A China embora com resultados espantosos a diversos níveis, que reconhecemos e relatámos em textos anteriores, é uma ditadura. Ao contrario das anteriores ditaduras marxistas-leninistas, vulgarmente apelidadas de comunistas, a China, é sem qualquer dúvida, um fenómeno de tipo novo que promove o desenvolvimento e a expansão económica, baseada sobretudo na vertente capitalista, um dos sistemas que assumidamente adotou. Porém, se é certo que o capitalismo, (muito agressivo, consumista e não sustentável), é a locomotiva do sistema económico da China, não é menos certo que a governança politica mantem todo o ritual de partido único comunista herdado do stalinismo e do marxismo-leninismo. Entre estas práticas inclui-se as perseguições ferozes de quem não segue "religiosamente" as diretivas do partido. O modo de perseguir evoluiu drasticamente dando a aparência de se ter suavizado. A inteligente política e adoção de diplomacias "soft power", conseguem internacionalmente passar a ideia de algum respeito pelos direitos humanos. No nosso artigo "O Estado de Vigilância na China" - PARA LER CLIQUE AQUI - vimos como o PCC vigia as cidades e as zonas económicas especiais. Neste artigo vamos abordar o modo como a China controla as minorias étnicas, nomeadamente a minoria Uigur. A sofisticação desta ditadura vai ao ponto de ter sistemas de controlo diferentes para situações distintas. Por isso, tudo o que a China aprecia, é ser sumariamente apelidada de ditadura comunista, em confusão absoluta com o sistema soviético, entretanto enterrado. Enquanto assim for a China vai bem, pois parece que ninguém quer aperceber-se do que anda a fazer. Tenebroso !
O Genocídio Uigur: Opressão Silenciosa em Nome do Controlo Estatal
A repressão de minorias étnicas e religiosas em estados autoritários é uma questão tão antiga quanto as próprias civilizações. No entanto, no século XXI, o mundo enfrenta um cenário novo e perturbador: o uso de tecnologias avançadas e estratégias sofisticadas de vigilância para perpetrar o que muitos especialistas e observadores internacionais descrevem como genocídio. A situação dos uigures, um povo de maioria muçulmana na Região Autónoma Uigur de Xinjiang, na China, é um exemplo brutal desta realidade.
A História dos Uigures e a Região de Xinjiang
Para compreender o que está em jogo, é crucial saber quem são os uigures e qual a importância histórica de Xinjiang. Os uigures são um povo de origem turcomana com uma rica herança cultural e religiosa que remonta a séculos. A região de Xinjiang, que significa “Nova Fronteira”, tem sido uma encruzilhada de civilizações, servindo como uma parte estratégica da Rota da Seda. Esta localização geográfica e a sua riqueza em recursos naturais, como petróleo e gás, tornaram Xinjiang um ponto de grande interesse económico e político para o governo central da China.
Com a ascensão do Partido Comunista Chinês (PCC), a região de Xinjiang foi integrada à força na República Popular da China. Desde então, a tensão entre o governo central e a população local tem sido constante, marcada por revoltas esporádicas e uma crescente militarização da região.
A Escalada da Repressão: Campos de Reeducação e Controlo Social
Nos últimos anos, a repressão estatal intensificou-se de forma alarmante. Relatos de fontes diversas, incluindo organismos internacionais de direitos humanos, indicam que mais de um milhão de uigures foram detidos em campos de reeducação. O governo chinês, por sua vez, descreve esses campos como centros de “formação vocacional” para combater o extremismo e promover a integração social. No entanto, as provas e testemunhos apontam para algo bem mais sinistro.
Os uigures nos campos são sujeitos a doutrinação política, onde são forçados a renunciar às suas crenças religiosas e a aderir à ideologia do Partido Comunista. Há relatos perturbadores de tortura, violações, e esterilizações forçadas, práticas que se enquadram nas definições de genocídio cultural e físico segundo a Convenção das Nações Unidas para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio.
A Tecnologia ao Serviço da Repressão
O uso da tecnologia na repressão dos uigures é talvez o aspecto mais insidioso desta crise. Xinjiang tornou-se um campo de teste para as tecnologias de vigilância de última geração, incluindo câmaras de reconhecimento facial e software de monitorização de smartphones. Estas tecnologias, alimentadas por inteligência artificial e uma infraestrutura de Big Data, permitem ao governo chinês monitorizar de forma exaustiva e contínua os movimentos e comunicações da população uigur.
