3 - A Mão

O presente escrito é a terceira parte de um conjunto de quatro textos sobre a ideologia euroasianista e as consequências práticas da sua presença enquanto ideologia de regime da Federação Russa. Ressalvamos o facto de o euroasianismo não ser oficialmente assumido como ideologia do Estado Russo. No entanto, está presente em todos os níveis da administração do estado, do ensino, do aparelho militar, e da comunicação social estatal e conexos privados sob controle político. Atesta-o o facto de um grande número de responsáveis políticos e militares emitem declarações e atuações conformes e de ser abertamente defendida sem subterfúgios, pelos meios de comunicação estatais e/ou controladas pelo governo.

IMPIEDOSAMENTE

“Mais tarde ou mais cedo este infindável espetáculo acabará. Tomaremos então a nossa vingança:

Impiedosamente”

Alexander Dugin

Em “A Mão” pretende-se dar a conhecer ao leitor a “caixa de ferramentas” de que o regime de Putin dispõe para promover a política euroasianista.

Se se escolher argumentar que o euroasianismo é apenas uma utopia convém relembrar que realizável ou não, todas as ações dos seus protagonistas concorrem para a tentar materializar. No caminho para o objetivo utópico vão-se realizando atos e obras que, no tempo, camada após camada, se tentam aproximar da utopia.

Tudo o que daí resulta deixa marcas nas sociedades e nos seres e tal qual como na arqueologia ou na geologia, essas obras e atos amontoam-se e avolumam-se em extratos que progridem para a superfície.

E a superfície é a atualidade da uma sociedade real,, nunca a própria utopia, que por definição é inalcançável.

O problema com as utopias é que são construções meramente teóricas e intelectuais, partindo de interpretações da realidade.

Frequentemente, reivindicando-se embora do propósito de conquistar maior justiça ou/e felicidade para o Homem, acabam paradoxalmente por tratar os homens concretos como meros ratos de laboratório, expulsando o humanismo para destino incerto.

É o que acontece com o euroasianismo o qual, propalando grandiosos objetivos, não hesita em lhes sacrificar milhões de vidas.

Todavia, existem atenuantes pois neste capítulo, o Euroasianismo goza de abundante companhia. Não é caso único.

A Mão, no conjunto dos quatro artigos, simboliza uma realidade instrumental: O conjunto de instituições e organizações e meios técnicos que a Mente euroasianista utiliza para se impor na Rússia e fora dela. A maioria desses instrumentos concentram-se no próprio Estado da Federação Russa, mas nem todos dependem diretamente dele.

A instituição que de imediato se destaca é obviamente a da força armada ao serviço do Estado

3.1 As Forças Armadas da Federação Russa

São as responsáveis pela defesa militar do país e estão divididas em cinco ramos principais:

3.1.1 Exército Russo (Exército Terrestre): Responsável pela defesa no terreno, com unidades de combate, apoio logístico e unidades especializadas em operações terrestres. Ele é o maior dos ramos das Forças Armadas.

3:1.2 Marinha Russa: Responsável pela defesa dos mares, com unidades navais, submarinos (inclusive nucleares), navios de guerra e aviões de patrulha naval. A Marinha russa é uma das maiores do mundo, com uma forte presença no Mar Negro, Mar Cáspio, Pacífico e Ártico.

3.1.3 Força Aérea Russa: A Força Aérea é responsável pela defesa do espaço aéreo russo e pela projeção de poder aéreo em tempo de guerra. Inclui aviões de combate, bombardeiros, caças, helicópteros e unidades de defesa aérea. A Força Aérea também tem uma forte presença em termos de sistemas de defesa antimíssil.

3.1.4 Forças de Mísseis Estratégicos (RVSN): Essas forças são responsáveis pelo controle e uso do arsenal nuclear estratégico da Rússia. Incluem mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs) e sistemas de lançamento, que são considerados uma parte crucial da dissuasão nuclear do país.

3.1.5 Forças Aeroespaciais da Rússia (VKS): Esta é uma força híbrida que combina a aviação militar com a defesa espacial e anti mísseis. A VKS engloba aviões, satélites, e sistemas de defesa anti míssil, bem como outras capacidades relacionadas ao espaço e à cibernética.

3.1.6 Reserva Militar Além disso, as Forças Armadas russas mantêm uma Reserva Militar , composta por cidadãos treinados que podem ser convocados em caso de mobilização.

3.2 Organização adicional:

3.2.1 Guarda Nacional da Rússia: Força não é estritamente uma parte das Forças Armadas, mas tem um papel importante em operações internas e na manutenção da ordem pública, com unidades especializadas em segurança interna e combate ao terrorismo

3.2.2 Frotas e Distritos Militares: As Forças Armadas da Rússia são organizadas em frotas (para a Marinha) e distritos militares (para o Exército e Força Aérea), que cobrem diferentes regiões do país.

3.2.3 A Rússia também tem uma grande força de militares especializados em cibernética e de inteligência militar, além de sua poderosa artilharia e forças de defesa anti míssil.

Esses ramos das Forças Armadas russas são altamente desenvolvidos e bem equipados, especialmente no que se refere à capacidade nuclear e às forças de combate no ambiente terrestre, aéreo e marítimo

3.3 Outras instituições que se ocupam da segurança do estado

Além das Forças Armadas, que são responsáveis pela defesa externa e, em alguns casos, por missões internas de segurança, a Rússia conta com várias outras instituições que desempenham papéis cruciais na segurança do estado e na manutenção da ordem interna. Estas instituições lidam com questões de inteligência, polícia, segurança interna e contrainteligência. Eis as principais:

3,3,1. Serviço Federal de Segurança da Federação Russa (FSB)

O FSB é o órgão de segurança interna mais importante da Rússia e é responsável por uma ampla gama de atividades, incluindo:

• Contrainteligência: Prevenção e combate a atividades de espionagem e sabotagem, tanto internas quanto externas.

• Segurança interna: Garantir a ordem pública, combater o terrorismo e o extremismo.

• Controle das fronteiras: Supervisiona a segurança nas fronteiras da Rússia e atividades de imigração.

• Vigilância e repressão de dissidência: Em tempos de crise política ou social, o FSB pode atuar para suprimir movimentos de oposição ou protestos.

O FSB é uma herança da KGB (Comité de Segurança do Estado), a polícia secreta soviética, e mantém grande influência sobre as políticas internas da Rússia. Putin foi Coronel do KGB e Diretor do FSB antes de se tornar Primeiro Ministro e posteriormente Presidente.

3.3.2 Serviço de Inteligência Externa (SVR)

O SVR é responsável pela inteligência externa, ou seja, pela recolha de informações fora da Rússia. Nas principais atividades incluem-se:

• Espionagem e recolha de dados sobre países estrangeiros,

• Realização de operações secretas no exterior.

• Proteção dos interesses geopolíticos da Rússia no exterior, com foco na análise de ameaças internacionais e no monitorização de organismos internacionais.

3.3.3 Serviço Federal de Guarda (FSO)

• O FSO é responsável pela segurança de altos funcionários do governo, incluindo o presidente, o governo e outras autoridades de alto escalão, bem como pela proteção de instalações-chave do estado.

• Atua no controle e proteção das comunicações oficiais.

• Desempenha funções de segurança em eventos importantes, como conferências internacionais, e na proteção de infraestrutura crítica.
  

3.4 Ministério do Interior da Rússia (MVD)

MVD é uma das principais instituições responsáveis pela segurança pública e pela manutenção da ordem interna. Suas responsabilidades incluem:

3.4.1 Polícia Nacional: A polícia russa, sob o MVD, lida com crimes comuns, investigações, operações de combate ao crime organizado e segurança nas ruas.

3.4.2 Unidades de Tropas Internas: Estas forças paramilitares são uma espécie de força de segurança interna, especializadas em lidar com situações de distúrbios públicos, repressão de protestos e combate ao terrorismo.

3.4.3 Corpo de Polícia de Fronteiras: Supervisiona a segurança nas fronteiras e atua em operações contra o tráfico de drogas e contrabando.

3.4.5. Guarda Nacional da Rússia (Rosgvardiya)

Criada em 2016, a Rosgvardiya é uma força paramilitar sob a autoridade direta do presidente da Rússia, responsável pela segurança interna, controle de protestos e repressão à violência e ao crime organizado. A Guarda Nacional é encarregada de várias funções, incluindo:

• Combate ao terrorismo: Em colaboração com outras agências, como o FSB.