Esta rede de vigilância não tem paralelo em termos de escala e eficácia. A China tem justificado estas práticas como medidas de segurança necessárias para combater o terrorismo e manter a estabilidade. Contudo, as suas implicações para os direitos à privacidade e à liberdade de expressão são profundas e representam um perigoso precedente para outros regimes autoritários.
Assimilação Forçada e Restrição Religiosa
A campanha de assimilação cultural inclui a proibição da língua uigur em várias escolas e a destruição de mesquitas e locais de culto. O ensino obrigatório em mandarim e a imposição de costumes chineses são tentativas de apagar a cultura uigur. Mesmo a prática de jejum durante o mês sagrado do Ramadão é desencorajada, e indivíduos suspeitos de manterem práticas religiosas podem ser considerados "extremistas". Além disso, a presença de elementos islâmicos, como o uso de véus ou o crescimento da barba, é alvo de perseguição, levando a punições severas.
Trabalho Forçado e Exploração Económica
A exploração de trabalho forçado é uma prática denunciada em Xinjiang, com muitos uigures obrigados a trabalhar em fábricas e campos agrícolas. Grandes multinacionais são acusadas de beneficiar-se desta situação, uma vez que Xinjiang é um importante fornecedor de algodão e de outros produtos industriais. Além disso, programas governamentais deslocam uigures para outras partes da China, numa tentativa de fragmentar a comunidade e enfraquecer a identidade coletiva.
A Reação Internacional e a Cumplicidade Silenciosa
A resposta internacional tem sido mista. Diversos países, principalmente no Ocidente, têm condenado as ações da China e imposto sanções a funcionários específicos envolvidos na repressão. Organizações de direitos humanos, como a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional, têm publicado relatórios extensivos que documentam as atrocidades cometidas em Xinjiang.
Por outro lado, o silêncio e a inércia de outros países são notáveis. As motivações variam, desde o medo de represálias económicas – dado o poder de mercado da China – até alianças políticas e estratégicas que desencorajam críticas abertas. Países com economias dependentes de investimentos chineses ou que partilham uma postura ideológica autoritária optam por não condenar publicamente o genocídio uigur, perpetuando assim uma cumplicidade tácita.
As Consequências Humanas e Culturais
A tentativa de erradicar a cultura uigur vai além dos campos de reeducação e da vigilância tecnológica. Relatos indicam a destruição sistemática de locais de culto, escolas religiosas e até aldeias inteiras. Esta estratégia visa minar as fundações da identidade cultural e religiosa dos uigures, enfraquecendo a sua coesão como povo.
O impacto humano é devastador. Milhares de famílias foram desmembradas, com crianças a serem separadas dos pais e enviadas para internatos estatais onde são educadas segundo a ideologia do partido. Esta separação forçada, além do trauma psicológico, cria uma nova geração de uigures desconectados das suas raízes culturais e religiosas.
Sob o pretexto de combater o terrorismo, um sistema de vigilância altamente intrusivo tem sido intensificado, servindo como instrumento para consolidar o autoritarismo. Organizações de defesa dos direitos humanos têm alertado sobre o papel da região desempenha como um 'laboratório' de de ensaios para as práticas de opressão, com um objetivo ainda maior: a possibilidade de exportação deste modelo para além das suas fronteiras.
A região Xinjiang, situada numa área estratégica e é limitada por diversas fronteiras internacionais, tem sido palco de intensas discussões e críticas sobre o tratamento dispensado à minoria muçulmana local. Nos últimos anos, esta região tornou-se sinónimo de tensões geopolíticas e humanitárias, envolvendo a China e a comunidade internacional.
O problema central é o tratamento severo dado à minoria Uigur, alvo de vigilância rigorosa e de medidas repressivas descritas como um teste para tecnologias avançadas de controlo social. Estas tecnologias são, posteriormente, disseminadas por outras partes da China e, potencialmente, para além das suas fronteiras. Este tipo de medidas têm um impacto profundo na sociedade local, onde estes métodos intrusivos de controlo são aplicados para alinhar os comportamentos das pessoas com os interesses do regime. Mas à medida que crescem as denúncias sobre o que se passa no país, o debate ganha novos contornos, mais abrangentes, como seja o de avaliar qual o risco do modelo chinês se espalhar ao resto do mundo.