• Segurança em grandes eventos: Proteção de grandes encontros públicos e instituições governamentais.

• Apoio à polícia: Atua em situações de distúrbios e em ações de combate ao crime organizado.
  

3.4.6. Direção Principal de Inteligência (GRU)

A GRU é a agência de inteligência militar da Rússia, parte das Forças Armadas. Ela é responsável pela coleta de informações militares e pela realização de operações de espionagem militar fora do território russo. Além disso:

• Operações especiais: A GRU também tem um papel importante em operações militares encobertas, com foco em desestabilizar governos estrangeiros ou apoiar aliados russos em conflitos regionais.

• Ciber-inteligência: Recentemente, a GRU tem sido associada a várias campanhas de ciberataques, incluindo ataques a infraestruturas críticas de outros países e operações de desinformação.
  

3.4.7. Agência de Proteção e Vigilância (FAPSI) (extinta em 2003)

Antes de ser dissolvida em 2003, a FAPSI era a principal agência de segurança cibernética e vigilância de comunicações da Rússia. Embora já não exista, as suas funções foram absorvidas por outras instituições, incluindo o FSB e o GRU.

3.4.8. Polícia Militar e Forças de Segurança de Emergência

Em situações de emergência ou desastre, existem unidades de segurança e resgates que fazem parte de outras agências como o MVD e as Forças Armadas. Essas forças ajudam na resposta a desastres naturais, crises sociais, e até em operações de combate ao terrorismo e crimes organizados.

Essas agências e instituições desempenham papéis complementares no sistema de segurança do estado russo, com diversas áreas de especialização para garantir tanto a segurança interna quanto a proteção contra ameaças externas. A coordenação entre essas agências é essencial para manter o controle do país e a estabilidade do regime, com ênfase na monitorização da sociedade e no controle das ameaças internas e externas à autoridade do governo.

Basta uma leitura rápida para nos apercebermos da existência de varias agências polícias e departamentos com competências de “luta contra o terrorismo”. Faz-se notar que a acusação de terrorismo é hoje uma acusação usada com grande liberalidade sobre qualquer tipo de oposição ou critica ao regime. Alexander Navalny foi acusado de terrorismo, e a sua esposa agora exilada é alvo da mesma acusação.

Putin : O estado sou eu

3.5 O sistema prisional da Rússia

O sistema é extremamente rígido e severo, com uma longa história de práticas punitivas que remontam à época do Império Russo e da União Soviética. Hoje, ele é amplamente reconhecido por seu controle autoritário, condições de detenção frequentemente desumanas, e pela forte presença de sistemas paralelos de poder dentro das prisões, como os gangues do crime. Eis a estrutura básica do sistema prisional russo.

3.5.1 Estrutura do Sistema Prisional Russo

O sistema prisional na Rússia é dividido em diferentes tipos de estabelecimentos, com base no grau de segurança e no tipo de pena aplicada:

3.5.1.1 Prisões de Segurança Máxima (Colónias Penais de Regime Estrito)

• Estas são as prisões para os prisioneiros mais perigosos, incluindo líderes de organizações criminosas, terroristas e indivíduos condenados por crimes graves. As condições nestas colónias são muito severas, com vigilância constante e restrição extrema de liberdade.

• Quintas penais     Acolhem prisioneiros comum, trabalhando na agricultura ou trabalhos industriais, muitas vezes em condições de semiescravatura
  

3.5.1.2 Colónias Penais de Regime Geral

• São prisões de segurança média onde a maioria dos detidos cumpre pena. As condições de vida nessas colónias podem ser duras, com superlotação, violência, falta de acesso adequado a cuidados médicos e alimentação de baixa qualidade.

• Os gangues criminosos desempenham um papel significativo, com a presença de grupos organizados dentro das prisões controlando diversas atividades, como tráfico de drogas, extorsão, e comércio ilegal de bens.
  

3.5.1.3 Colónias de Regime Semiaberto

• São estabelecimentos onde os detidos gozam de mais liberdade, podendo sair para trabalhar durante o dia e retornando à prisão à noite. São geralmente aplicadas a pessoas condenadas por crimes menores.
  

3.5.1.4 Instituições Correcionais para Mulheres

• Existem também prisões separadas para mulheres, que possuem condições semelhantes às das prisões masculinas, A violência e os abusos são comuns.

3.5.1.5 Prisões de Detenção Temporária (SIZO - Centros de Detenção Provisória)

Centros em que se para detidos que entre nós seriam designados como estando em prisão preventiva.

• Resumo das características básicas do Sistema Prisional Russo

• Superlotação e Condições Degradantes

• Prática reiterada de Violência e Abusos

• Domínio de Gangues Criminosos

• Imposição de Trabalho Forçado

• Persistência de Castigos Violentos e Tortura

• Desprezo pelo princípio da Reabilitação e Direitos Humanos

A necessidade de detalhar o sistema prisional Russo impôs-se-nos.

O sistema parece muito específico, punindo-se em diferentes instâncias diferentes tipos de crime. Infelizmente existe um tipo de prisioneiro que pode ser condenado a qualquer uma dessas instituições. São os prisioneiros por delito de opinião.

Como já tivemos oportunidade de salientar, um mero manifestante, opositor, ou jornalista desalinhado das versões oficiais, podem ser acusados de terrorismo, e sofrer uma condenação até 14 anos de prisão em regime de segurança máxima, nos confins da Sibéria e por lá deixado morrer.

3.6  A Psiquiatria punitiva

O uso de instituições psiquiátricas como ferramenta de repressão política na Rússia, prática conhecida como "psiquiatria punitiva", remonta ao período soviético e, em menor escala, continua a ser uma realidade no país contemporâneo. Essa abordagem reflete um método particularmente insidioso de controle social e silenciamento de dissidências, ao manipular a ciência psiquiátrica para rotular a oposição como patológica. A seguir, uma análise detalhada sobre este tema, com base histórica e implicações atuais.

3.6.1 O Uso de instituições de saúde mental afim de eliminar a dissidência Política

Na União Soviética, a psiquiatria foi amplamente utilizada para reprimir dissidentes A lógica era simples e perversa: qualquer um que criticasse o regime socialista deveria, por definição, ser mentalmente instável, uma vez que tal crítica era vista como irracional ou como um sinal de desordem mental.

Os dissidentes, incluindo intelectuais, escritores, cientistas e ativistas políticos, eram frequentemente diagnosticados com "esquizofrenia lenta", uma condição fictícia criada por psiquiatras soviéticos como Andrei Snezhnevsky. Este diagnóstico permitia que sintomas vagos, como "obstinação ideológica" ou "crença em reformas democráticas", fossem considerados sinais de doença mental. A consequência era o internamento forçado em hospitais psiquiátricos, onde os pacientes enfrentavam tortura física e psicológica, isolamento, e tratamentos involuntários com medicamentos antipsicóticos em grandes doses.

3.6.2   A Situação na Rússia Contemporânea

Atenuada embora, a herança soviética nesta área não morreu. Nos últimos anos, sob o regime de Vladimir Putin, têm surgido relato do ressurgimento limitado, mas preocupante, dessa prática. O Estado russo, tem usado métodos similares contra ativistas, jornalistas e opositores políticos, ainda que de forma menos evidente do que no passado soviético.

Eis alguns exemplos recentes:

- Natalia Sharina – diretora de uma biblioteca que enfrentou acusações de extremismo e foi submetida a avaliações psiquiátricas forçadas.

- Mikhail Kosenko – participante de um protesto anti Putin em 2012, declarado "inimputável" e internado num hospital psiquiátrico com base em um diagnóstico controverso.

- Irina Slavina – jornalista de investigação que sofreu perseguição estatal antes de sua trágica auto imolação em 2020, após anos de pressão psicológica e institucional.

3.6.3 Por que é que a Psiquiatria Punitiva é considerada útil pela autocracia?

• Estigmatização: Ser rotulado como mentalmente instável desacredita a pessoa perante a sociedade, minando sua causa ou posição política.

• Isolamento Social: Internamentos forçados removem opositores do espaço público, privando-os de contato com aliados ou simpatizantes.