Nos últimos anos, acusações de violações massivas de direitos humanos foram levadas a público por diversos governos e organizações internacionais. Estas alegações incluem a existência de centros que, sob a justificativa de 'reeducação', funcionam como locais de confinamento e doutrinação, onde os detidos são forçados a renunciar à sua cultura e crenças. Esses centros são vistos como um mecanismo para forçar a assimilação cultural e o controlo político.
Efetivamente a repressão intensificou-se após episódios de protestos na década de 1990 e na preparação de eventos de relevância internacional, como foi o caso dos olímpicos de Pequim, em 2008.
Um outro incidente, em 2009, envolvendo a morte de dois imigrantes uigures na província de Guangdong, no sul da China, é apontado como o pretexto assumido pelo regime para perseguir a minoria étnica. Dois homens morreram durante uma briga numa fábrica, iniciada depois de rumores de que trabalhadores da etnia uigur teriam violado duas mulheres chinesas. Daqui resultou uma onda de confrontos entre uigures e chineses da etnia dominante, Han, da qual resultaram centenas de mortos. O Estado se agarrou este caso, para vir dizer que os uigures são um perigo a combater e uma ameaça terrorista. A partir daí, ocorreu o reforço da presença militar e de medidas de controlo, como cortes de acesso à internet. Os 'centros de reeducação' surgiram como um meio de doutrinação forçada.
Estima-se que milhões de pessoas tenham sido afetadas por estas medidas, com relatos de detenções arbitrárias e longas penas de confinamento em condições que incluem interrogatórios intensivos e práticas de tortura. As detenções podem ser motivadas por atos tão simples como a recitação de textos religiosos do Corão, sendo usadas para justificar a necessidade de 'tratar' supostas influências ideológicas perigosas.
Os métodos de vigilância vão além do convencional. Relatos indicam a utilização de tecnologias digitais para um controlo minucioso das populações. As ruas são monitorizadas por câmaras a intervalos regulares de 100m em 100m, e os dispositivos eletrónicos dos residentes estão sujeitos a programas de espionagem encomendados pelo governo. Os dados recolhidos incluem desde impressões digitais e informação genética até ao registo de familiares e ao registo do estatuto de confiança. Estas informações alimentam um sistema centralizado que utiliza inteligência artificial e aplicações de Big Data para criar listas de vigilância e identificar potenciais 'ameaças'. Especialistas descrevem esta situação como um exemplo de controlo totalitário modernizado através da tecnologia.
O objetivo final parece ser a integração de população dominante Han na região, alterando a demografia e consolidando a presença política daquela etnia. Efetivamente a China tem tido uma estratégia de dominar a província e os uigures seguindo duas táticas: uma imediata, que passa pela violência profunda, reiterada e sistemática; outra, através de um plano de médio e longo prazo, fazendo imigrar para a província população Han, para alterar o perfil de raças na região.
O desenvolvimento destas práticas tem sido justificado politicamente através do combate ao terrorismo. No entanto, a verdadeira motivação parece ser o reforço dos mecanismos de controlo interno e a projeção de poder.
O modelo de vigilância promovido pela China tornou-se uma fonte de inspiração, com práticas semelhantes a serem replicadas em diferentes partes do mundo. Se olharmos para a lista conhecida de países que utilizam tecnologia da China, não encontramos apenas ditaduras ou regimes autoritários, sendo já, pelo menos, 54 as nações a importar esta tecnologia que recorre à inteligência artificial desenvolvida na China. A lista inclui desde governos autoritários a democracias falhadas, mas não só. Exemplos: Tailândia, Turquia, Bangladesh ou Quénia.