• Desumanização: A narrativa de "instabilidade mental" desvia a atenção das questões levantadas pelos dissidentes, transformando-os em objetos de piedade ou desprezo, em vez de agentes políticos.

Além disso, a psiquiatria punitiva tem a vantagem, para regimes autoritários, de ser menos "visível" do que outras formas de repressão, como prisões ou assassinatos. Muitas vezes, é hipocritamente apresentada como uma medida de proteção à saúde pública. Acresce a cooptação de profissionais da saúde e do sistema judiciário reforça o caráter sistémico do problema.

 3.7 A Questão  dos "Dissidentes"

A Rússia tem historicamente usado as prisões para reprimir opositores políticos, ativistas e dissidentes que se opõem ao regime. O tratamento de dissidentes políticos nas prisões russas envolve uma combinação de táticas de perseguição política, prisão arbitrária e condições extremamente severas, com o objetivo de silenciar a oposição e desmotivar a resistência ao governo.

3.7.1 Motivos para a Prisão de Dissidentes

Dissidentes podem ser presos por uma série de motivos, que geralmente estão ligados a:

Participação em protestos políticos: Ativistas e cidadãos que participam de manifestações contra o governo ou protestos em massa podem ser detidos sob acusações como "distúrbio da ordem pública", "insulto a autoridades", ou até mesmo "terrorismo"

• Críticas públicas ao governo: Pessoas que falam abertamente contra o governo, suas políticas ou o presidente Vladimir Putin podem ser alvos de prisão, sendo acusadas de espionagem, extremismo ou incitação ao ódio

• Organizações não registadas: Grupos ou movimentos que se opõem ao regime podem ser rotulados como extremistas ou terroristas e seus membros presos

• Atividades de direitos humanos: Ativistas e defensores de direitos humanos podem ser alvo de perseguição por suas críticas ao governo russo e seu trabalho em prol de reformas políticas e direitos individuais

3.7.2 Uso de Prisões e Centros de Detenção Provisória (SIZO)

Dissidentes frequentemente começam a ser encarcerados em centros de detenção preventiva aos quais nos referimos atrás, conhecidos como SIZO. Estes centros são usados para detenção antes de um julgamento, mas as condições nas instalações podem ser extremamente desumanas:

• Superlotação

• Ausência de cuidados médicos e alimentação minimamente adequados

• Falta de acesso a advogado

• Tortura psicológica e física

3.7.3 Prisão Política e Condições de Detenção

Quando dissidentes são condenados e transferidos para prisões permanentes, geralmente enfrentam condições muito severas:

• Visitas não autorizadas (Familiares, ONU, ONGs etc)

• Isolamento e segregação:

• Trabalho forçado

• Humilhações permanentes.

• Falta de tratamento médico adequado

3.7.4 Uso de Prisões para Suprimir Dissidência

O sistema prisional russo tem sido um dos principais instrumentos usados pelo governo de Vladimir Putin para suprimir dissidentes e desmotivar a oposição política. A perseguição política por meio da prisão de líderes de oposição, ativistas de direitos humanos e jornalistas tem se intensificado nos últimos anos, especialmente com as reformas legais que criminalizam cada vez mais opiniões contrárias ao governo.

A prisão de dissidentes políticos serve a múltiplos objetivos:

• Silenciamento: Desacreditar figuras de oposição, tornando-as irrelevantes o

• Exemplo público: Mostrar a qualquer pessoa que se oponha ao regime que os custos de tal oposição são altos.

• Censura e intimidação: Medo de represálias impede que mais pessoas se envolvam em protestos ou críticas públicas.

3.7.5 Repressão de Dissidentes Externos

A Rússia também tem adotado uma política de perseguição extraterritorial a dissidentes, incluindo jornalistas e ativistas que vivem no exterior. Muitos dissidentes enfrentam a ameaça de extradição ou até tentativas de assassinato, como foi o caso de Alexei Navalny e Sergei Skripal (ex-agente de inteligência russo que foi envenenado na Grã-Bretanha).

3.8 O Sistema de ensino

O atual sistema de ensino na Rússia deixa bastante patente a intenção do regime em preparar as novas gerações para a guerra. Desde os primeiros tempo da guerra fria ou do nazismo alemão, que não se evidenciava na Europa, uma tal sanha de militarização da juventude como nos dias de hoje na Rússia.

3.8.1 Nas Escolas do Exército

O Euroasianismo exerce uma forte influência nas academias militares onde goza de ampla aceitação. Dugin tem uma rede de apoio entre os círculos conservadores e ultranacionalistas da Rússia, que inclui figuras influentes no setor militar. Ele foi associado a membros do Movimento Nacional-Bolchevique e a outras organizações que influenciam a política e a estratégia de defesa russa. Dugin também tem uma relação próxima com diversos intelectuais e ex-oficiais do KGB, o que lhe permite influenciar a formação do pensamento estratégico e militar.
Se não outros, pelo menos o seu livro “Fundamentos de Geopolítica” faz parte dos planos curriculares para a formação de oficiais. O Euroasianismo, faz o seu caminho com toda a segurança e aceitação entre as elites castrenses.

3.8.2 O Panorama geral no contexto do sistema

Na Rússia, o sistema educacional tem uma forte ênfase na educação patriótica e na promoção de valores nacionais desde os primeiros anos de escolaridade.

3.8.2.1 Cidadania e História Militar:

Desde o ensino básico que, as crianças russas aprendem sobre a Grande Guerra Patriótica (a Segunda Guerra Mundial, na perspetiva russa) e os feitos heroicos dos soldados soviéticos e russos, os sacrifícios feitos pelo Exército Vermelho e a importância da vitória sobre o nazismo. O governo de Putin tem reforçado esses temas

3.8.2.2 "Patriotismo" e "Amor à Pátria":

A educação patriótica nas escolas enfatiza o amor pela pátria e o respeito pelas instituições do Estado. As crianças aprendem a importância da disciplina, do dever cívico e da lealdade ao país. O currículo escolar inclui não apenas história, mas também matérias relacionadas à cultura e valores nacionais, e há um foco significativo nas realizações da Rússia, tanto no passado soviético quanto na era pós-soviética.

3.8.3. Movimentos Juvenis e Organizações Patrióticas

Mantem-se a tradição de enquadramento da juventude em organizações, com componentes de preparação para a defesa do país. Durante o regime de Putin, essas organizações foram revitalizadas e adaptadas para o contexto atual.

3.8.3.1 Yunarmiya" (Juventude do Exército):

É uma organização juvenil que visa aproximar as crianças e os jovens da cultura militar, E preparar os jovens para o serviço militar. Crianças a partir de 8 anos podem ser membros da Yunarmiya,. A a organização oferece atividades que incluem acampamentos militares, competições de habilidades militares, e até treinamento com armas de fogo em alguns casos.

3.8.3.2 Os "Pioneiros" Modernos:

Embora a organização dos "Pioneiros" tenha sido um movimento soviético, inspirado nas juventudes comunistas do passado, um movimento semelhante foi revitalizado sob o governo de Putin. As crianças que participam dessas organizações recebem instruções sobre a história militar da Rússia, bem como treinamento em atividades físicas e "habilidades de sobrevivência", tudo dentro de um contexto de glorificação do papel da Rússia no mundo e da importância da força militar como um valor central.

3.8.3.3 A “O Jovem Exercito de Vladimir Putin”:

A criação de organizações e eventos voltados para o desenvolvimento de uma "juventude leal" ao presidente Putin e ao Estado russo também faz parte dessa estratégia. A ideia de "preparar os jovens para a defesa da pátria" é frequentemente promovida em paralelo com o culto à personalidade de Putin e a construção de uma identidade nacionalista centrada na força militar.

3.8.4 Promoção da Cultura Militar

A cultura militar, e essa cultura reflete-se no dia a dia crianças, através de atividades extracurriculares e nas atitudes gerais em relação ao serviço militar.

3.8.4.1 Atividades Extracurriculares:

As crianças podem participar voluntariamente em atividades extracurriculares, tais como como competições de tiro, exercícios de combate, simulações de guerra e até mesmo o uso de equipamentos militares. frequentemente patrocinadas por organizações governamentais ou militares.