O debate global sobre a vigilância e o uso de tecnologias de controlo ainda está numa fase inicial, mas a preocupação é crescente. A aplicação de tecnologias com reconhecimento facial, a recolha de dados biométricos e monitorização de comportamentos, adicionam uma camada de complexidade à violação da privacidade e direitos individuais. A introdução de mecanismos de busca controlados pelos governos e o desenvolvimento de redes de comunicação com envolvimento estatal reforçam a necessidade de uma abordagem cuidadosa e do aprofundar de políticas que protejam os direitos dos cidadãos.
O Silêncio Ensurdecedor e a Urgência de Ação
O genocídio uigur levanta questões fundamentais sobre a moralidade das relações internacionais no século XXI. Até que ponto estamos dispostos a fechar os olhos em nome do pragmatismo e da segurança? A tecnologia, que pode ser uma força para a promoção do bem, é usada no caso dos uigures como um instrumento de opressão em larga escala.
Cabe à comunidade internacional ir além das simples palavras de condenação. É necessária uma resposta coordenada que una a pressão diplomática, sanções eficazes e apoio aos refugiados uigures. O silêncio de hoje poderá ser lembrado como uma mancha na consciência coletiva. No futuro, se esses sistemas de vigilância se disseminarem pelo mundo, de pouco servirá recordar que deveríamos ter denunciado estes casos num momento em que as vozes da justiça deveriam ter sido mais fortes e corajosas.
Como nos proteger deste tenebroso modelo de Vigilância
Para que as democracias se protejam deste modelo de vigilância, é essencial a implementação de legislações eficazes, a participação ativa dos cidadãos na defesa dos seus direitos, e a existência de um sistema mediático independente que assegure a transparência e o debate informado. A vigilância tecnológica levanta sérias questões sobre o equilíbrio entre segurança e liberdade, exigindo atenção contínua e uma resposta firme para evitar que modelos de controlo autoritário se espalhem globalmente.
PESSOAS DE ETNIA UIGOR
A China não é um país qualquer. Tem a obrigação como potência emergente de se comportar decentemente e não trucidar o seu povo. Causa Democrática defende em todos os casos, a denuncia dos sistemas ditatoriais quer a ditadura se suporte em ideologias ditas de esquerda ou direita, seja uma teocracia, ou se baseie em forças militares. Uma ditadura é sempre uma ditadura, ponto.
A China é sem sombra de dúvida uma ditadura duma sofisticação tremenda manipulando com mestria todas as ferramentas que tem ao seu dispor. Lançou na última década, novas e sofisticadas ferramentas de vigilância, que se prepara para vender a todos os ditadores do mundo.
Por outro lado, desenvolveu uma diplomacia muito inteligente baseada no conceito de "SOFT POWER", que visa camuflar os aspetos odiosos da sua política.
Acresce que a China tem com Portugal, uma relação de séculos. Sim, um pequeno país da Europa foi o primeiro a relacionar-se com o gigante da Ásia. Essa relação continua e deve continuar. Mas esta condição dá-nos a obrigação de denunciar o Genocídio dos Uigures e outras violações dos direitos humanos. É uma das ações que mais enerva a diplomacia chinesa que tudo faz para esconder este aspeto.
Façam o que estiver ao vosso alcance:
1- Tome conhecimento desta prática do governo Chinês. investigue por si próprio o caso. divulgue artigos que encontrar.
2- Divulgue junto de amigos, faça partilhas de conteúdos, fale no caso.
3- Envie-nos artigos seus ou de terceiros. Se se enquadrar nos aspetos legais e de conteúdo publicaremos.
4- Exija aos governantes portugueses quando em representação de Portugal ou da UE e em visita à China, que denunciem os atentados aos direitos humanos, como fazem alguns diplomatas e governos estrangeiros, (Ver vídeo abaixo).
5- Sugira outras ações que possamos tomar.
6- Não ignore, não deixe esquecer.
Ajude a combater o "Soft Power" da China. O objetivo do soft power, é moldar perceções globais relativas às suas política, para facilitar a aceitação do seu modelo político e económico, desviar críticas sobre questões de direitos humanos e criar um ambiente internacional mais favorável para os seus interesses. A China investe fortemente na disseminação da sua cultura e história milenar, através de centros culturais como os Institutos Confúcio, que promovem o ensino da língua chinesa e a realização de eventos culturais pelo mundo. O país organiza festivais, exposições e colaborações artísticas para melhorar a sua imagem global.
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