3.8.4.2 Simulações de Combate e Acampamentos Militares:

As escolas russas, particularmente em áreas mais conservadoras e nacionalistas, podem organizar simulações de combate e atividades relacionadas à preparação física, como exercícios de resistência, habilidades de sobrevivência e até mesmo o uso de armas de fogo.

3.8.4.3 Relação com a História Militar:

As crianças russas são constantemente lembradas das vitórias militares do país, especialmente da Segunda Guerra Mundial. As cerimônias de 9 de Maio, o Dia da Vitória, são momentos chave em que as crianças são envolvidas em desfiles e homenagens aos veteranos, reforçando o vínculo entre a sociedade e as forças armadas. As escolas promovem o estudo da história militar russa,

3.8.4.4 Obrigatoriedade da instrução militar no ensino médio

Recentemente, já no contexto da invasão da Ucrânia foi introduzida a obrigatoriedade da instrução militar no currículo das escolas de ensino médio. A partir de 2022, uma série de reformas educacionais e políticas de segurança nacional levou à implementação obrigatória da instrução militar nas escolas secundárias. Essa iniciativa está em sintonia com o reforço da ideologia nacionalista e militarista promovida pelo governo de Vladimir Putin, especialmente após a escalada da guerra na Ucrânia.

3.8.4.5 Detalhes sobre a Introdução da Instrução Militar no Ensino Médio

Objetivo é o de preparar os jovens de idades compreendidas entre os 15 e os 17 anos, para o serviço militar, desenvolvendo habilidades de defesa e promovendo valores de patriotismo e disciplina. Têm como propósito aumentar o envolvimento dos cidadãos no serviço militar e na defesa nacional, num momento em que a Rússia prevê o envolvimento em confronto prolongado com o Ocidente.

Conteúdo do Currículo

O programa inclui:

• Treino básico militar: Uso de armas, táticas de combate e estratégias de defesa.

• História militar e patriótica: Reforça a narrativa de que a Rússia se encontra sempre em situação de defesa de sua soberania contra inimigos externos.

• Prevenção de ameaças: O treino inclui a preparação para situações de emergência e defesa civil, com exercícios práticos sobre como agir em tempos de guerra ou catástrofes.

• Educação física e capacidade de resistência: Além do treino militar, há um foco no desenvolvimento físico. Os estudantes podem participar de simulações de situações de combate.

Ensino: copiando os métodos da juventude Hitleriana

Do que foi escrito, retém-se um quadro de contornos bem definidos. A Rússia de Putin prepara-se para a guerra e pensa que ela é inevitável.
O Euroasianismo é uma ideologia expansionista que obriga à expansão territorial e ao desmantelamento da atual ordem mundial.
Eis uma tarefa impossível de realizar sem que se verta sangue. Por isso, desde o início do século, que Putin se vem preparando para o que julga ser a realização do seu destino histórico: Ser o obreiro da desforra contra os vencedores da “guerra fria” e o grande restaurador da grandeza da Rússia.

• Começou por garantir o seu poder pessoal eliminando ou reduzindo à impotência alguns oligarcas desalinhados, fidelizando o restantes.

• Continuou desencorajando possíveis ilusões de separatismos nacionais, arrasando a Chechénia para servisse como exemplo.

• Alterou todo o quadro legal e constitucional de forma a eternizar-se no poder (se assim o desejar)

• Controlou todos os media de forma a que só a informação oficial chegasse ao público ( Absolutamente necessário em caso de guerra)

• Criminalizou os mais pequenos atos de discordância

• Eliminou ou reduziu à impotência todos os possíveis opositores

• Centralizou em a quantidade e a qualidade do poder de que necessitava para tomar qualquer decisão sem qualquer entrave

• Finalmente começou a preparar a juventude Russa para a grande guerra que mudará o mundo.

Sabemos agora, que à volta de uma ideia (Heidegger) se produziu uma construção mental abstrata, (Euroasianismo) que manuseia os instrumentos de que dispõe (A máquina do Estado Russo) que "impiedosamente" fende a seu mando um já velho equilíbrio do nosso mundo.

“Quanto mais distante e autoritário for o governante, mais perto das massas estará e mais estável será o seu governo”
Alexander Dugin.